Capítulo 68
Narrativa de RB
A tela ainda queimava na retina quando apaguei o projetor. Vi cada detalhe mais vez — a bandeja, o pescoço aberto, o sangue que escorria como se fosse aviso escrito em vermelho. Eu não estava lá, mas foi como estivesse. Fiquei do outro lado do mundo, no meu escritório, com a mão no telefone e a ordem na boca. Matei o Pablo com minhas próprias mãos? Sim. Dei a ordem, fechei o nó. O resto veio como resposta. Depois, a coisa maior: o tio do Pablo foi exposto lá na Itália, e o conselho fez justiça. Eu assisti tudo pela transmissão, com um copo de café na mão. Não precisava provar mais nada.
Minha mulher estava sentada na porta do quarto quando voltei. Os olhos dela pareciam olhos de sapo de tão inchados,de tanto que chorou. Ela me olhou como quem busca um culpado e uma salvação ao mesmo tempo. Perguntou se era verdade, se o homem que ela chamava de pai tinha sido arrancado daquele jeito. Respirei fundo e contei o que sabia: o sobrinho já estava morto antes