CAPÍTULO 41
Narrativa do RB
A calmaria nunca me enganou. Eu sabia que, depois do fogo cruzado, sempre vinha esse silêncio estranho, pesado, como se o morro estivesse prendendo a respiração. E, no fundo, eu também prendia a minha.
Lavínia, com aquele brilho de mãe que carregava no olhar, acreditava no futuro que a gente tava construindo. Eu também acreditava, mas não conseguia largar a desconfiança. Quem nasce e cresce no meio da guerra aprende cedo: paz demais é aviso de que a tormenta já tá a caminho.
De uns dias pra cá, comecei a reparar nos rostos novos andando pelas vielas. Gente que dizia ser parente de alguém, amigo de infância de outro, vizinho de fulano lá do passado. Sempre com uma desculpa pronta. Mas o olhar... o olhar entregava. Tinha malícia escondida. Tinha cálculo.
— RB, cê tá encanado demais — disse o Nego Drama, um dos meus mais leais. — O povo tá vindo porque sabe que aqui tem proteção.
Olhei bem pra ele, com a mão apoiada no fuzil. — Proteção demais tamb