"Apenas depois do jantar, mocinho," Blair intervém com um tom doce, mas firme.
Ela não precisa levantar a voz para ser ouvida; a autoridade dela está no amor, no cuidado evidente em cada palavra.
Miguel revira os olhos de brincadeira e ri, mas não responde. Ele sabe que ela está falando sério.
E então, pela primeira vez, uma pontada amarga me atravessa. É sutil, mas inescapável. Porque naquele momento, percebo algo que me deixa triste: Blair conhece Miguel. Não só como alguém que está presente, mas com uma profundidade que só o tempo pode construir.
Ela sabe que ele comeria os biscoitos antes do jantar, como um reflexo do menino que é, impaciente e curioso. Ela conhece seus hábitos, suas manias, seus jeitos — coisas que eu não conheço.
Ela sabe porque esteve lá.
Esteve presente quando ele começou a andar, a falar, a mostrar suas primeiras preferências. Ela viu as pequenas vitórias e os pequenos tropeços que moldaram quem ele é hoje.
E eu... Eu não.
Não estava lá.
Não vi Miguel