POV Isabela Costa
Cheguei em casa com o gosto amargo do vinho ainda preso na garganta. O jantar tinha sido exatamente o que eu esperava: uma encenação maquiada de elegância, recheada de ameaças servidas em pratos fundos.
Celso não precisou levantar a voz. Ele não funciona assim. Ele manipula o ambiente como quem rege uma orquestra: pequenos gestos, frases calculadas, cortes sutis. Ninguém à mesa se atreveu a desafiá-lo. Eu fui a exceção disfarçada de cordialidade, mas com cada sorriso meu carregando um "eu sei".
Assim que entrei na mansão, tirei os sapatos no hall, como quem deixa armamento na porta de casa. O silêncio reinava. Nenhum sinal de Daniel. Nenhum som no andar de cima. Apenas a leve vibração da geladeira e o eco dos meus próprios pensamentos. Subi devagar. Não havia pressa. O confronto viria de qualquer forma.
No corredor, vi a luz do escritório acesa. Respirei fundo, ajeitei o cabelo e bati levemente na porta antes de entrar. Ele estava lá, sentado, com o paletó jo