MEU CEO É UM MAFIOSO
MEU CEO É UM MAFIOSO
Por: Cristina Rocha
Capítulo 01 - 01

Violleta

Estou dando uma última olhada pela janela do meu quarto. Posso avistar algumas adolescentes a conversar no banco do pátio. Diversas vezes me sentei no mesmo, somente para ter meu momento de silêncio com um bom livro nas mãos. Por ter um jeito mais reservado, sempre encontrei dificuldade em me socializar com as pessoas. Tinha medo de dizer ou fazer algo que pudesse me levar às broncas, brigas ou castigos aqui dentro do orfanato.

Sim. Vivi meus dezoito anos nesse local com paredes escuras, guardada a sete chaves. Nunca pude ir para o lado de fora desses muros e tampouco houve alguma oportunidade para tal ato, como uma curiosidade ou até escapatória. A vigilância sempre foi meticulosa pelas funcionárias e superiores, todas do sexo feminino. De modo algum estive perto de uma presença masculina, sequer imagino a textura da pele ou a fragrância de um perfume diferenciado. Mas idealizo, como todas nós no orfanato, encontrar uma pessoa especial, um amor verdadeiro para a vida inteira que me apresente um mundo novo fora desses muros.

Solto um suspiro ao mirar pela vidraça sentindo o vento frio percorrer meu rosto, me arrepiando. Observo um pássaro distante; alegro-me, pois em minutos estarei livre como ele. A diferença entre nós é que o animalzinho não tem ansiedade ou expectativas de vida, já eu, estou totalmente nervosa pelo que me aguarda além desse casarão velho.

Independentemente do que vier, estou feliz. Esperança é tudo que me alimenta para essa nova etapa de minha existência.

Afasto-me do batente, pegando meu último pertence em cima da cama e guardando em minha pequena maleta com pouquíssimas roupas. Não podia deixar para trás minha única lembrança, a de que um dia tive uma família, que um dia pertenci a algum lugar, que talvez tenha sido querida, ou mesmo indesejada. Nunca saberei ao certo. 

Soube pela minha tutora do orfanato, que o homem que me entregou neste local se parecia muito comigo, ao menos lembrava-a como estou atualmente. Talvez fosse um parente — um pai, tio ou irmão mais velho —, o único resquício que tenho é essa manta cor-de-rosa com as letras “II” na extremidade. Podem ser as iniciais de dois nomes, um sobrenome, talvez! Eu sabia que meu sobrenome não era meu realmente, o orfanato dava aos bebês um único nome na falta de documentação, logo, assim como dezenas de crianças naquele lugar, eu era Violleta “Santi”. Um membro de uma família invisível formada por crianças que nunca tiveram direito a um nome, a uma herança de sangue.

Pergunto-me o que levou a essa pessoa a me abandonar em definitivo? Por que não me quiserem? Por que não me cuidaram como uma família normalmente faria? 

Sempre senti falta de carinho, atenção e amor. Cresci como uma jovem insegura, carente e medrosa. Talvez pelos traumas que carrego pelo esquecimento de uma família que nunca me buscou ou quis saber de mim.

Porém a partir de hoje tudo isso vai mudar! Viverei uma vida de que fui privada, totalmente liberta, sem limites para meus sonhos com uma nova casa. Fecho o zíper da mala, dando uma última olhada no quarto que foi meu confinamento determinada a não pensar mais nele um dia sequer dali para frente.

— Arrumou tudo, querida? — Viro-me olhando para a senhora Dolores, que parecia ser a única que sentia uma simpatia por mim nesse asilo de crianças e jovens moças.

— Sim. Estou pronta. — Suspiro apreensiva.

Observo-a se aproximar com sua roupa desgastada e cabelo oleoso por trabalhar a anos na cozinha. Ela estende a mão me entregando uma bolsinha. Pego-a abrindo, ficando boquiaberta com o que vejo dentro.

— Meu Deus. Não posso aceitar. — Fecho e lhe entrego, mas sou interrompida no percurso.

— Por favor, Violleta. Aceite minhas economias, você está indo para um mundo novo e precisará estar preparada. — Sem perceber deixo lágrimas caírem. Ela sempre demonstrou ser muito carinhosa comigo, sempre fui sua protegida quando outras jovens vinham me bater ou caçoar. — Eu tenho uma casa e um emprego, e a vida lá fora não é nada fácil. Não é muito, mas te ajudará a se manter, até arrumar um trabalho na área qual fez seu curso de secretariado no ano passado.

— Tem certeza de que não te fará falta? — Estou constrangida com seu ato de bondade. Não quero atrapalhar ou prejudicar ninguém.


Ela segura minhas mãos que ficam unidas com as suas. 

— Tenho. Economize o máximo que puder e busque algum imóvel no centro, onde se têm as melhores chances para um bom emprego. — Aceno com a cabeça. — Tome cuidado com homens aproveitadores, você é muito inocente ainda, Violleta. E sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida.

— Um dia, eu vou te recompensar por isso. Eu prometo — digo, mesmo sem saber o que o futuro me reserva.

— Viva bem, Violleta — diz a mulher com comoção em seus olhos cansados. — E nunca mais pense neste lugar.

Escuto atentamente seus conselhos e me despeço com um abraço e beijo terno em seu rosto rechonchudo, sem antes, receber também um lanche para a viagem. Não tenho palavras para expressar toda a minha gratidão. Eu certamente não pensaria mais naquele orfanato, não o visitaria nem passaria perto dele, mas nunca esqueceria aquela senhora e minha dívida para com ela.

Consegui chegar ao centro da cidade com sorte e um pouco de ajuda. Pensei que me perderia no percurso, porém foi bem mais fácil que previ. Bastou somente uma orientação da senhora que estava comigo no ponto de ônibus para descer em uma das ruas mais movimentadas. Confesso me senti um peixe fora d’água com esse tumultuado fluxo de pessoas, maioria vestidas de social, bem apresentadas. Sinto-me envergonhada com meu simples vestido floral soltinho até os joelhos e as sapatilhas desgastadas. 

De esquina observo uma banca de jornal e me aproximo para pedir mais informações.

— Boa tarde! O senhor poderia me ajudar? — Encaro um homem acima do peso, nos seus quase quarenta anos, bebendo seu refrigerante diet, em cima de um banquinho que quase nem cabe seu traseiro.

— O que quer, garota?

— Estou meio desorientada. Poderia me indicar um local barato pela região para que possa me acomodar? Um hotel, uma pensão, talvez.

— Isso depende. Vai comprar algo na minha banca?

Nossa! Essa é minha primeira experiência na rua de que realmente ninguém faz algo de graça para outra pessoa, tudo em base de troca de favores, nada diferente do que via no orfanato. Por um instante quis que a cidade fosse composta apenas por senhorinhas solícitas como a que encontrei no ônibus, mas como preciso dessa informação, separo alguns trocados para comprar algo de sua banca, bem empoeirada por sinal.

Olho à minha volta e vejo alguns jornais.

— Vou querer um periódico de empregos.

O homem bufa percebendo que não conseguirá uma boa venda comigo. Após me entregar o jornal e eu pagar por ele, aguardo pacientemente sua resposta sobre minha pergunta. Levo um susto quando sinto seu toque inesperado em minha mão, pegando-a e acariciando de um jeito nojento. Senti repulsa na hora. Encaro seus olhos para suas explicações.

— O que uma moça tão bonita faz sozinha numa cidade grande? Se quiser posso te levar para minha casa, bem na minha cama. O que acha?

— Quero que responda minha pergunta — digo enfática.

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