Sarah cresceu em um orfanato, sem conhecer o amor dos pais, mas cercada pelo carinho de seus amigos. Entre eles, Nicholas sempre foi seu porto seguro. Abandonado pela mãe aos seis anos, ele encontrou em Sarah mais do que amizade—ela foi seu primeiro e único amor. Juntos, viveram um romance intenso e inocente, mas a felicidade durou pouco. Separados por segredos sombrios e mentiras devastadoras, cada um seguiu caminhos distintos, sem olhar para trás. Anos depois, o destino os coloca frente a frente novamente, trazendo à tona verdades enterradas e uma revelação chocante que pode mudar tudo. Agora, Sarah precisa decidir se o amor que um dia compartilharam pode superar os obstáculos que o destino impôs. Será que algumas feridas são profundas demais para cicatrizar? Ou o verdadeiro amor sempre encontra um caminho?
Leer másCapítulo 1
SARAH Fui abandonada logo após nascer, sem jamais ter conhecido meus pais biológicos. Até hoje, não sei o motivo pelo qual minha mãe me deixou. Ela simplesmente desapareceu, me deixando à mercê do destino. O que leva uma mãe a abandonar o próprio filho? Essa pergunta ecoa na minha mente diariamente, mas até agora, nunca encontrei respostas. Cresci no orfanato Santa Marta, em Campo Grande, Recife. As tias sempre disseram que fui deixada na porta, ainda recém-nascida, enrolada em um cobertor velho. Esse orfanato é o único lar que conheço. Não tenho irmãos, tios, primos ou qualquer outro laço sanguíneo. Minha única família são as outras crianças que, como eu, aguardam pelo dia em que alguém aparecerá para nos levar para casa. Mas esse dia nunca chegou para mim. Aqui dentro, a vida nunca foi fácil. Algumas tias são boas, outras, nem tanto. Já fui maltratada, ignorada e até mesmo agredida sem motivo. Algumas vezes, fiquei sem comer por castigo. Quando era mais nova, não entendia por que algumas delas pareciam me odiar tanto. Hoje, compreendo que há pessoas que simplesmente carregam maldade no coração e escolhem despejá-la nos mais fracos. A pior de todas ainda está aqui. Ela nunca se foi. Se pudesse, já teria me expulsado. Sinto isso em seu olhar, em sua voz fria quando se dirige a mim. Mas o que mais me assusta não é o desprezo dela, e sim os segredos que tento ignorar. Uma vez, escondida atrás de uma porta, vi essa mesma tia recebendo dinheiro de um casal. Minutos depois, eles saíram com uma criança nos braços. Fiquei paralisada, incapaz de processar o que havia acontecido. Seria apenas uma doação? Ou aquilo era algo mais? Nunca falei sobre isso com ninguém. Nem mesmo com meu melhor amigo. Algo me diz que saber demais nesse lugar pode ser perigoso. O tempo passou, e uma verdade cruel se tornou evidente: quando casais vêm ao orfanato em busca de uma criança, eles sempre escolhem as mesmas. Meninas de olhos claros, pele clara, cabelos sedosos. E eu? Sou sempre ignorada. — Oxe, gente preconceituosa só atrapalha! — murmuro, irritada. A maldade no mundo é alimentada pelo preconceito racial, e dentro dessas paredes não é diferente. Se minha pele fosse mais clara, será que eu já teria sido escolhida? Será que teria uma casa, uma família, alguém para chamar de "mãe"? Dói pensar nisso. Dói saber que algo tão superficial como a cor da minha pele define o meu destino. Ainda assim, me agarro à única coisa que pode me levar para longe desse lugar: os estudos. Aqui, temos uma escola improvisada dentro do próprio orfanato. Os professores são dedicados e fazem o possível para nos oferecer um futuro, mesmo sabendo que poucos de nós terão a chance de alcançá-lo. A professora Fabiana é minha favorita. Ela não apenas ensina, mas também nos trata com respeito, como se fôssemos importantes. Ela me inspira a continuar, a sonhar, mesmo quando tudo parece perdido. — Você tem um futuro brilhante, Sarah — ela sempre me diz. — Não deixe ninguém convencê-la do contrário. Eu quero acreditar nela. Quero acreditar que um dia poderei sair daqui e construir uma vida para mim. Mas, no fundo, uma voz me assombra, sussurrando que o mundo lá fora não é tão diferente daqui dentro. E se ninguém nunca me quiser? E se eu estiver condenada a ser invisível para sempre? Os dentistas e médicos que nos atendem aqui são voluntários, e acredito que fazem parte de uma ONG. Sempre me pergunto o que realmente significa ser parte de uma organização como essa. Se mais pessoas fossem altruístas como os voluntários que nos ajudam, o mundo seria um lugar mais justo e humano. Mas a realidade fora dessas paredes não é tão generosa. Agradeço a Deus por ter despertado em mim essa paixão pelos estudos. Sonho em um dia ingressar na universidade e conseguir um bom emprego, algo que me traga satisfação e orgulho. Sei que o conhecimento pode abrir portas que, de outra forma, permaneceriam fechadas para alguém como eu. Neste orfanato, apesar de todas as dificuldades, temos o básico para sobreviver: abrigo, educação e um mínimo de apoio. Sem isso, não sei onde estaríamos. Talvez nas ruas, enfrentando uma realidade ainda mais cruel. Ou pior, talvez nem estivéssemos vivos para contar nossas histórias. Ouço relatos terríveis sobre crianças que vivem nas ruas, sendo exploradas, passando fome e frio. Em meio a essa realidade, deveria me sentir sortuda por estar protegida aqui. Mas segurança não significa felicidade. O que mais me dói não é a fome ou o medo do futuro. É a solidão. As outras meninas me evitam. Elas formam grupos e me excluem como se eu fosse invisível. Algumas são mais velhas, outras mais novas, mas todas parecem compartilhar um pensamento: eu sou diferente delas. Até aquelas que têm a pele escura, como a minha, me olham com desprezo. Como se, de alguma forma, minha presença incomodasse. Como se eu fosse um erro. O que há de tão errado comigo? Ser rejeitada sem motivo me faz questionar quem eu sou. Será que minha cor de pele me torna menos digna de amizade? Será que sou tão diferente assim? A resposta parece ser óbvia para elas, mas para mim, é um enigma doloroso. Apesar disso, há uma amizade que me mantém firme. E sei que ela é recíproca. Talvez seja esse laço que desperta a inveja e a raiva das outras. Ele. Meu melhor amigo. Meu refúgio. Meu porto seguro. Ele tem a pele clara e olhos azuis que parecem enxergar além do que mostro ao mundo. Chegou ao orfanato quando tinha seis anos. Achei que ele seria adotado rapidamente. Afinal, crianças como ele costumam ser as primeiras a serem escolhidas. Mas, por algum motivo, ele continua aqui. Assim como eu. Já se passaram dezesseis anos desde que fui deixada neste lugar. O tempo está passando rápido demais, e um pensamento me atormenta: o que será de mim quando chegar aos dezoito? Para onde irei? A ideia de ser expulsa do abrigo me aterroriza. Quando atingimos a maioridade, somos obrigados a partir. Alguns vão para instituições temporárias, mas a maioria simplesmente some no mundo. Eu não quero perder meu amigo. E, mais do que isso, não quero perdê-lo para um destino incerto. Ele sempre esteve ao meu lado. Sempre me protegeu. E mesmo sendo mais reservado, seu carinho transborda em pequenos gestos. — Olá, minha linda! Como você está? Sempre que ele me chama assim, sinto meu coração acelerar. "Linda". Eu não estou acostumada a ouvir palavras gentis dirigidas a mim. Mas quando vêm dele, soam diferentes. Me aquecem por dentro. Ele é magro, usa óculos de lentes grossas e já foi alvo de provocações cruéis. As crianças o chamavam de "extraterrestre", zombavam de sua aparência. No passado, ele chorava por isso. Hoje, apenas ignora. Mas eu vejo. Vejo a dor por trás do silêncio. Vejo que, apesar da aparência frágil, ele carrega uma força que poucos percebem. E é essa força que me mantém de pé. Porque, no fundo, sei que ele é a única pessoa que realmente me vê. E se um dia ele for embora… o que restará de mim? Para mim, sua aparência nunca foi um problema. Enquanto as outras meninas o ignoram, eu o vejo como o mais bonito de todos. Seu cabelo bagunçado, os óculos de lentes grossas que escorregam pelo nariz e aqueles olhos azuis que sempre me observam com atenção... Para mim, ele é lindo, com seus óculos e tudo. Mas mais do que isso, ele é a única pessoa que nunca me olhou com desprezo. Nicholas nunca me tratou diferente por causa da cor da minha pele. Nunca hesitou em segurar minha mão, em me defender, em me chamar pelos apelidos carinhosos que sempre me aquecem o peito. Ele é diferente de todos aqui, dos que me insultam, dos que dizem que meu futuro será sombrio apenas por eu ser quem sou. Sei que já passei da idade para ser adotada. Essa ilusão morreu há muito tempo. Mas ainda assim, mantenho a esperança de construir uma vida fora daqui. De fugir para algum lugar onde eu possa ser apenas Sarah, sem precisar provar meu valor a cada olhar de julgamento. Enquanto eu tiver o apoio do meu amigo, sinto que sou capaz de enfrentar qualquer desafio. Mas por quanto tempo ele ainda estará aqui? O tempo está contra nós. A cada dia, ficamos mais velhos, e quando completarmos dezoito anos, seremos descartados desse lugar, como se nunca tivéssemos existido. Eu sei disso. Já vi acontecer com outros antes. Eles saíram com uma mochila nas costas e nenhuma certeza do amanhã. O futuro é uma sombra que me assusta. Nicholas também será jogado para fora. E se ele for embora antes de mim? E se eu ficar sozinha? — No que essa cabecinha tanto pensa que nem me responde? — a voz de Nicholas me tira dos pensamentos. — Está tudo bem com você? Eu pisco algumas vezes, voltando para a realidade. Ele está ao meu lado, como sempre esteve. Mas até quando? — Desculpa, Nicholas — murmuro. — Estava apenas refletindo sobre coisas banais, nada importante. Ele me observa por alguns segundos, e eu percebo a preocupação em seu olhar. Talvez eu devesse guardar o que sinto. Talvez fosse mais seguro manter minhas emoções trancadas, mas nunca consegui. Não com ele. — Você é tão gentil comigo… Eu te amo, Nicholas. As palavras escapam antes que eu possa contê-las. — Você é verdadeiramente único. A única pessoa que se preocupa comigo. Não consigo imaginar minha vida sem você. Minha voz vacila, e minha garganta se aperta. O medo de perdê-lo é maior do que eu consigo expressar. — Sinto tanto medo de te perder, de você partir e me abandonar. Não sei como vou lidar com sua ausência. O silêncio dele pesa como uma tempestade prestes a desabar. Ele me olha, mas não responde. Seu desconforto é evidente. Será que falei demais? Será que o assustei? Meu coração martela no peito enquanto espero por uma reação, qualquer coisa que me mostre que ele entende. Mas tudo que recebo é um olhar carregado de algo que não consigo decifrar. E então, percebo o inevitável: talvez ele não sinta o mesmo. Talvez eu esteja prestes a perder a única pessoa que me faz sentir que pertenço a algum lugar.SARAH Desde que nosso bebê nasceu, o desejo entre nós nunca diminuiu. Cada olhar, cada toque, despertam em mim uma necessidade imensa de estar com ele.— Você é tão maravilhosa, sabia? — Ele murmura, a voz carregada de desejo, enquanto seus olhos brilham com intensidade. — Eu te amo tanto, minha linda. Só de te beijar, já fico perdido.Em um movimento ágil, ele remove minhas roupas e rasga minha calcinha, deixando-me tomada pelo desejo. Observo seu membro à minha frente, ereto, com a ponta rosada e coberta de pré-gozo. Minha boca se enche de saliva enquanto me ajoelho, sem tirar os olhos dele.Com cuidado, seguro seu membro, começando a acariciá-lo e beijá-lo, sentindo o calor em minhas mãos. Logo o levo à boca, sugando-o profundamente, indo até onde consigo. Quero engoli-lo por completo, mas ele é grosso e volumoso, ainda assim persisto até me engasgar. Lágrimas escorrem dos meus olhos, mas não paro. O desejo é intenso demais.— Que boca deliciosa — ele diz, gemendo. — Se você conti
SARAHA felicidade que eu sentia no início da manhã parece agora uma memória distante, distorcida pela tempestade de emoções que está prestes a me consumir. Eu estou em casa, cercada por todos que amo, mas um peso inexplicável aperta meu peito. Nicholas está ao meu lado, como sempre, mas há algo estranho em sua atitude. Algo que ele tenta esconder de mim, mas que se torna cada vez mais evidente.Estou quase completando nove meses de gravidez, e, com isso, a pressão de uma vida nova prestes a começar se mistura com a tensão de um passado não resolvido. Estamos prestes a nos casar logo após o nascimento do nosso filho, um sonho que parece perfeito. Mas, por trás dos sorrisos e dos planos para o futuro, a pergunta que me consome é: o que realmente aconteceu enquanto estivemos separados?Nicholas, meu amado, está distante. Ele me nega até mesmo o direito de atender uma ligação quando estamos em casa. Ele não me deixa saber sobre o que está acontecendo, e Emma, sempre tão aberta comigo, se
SARAH Ele chorava, e meu coração se apertava ainda mais. Ver aquele homem tão forte, tão imponente, desmoronando diante de mim era insuportável. Ele, o homem que eu amo com todo o meu ser, estava quebrado, e isso me despedaçava.— Acidente? Como assim? Por que ninguém me contou nada? — minha voz falhou, tomada pela angústia.— Eu pedi para não te contarem. Não queria que você me visse assim, tão... frágil. Não posso te explicar tudo agora, por favor, só acredite em mim. O que mais desejo é que você e nosso bebê fiquem bem. Me perdoa por tudo, meu amor. Eu te amo tanto e não posso mais ficar longe de vocês.As palavras dele cortavam minha alma. Por que eu tenho que sentir tanto amor por esse homem? Meu peito estava apertado, dividido entre o amor que ainda sentia e as cicatrizes de tudo o que ele me fez passar. Mas, por mais que tentasse resistir, não conseguia afastá-lo de mim. Era mais forte que eu.Decidi então, sem mais resistência, seguir o que meu coração pedisse. Não mais me pr
SARAHEstava deitada, absorta em meus pensamentos, quando ouvi a voz suave de minha filha, conversando com alguém do lado de fora. Curiosa, me levantei e, sem saber o que esperar, abri a porta. O choque foi imediato: lá estava ele, parado na minha frente. A visão de Nicholas, com seu olhar intenso e os traços marcados pela preocupação, fez meu coração disparar.Por um momento, senti uma onda de raiva misturada com um desejo irracional de confrontá-lo. Como ele ousava aparecer agora, depois de meses sumido? Ele parecia tão diferente, como se o tempo tivesse sido cruel com ele. Ele parecia, de fato, sentir algo. Mas e eu? Eu sentia raiva, dor, e uma saudade que eu não podia controlar.Nicholas olhou para minha barriga, seus olhos brilhando com uma mistura de surpresa e algo mais profundo. E, sem mais nem menos, ele soltou: “Você está esperando um filho meu.”O que ele queria dizer com isso? Será que ele duvidava que o bebê fosse dele? Aquelas palavras ressoaram como um tapa na minha a
SARAH Neste momento, meu celular começa a tocar, interrompendo meus devaneios. Ao ver o nome de Emma na tela, uma mistura de sentimentos surge em meu peito. Atendo com um sorriso forçado, tentando esconder a ansiedade que me consome.— Oi, cunhada. Como você está? Está tudo bem com você e com meu sobrinho? Estou ligando para avisar que estarei a caminho de visitá-los na próxima semana. Sinto tanta falta de você e da minha sobrinha — Emma diz assim que atendo, com sua voz doce, mas cheia de um tom que eu não sei identificar.— Que alegria, Emma! Sinto falta de você também. É sempre um prazer te receber — respondo, tentando manter a conversa leve, mas uma sensação de vazio começa a me envolver. A casa, que antes era um refúgio de risadas e conversas, agora parece um cenário silencioso e vazio, e eu não sei lidar com isso. — Apesar de estar cercada de amigas, muitas vezes me sinto sozinha. A Michelle e a Fernanda estão ocupadas cuidando da menina que adotaram, então mal as vejo. Esta ca
SARAHA casa é linda. Enorme. Um presente do meu sogro, nas proximidades da costa. O lugar é encantador, mas tudo o que vejo quando olho pela janela é a imensidão do mar, que só me lembra o vazio que Nicholas deixou em mim. Eu me permiti acreditar que seria um novo começo, mas ao invés disso, estou presa em um lugar luxuoso e solitário, como uma prisão dourada. Minha filha, Emma e até meu sogro tentaram me convencer a ficar, mas cada pedaço dessa casa me faz sentir a ausência de Nicholas mais forte do que nunca. Sinto que o oceano é mais acolhedor do que as paredes dessa mansão.Já faz meses que estou aqui, e Nicholas ainda não me procurou. Nem uma palavra, nem uma mensagem, nada. A dor de ser ignorada é pior do que qualquer palavra amarga. Eu, que sempre acreditei no nosso amor, agora me vejo sozinha, carregando não só o peso da minha solidão, mas também o peso de uma gravidez que, ao mesmo tempo, me traz alegria e me arrasta para uma tristeza profunda. Estou esperando um bebê. Um fi
Último capítulo