No mesmo quarto

Jon desceu as escadas até a sala de jantar. Loise, a empregada, já o aguardava.

— Senhor, o jantar está pronto! Deseja que eu o sirva? — Sua voz melodiosa não lhe incomodava, visto que ele não lhe prestava nenhuma atenção.

Ele a encarou. Estava com um conjunto bem apertado, que deixava à mostra boa parte da pele sob o avental mediano.

"Não entendo por que ainda a tenho como empregada nesta casa. Minha mãe sequer mora aqui mesmo."

— Coloque mais um lugar à mesa! Tenho uma convidada! — ordenou.

Os olhos da mulher percorreram o ambiente sem disfarçar a curiosidade.

— A esta hora da noite, senhor? E com essa chuva? Quem poderia ser? — a voz dela tremeu.

Jon suspirou, chateado. A mão direita passou pelo semblante em resposta. Logo, Loise fez uma breve reverência e se retirou sem mais perguntas.

"Preciso ter mais cautela... Se alguém souber desse contrato, estarei em apuros."

Estava sentado na sala de estar quando Elara desceu, vestindo uma de suas camisas brancas de mangas 3/4. A peça lhe caía como um lindo vestido. Ela ainda havia improvisado um cinto com uma de suas gravatas xadrez.

A sandália rasteira era gasta, assim como as roupas que ele mesmo havia jogado fora. Mesmo com tantas controvérsias, a beleza dela ainda se impunha — visível, autêntica, impossível de ignorar.

O rosto delicado trazia as maçãs elevadas, os lábios carnudos e rosados; os olhos, castanhos claros, tinham um brilho suave que contrastava com os longos cabelos escuros em cascata.

"Só agora me dei conta de que ela realmente é atraente."

Jon sorriu, sentindo o gosto da própria vitória.

Elara já havia descido todos os degraus até ele.

— Usei seu pente de cabelo... espero que não se importe! — disse, tímida.

Os fios ainda estavam molhados, mas já não eram o emaranhado de antes.

— Tudo bem! Mas... por que não secou os cabelos também? — o tom dele era leve.

Elara apertava os dedos uns nos outros, à frente do corpo, em puro nervosismo. Evitava os olhos dele a todo instante.

— Eu... não encontrei o secador. — A voz saiu baixa, desconfortável sob o olhar atento de Jon.

— Não tem importância. Assim que terminarmos, eu te ajudo. — A frase veio carregada de um tom quase imperceptível de malícia.

Ela engoliu em seco, acompanhando-o com hesitação.

— Sente-se aqui. — Ele apontou a cadeira ao seu lado.

Elara acomodou-se, sentindo o olhar de Loise cravado nela.

"Por que ela está me encarando assim?"

— Sirva-nos, Loise, por favor. — A voz grave de Jon a despertou de seus pensamentos.

A empregada obedeceu, mas seu coração estava cheio de rancor.

"Quem diabos é essa? Será que a senhorita Bianca sabe dessa destruidora de lares?"

Terminou de servir e se afastou, pegando o celular discretamente do bolso do avental discou um número, com os olhos fixos em Elara.

— A senhorita precisa vir o quanto antes, caso contrário, o senhor vai colocar outra em seu lugar! — disse num sussurro tenso.

Do outro lado, a mulher respondeu sem hesitar:

— Amanhã estarei de volta!

***

Enquanto isso, Jon foi servindo-se de um pouco de cada porção dos pratos variados diante deles. Elara acompanhava tudo sem pestanejar. Talvez fosse a fome ou mesmo porque ele era bonito demais, principalmente naquele instante.

— Se continuar a me encarar assim no futuro, posso acreditar que realmente sou seu tipo de homem! — disse ele, cortando um pedaço de bife à milanesa antes de entregar o prato com todas as porções para ela.

Elara quase esqueceu-se de que estava olhando diretamente para ele. Tentou disfarçar enquanto se servia de suco de framboesa.

"Recomponha-se, garota. Não ultrapasse as regras que você mesma impôs."

Jon serviu-se, em seguida, apreciando cada porção. Suas mãos eram habilidosas com a faca e o garfo. Elara engoliu em seco várias vezes.

— O senhor não vai me levar para a delegacia, vai? — perguntou ela, quase no fim da refeição.

O silêncio era sufocante. Jon sorriu, deixando faca e garfo de cada lado do prato, pegou o guardanapo e limpou os lábios com suavidade. Os olhos dela jamais o deixaram.

Num gesto inesperado, Jon colocou as mãos sobre as dela e com os olhos mergulhados nos dela, respondeu sem pestanejar:

— Isso é passado! Você agora me pertence! — A voz dele era uma canção sinuosa.

Elara sentiu seu corpo vacilar.

"Estou completamente perdida... Parece que cada vez estou me afundando ainda mais nesta areia movediça."

Jon desfez o gesto.

"Parece que a mocinha está desconfortável. Isso é bom."

Ergueu-se de seu lugar e caminhou até as escadas. De costas para ela, proferiu:

— Não sei se sou bom em usar um secador, mas aposto que isso não será o menor de seus problemas! — Um sorriso torto surgiu em seu rosto.

Mesmo sem vê-lo direito, Elara parecia sentir cada nota de suas palavras.

Jon subiu as escadas com as mãos nos bolsos da calça. Elara apertou o peito, percebendo que estava prestes a submergir lentamente no oceano.

"Não posso cair nas garras deste homem. Não quando estou apenas começando a buscar minha liberdade."

Suas mãos caíram ao lado do corpo. Encarou em volta, e percebendo que não tinha escolha resolveu enfrentar Jon mais uma vez naquele dia.

"Vamos à guerra."

Deixou seu lugar na mesa e subiu as escadas que levavam ao quarto de Jon. Suas mãos tremiam ao girar a maçaneta.

Para seu alívio, Jon não estava no quarto.

"Que ótimo, ele não está aqui. Ao menos posso descansar um pouco."

Estava prestes a chegar à cama, quando ele entrou, usando um conjunto de camisa e calça longa em azul egípcio, que realçaram ainda mais sua beleza. As vestes pareciam coladas em seu físico.

Elara deu as costas a ele no instante em que seus olhos prenderam-se no peito nu, devido a alguns botões abertos próximos à gola.

Sem saber como reagir, ela tentou afastar-se dele. Mas, para seu azar, suas pernas pareceram virar geleia, então seu corpo cedeu prestes a cair — até que Jon a sustentou firme em seus braços.

Ele girou o corpo dela com cuidado, de modo que as mãos dele ficaram presas às suas numa sincronia perfeita.

— Você não parece muito bem, Elara!

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