Respirei fundo e concentrei toda a minha atenção nele, expulsando os pensamentos que tentavam me sabotar. Não queria que ele percebesse minha hesitação.
Ele me deixou aproximar, e aos poucos o ambiente pareceu se encher apenas do som da nossa respiração. Cada movimento, cada toque, fazia o ar ficar mais denso, até que o controle escapou das minhas mãos. Quando percebi, já não pensava mais em regras ou limites. Ele me dominava por completo, o corpo, a mente, o fôlego. Era bruto, impiedoso, e justamente por isso eu sentia um misto de medo e desejo que me consumia por dentro. Era muito mais intenso do que o prazer que senti da primeira vez. Consegui até me proteger com um travesseiro a tempo. Minhas mãos já não obedeciam mais, e as pernas literalmente tremiam. Quanto à razão… nem sei. Ela simplesmente evaporou, como se tivesse voado para o espaço, entre estrelas e galáxias distantes. Aos poucos comecei a me recompor. Meus pensamentos se juntavam, gota a gota, formando uma pequena poça que começou a tomar a forma do meu corpo. Juntei forças, tentei me virar e só então percebi que o homem não estava mais no quarto. Pelo menos, até que o som da água vindo do banheiro me lembrou da sua presença. Logo ele apareceu, rápido, dirigindo-se para pegar suas roupas. — Posso pelo menos saber seu nome? — perguntei, já sem muita esperança. E, para minha surpresa, ele respondeu: — Cristian. Foi tudo o que disse. Vestiu-se em silêncio e com rapidez, e eu queria poder parar o tempo, ou melhor ainda, congelá-lo. Estúpida, estúpida Isabele. Humilhada, esmagada, embora tivesse ganhado algumas centenas de milhares, e ainda assim, tudo em que conseguia pensar era no nome dele. Um nome que, sozinho, não dizia nada. Cristian. Meu Deus, só naquela cidade devia ter milhares de pessoas com esse nome… E eu tive a sorte de me apaixonar por alguém com o nome mais comum do mundo. Bateram na porta. Pediram que eu me apressasse. Eu quase tinha esquecido que ainda estava deitada na cama do hotel. Cristian já tinha saído há algum tempo, e eu nem encontrei forças para tomar banho. Eu só precisava de um empurrão para voltar à realidade, pegar meu dinheiro e ir para casa. Trancar a porta e tentar não pensar mais nele. Só restava decidir o que fazer com a quantia que tinha recebido. Novamente um cheque. Mas dessa vez o valor era menor: duzentos e quinze mil. Não era pouco. Só faltava decidir onde guardar. — Obrigada — disse, timidamente sorrindo para o mesmo rapaz que me entregara o envelope da última vez, assinando rapidamente algo como um recibo. Para minha surpresa, ele sorriu de volta. Eu já pensava que ele não sabia sorrir, depois da outra vez. Despedi-me e saí do hotel. Um carro já me esperava na entrada, mas fiquei paralisada, indecisa. Não queria sair dirigindo pela cidade. Não queria ir a lugar nenhum. Só queria caminhar, sem rumo, exceto na direção de casa. — Muito obrigada — disse ao motorista, que já havia aberto a porta para mim. — Vou a pé. Sei o caminho. Ele assentiu e fechou a porta suavemente. Fiquei mais alguns segundos esperando ele ir embora, observando ao redor para tentar achar alguma referência, mas não havia nada. — Com licença… — perguntei a um rapaz que passava — você sabe me dizer para que lado fica o centro? — O centro inteiro? — ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Pelo menos uma direção — respondi, um pouco constrangida por não ter dado um endereço exato. — Chegando lá, eu me viro. — Ah, sim — ele girou o corpo, apontando com a mão. — É para lá. Inclusive os ônibus passam naquela avenida. Se quiser, pode esperar, logo deve aparecer um. — Não, obrigada — respondi, firme. — Prefiro ir andando. — Vai ter que caminhar bastante — ele comentou, com um sorriso sugestivo, como se estivesse tentando puxar assunto. — Não tem problema. Tenho tempo de sobra. E era verdade. Agora eu tenho tempo. Meu pai estava melhorando, já não precisava passar noites inteiras ao lado da cama dele no hospital. Bastava visitá-lo uma vez por dia, e isso já o deixava feliz. De repente, ouvi uma voz. A mesma voz baixa e firme que parecia invadir minha alma. Cristian. Eu achava que ele já tinha ido embora. Nem imaginava que ainda estivesse por perto. Meu coração disparou. Olhei em volta, nervosa, procurando um lugar para me esconder. Se ele me visse ali, andando sozinha, poderia pensar que eu estava o seguindo de propósito, e não era verdade. Eu não sabia que ele ainda estava ali, mas como provar isso? Juntei coragem e corri até a esquina. E então, sim, era ele. Estava ao telefone, caminhando em direção a um carro estacionado perto da entrada do hotel. O rosto continuava coberto pela máscara, e isso me impediu de ver seus traços com clareza. Será que ele fazia isso de propósito, para manter o anonimato até o fim, ou simplesmente tinha esquecido de tirá-la? Aproximei-me da parede e me escondi no canto, enquanto o carro dele passava a poucos metros. Consegui vê-lo perfeitamente ao volante. Uma mão segurava o celular, a outra firmava o volante, o olhar fixo na estrada. Difícil que ele me notasse dali. E eu, ali, imóvel, me senti uma completa idiota. Nem tive o cuidado de decorar a placa do carro dele.