Quando ela e Kassiani chegaram ao endereço indicado no bilhete, foi de táxi. O "noivo" nem sequer mandara um carro para buscá-las em casa. Dentro do táxi, Lucie tentava se proteger com as mãos dos olhares luxuriosos do motorista, que, mesmo sem dizer uma palavra, olhava descaradamente pelo retrovisor para o seu decote.
Sabia que isso aconteceria. Afinal, mesmo quando usava roupas discretas, chamava atenção. Às vezes, Lucie tinha a impressão de que havia algo nela — uma espécie de atração inexplicável que ela mesma não entendia. Não se achava tão bonita assim para justificar tanta atenção indesejada. Ao perceber seu desconforto, Kassiani chamou a atenção do motorista: — Por favor, senhor, preste atenção no trânsito! Pare de olhar para o que não é seu e faça seu trabalho! — falou ela, aborrecida. O homem, como se saísse de um transe, voltou a dirigir. No entanto, de vez em quando, ainda lançava olhares indiscretos em direção a Lucie. Ela agradeceu por a viagem não ter sido longa. Ao chegarem, Kassiani xingou o motorista de todas as formas possíveis, fazendo Lucie rir por um breve momento. Mas o riso logo se dissipou quando perceberam que o local escolhido para o "maravilhoso casamento" era o cassino onde tudo havia começado. Elas se entreolharam, chocadas. Sim, mais um absurdo naquela situação surreal. O vestido, o bilhete, a falta de consideração do noivo em não mandar um carro para buscá-la — tudo isso só reforçava a sensação de que ele queria esfregar em seu rosto que ela estava ali porque havia sido "comprada". E que deveria aceitar tudo sem reclamar. No entanto, vindo daquele homem, nada mais a surpreendia. Além disso, seu "casamento" não era nem um pouco convencional. Elas também perceberam que ele havia fechado todo o cassino naquela noite, exclusivamente para a cerimônia. Aquilo revoltava Lucie profundamente. Ao entrar, notou que os convidados ainda não haviam chegado. Ela planejara chegar mais cedo para conhecer o noivo e sua família. No entanto, ao adentrar o local, foram recebidas por uma senhora elegantemente vestida, que as abraçou e disse: — Boa noite, queridas! Sejam bem-vindas! Tanto Kassiani quanto Lucie perceberam o olhar discreto da senhora para o vestido de Lucie. Naquele momento, ela se sentiu ainda pior do que com o taxista. No entanto, a mulher foi discreta e não comentou sobre o vestido. Apenas se apresentou: — Eu sou Dona Laurent, a mãe de Leon. Por um momento, tanto Lucie quanto Kassiani ficaram atônitas, sem saber de quem a senhora estava falando. Foi só quando ela continuou: — Eu não acredito que meu filho fez isso com você! Nem sequer mandou um carro para buscá-la. E eu não entendo o porquê de tudo isso! Ela fez um gesto abrangente, indicando o cassino, demonstrando que realmente não sabia de nada daquela situação absurda. Lucie olhou para Kassiani e percebeu que ambas pensavam a mesma coisa: aquela pobre senhora estava em uma situação ainda pior do que a delas, totalmente alheia à realidade. Isso foi confirmado quando ela continuou: — Eu só soube hoje de manhã que meu filho iria se casar. E eu nem conhecia a noiva! Mas olhe para você! É linda, parece uma fada! Não é à toa que meu filho tenha se apaixonado por você! Naquele momento, Lucie não soube o que dizer. Foi então que a senhora, com um olhar esperançoso, perguntou: — Diga-me, minha filha, mas seja sincera: já posso me considerar uma vovó? Lucie demorou alguns segundos para entender a pergunta. Quando compreendeu, foi inevitável não corar. Kassiani sorriu, achando a situação engraçada. Envergonhada, Lucie respondeu: — Por Deus, não, senhora! Quer dizer... ainda não. Ela respondeu assim para não ver aquele brilho nos olhos da senhora se apagar. De alguma forma, simpatizara com ela. — Que pena! — disse a senhora, desapontada. — Mas então, por que tudo isso? Por que o casamento não será em uma catedral, anunciado para todos? Por que tem de ser escondido? Lucie não soube o que responder. Foi então que ouviu uma voz grave e rouca atrás de si, que a fez arrepiar-se toda. — Porque nós decidimos assim, mamãe. Lucie e eu queríamos um casamento discreto. — **Deus, que voz bonita!** — pensou Lucie. Mas, ao se virar e vê-lo pela primeira vez, percebeu que não estava preparada para aquele encontro. Ficou paralisada. Leon era lindo — não apenas lindo, mas emanava uma aura de poder, como se em seus olhos e gestos estivesse escrito que ele podia ter tudo o que quisesse, na hora e no lugar que desejasse. Com um gesto sensual, ele se aproximou, segurou sua cintura e beijou-a no rosto, bem próximo à boca, dizendo: — Querida, que saudades! Lucie ficou sem reação, sem saber o que dizer. De cabelos escuros, olhos azuis intensos e profundos, e um sorriso diabólicamente sedutor, assim era Leon. Ao notar sua reação, ele sorriu maliciosamente e sussurrou perto de seu rosto, de forma que sua mãe também pudesse ouvir: — Você é viciante. Fiquei sem te ver por apenas algumas horas e já estava morrendo de saudades. Lucie encarava aquele completo desconhecido, sem palavras. Ele, ainda segurando sua mão, virou-se para Kassiani e disse: — Boa noite, Kassiani. Tanto Lucie quanto Kassiani ficaram surpresas por ele saber o nome da governanta. Gaguejando, Kassiani respondeu com o único sobrenome que conhecia dele: — Bo... boa noite, Senhor Durand! Foi a mãe de Leon quem quebrou o encantamento daquele olhar sedutor sobre Lucie, ao dizer: — Ora, Leon, você não deveria ver a noiva antes do casamento! Ele ainda olhava para Lucie, sorrindo ao perceber que ela estava corada e confusa. Então, respondeu à mãe: — Sei, mãe, mas agora já é tarde. Já vi minha bela noiva e o seu vesti... No entanto, Lucie percebeu o olhar de Leon percorrer todo o seu corpo. Naquele momento, sentiu-se totalmente exposta. Mas, diferente do que esperava, Leon franziu a testa e parou de sorrir, como se estivesse furioso. Com o pretexto de querer falar algo a sós com a noiva, ele a segurou pelo braço e a levou para um canto. Encarando-a, falou com voz carregada de irritação: — Sei que não desejava esse casamento, Lucie. No entanto, não precisava demonstrar isso de forma tão escancarada. Além disso, jamais tolerarei que me desafie! Ela, assustada, perguntou: — Do que está falando, Senhor Durand? O que fiz de errado? — E ainda me pergunta? — ele respondeu, com um tom cortante. — Sim, pois não entendo! Até agora, tudo que fiz foi seguir suas ordens! — respondeu Lucie, tentando inutilmente esconder as curvas do corpo com aquele pedaço de tecido. Ele apertou seu cotovelo com mais força e, com um olhar carregado de raiva, disse: — Estou falando desse maldito vestido! Você o usou só para me desafiar, não foi? — Antes que ela pudesse responder, ele continuou: — Se estivéssemos sozinhos, eu o arrancaria do seu corpo! Saiba, Lucie, que jamais tolerarei que minha futura esposa use roupas tão vulgares, que chamem a atenção indevida de outros homens. Como ousa usar algo tão impróprio no seu próprio casamento? Não percebe o quanto está nos expondo? Lucie sentiu um nó se formar em sua garganta. A raiva de Leon era nítido em seu olhar, e ela percebeu que, por trás daquela fachada sedutora, havia um homem controlador e perigoso. Seus olhos azuis, que antes pareciam profundos e misteriosos, agora brilhavam com uma frieza que a fez tremer. — Ele não é apenas o filho de um mafioso — pensou Lucie, com um frio na espinha. — Ele é o próprio demônio como o pai. Kassiani, observando de longe, sentiu o coração apertar. Sabia que Lucie estava entrando em um mundo do qual talvez nunca conseguisse escapar. E, pior, estava fazendo isso sozinha.