Linhas na Areia
Sara estava descalça na cozinha do apartamento às três da manhã, ainda vestida com o uniforme cinza de faxineira, o cheiro de esfregão impregnado na pele. O vestido vermelho de gala jazia amassado sobre a bancada como um pássaro morto. Ela segurava um marcador preto e uma única folha de papel branca.
Escreveu rápido, em letras grandes:
Mantenho meu emprego no hotel, visito minha mãe todos os dias, nada de fotos públicas, nada de joias, escolho minhas próprias roupas.
Sublinhou a última frase três vezes, a tinta borrando.
A porta da frente fez um clique. Alexander entrou, sem gravata, camisa entreaberta, olhos vermelhos. Ele congelou ao ver o papel. Sara o prendeu na geladeira com um ímã em forma de maçãzinha. Cruzou os braços, queixo erguido.
Alexander pegou a lista, leu uma, duas vezes. Depois, amassou-a lentamente, os nós dos dedos brancos, e jogou a bola no lixo. Caiu com um baque surdo.
Sara prendeu a respiração. Ela pegou uma nova folha, escreveu as mesmas cinco r