CAPÍTULO 6

MAYLA

Hoje o Joseph está diferente dos outros dias, em nenhum momento fez das suas gracinhas para me irritar, durante o jantar fiquei sabendo o motivo que acabou me surpreendendo.

— May porque você está tão pensativa? — Pergunta Amélie.

— Estava pensando na criança que o Joseph atendeu, se ele não estivesse atento, aquele menino poderia continuar sendo molestado, se fosse meu paciente não perceberia, sou muito técnica, evito contato mais pessoal com minhas pacientes.

— Muito triste e revoltante, isso me leva a pensar em tantas outras crianças e adolescentes que estão vivendo esse tipo de violência nesse momento, penso nos meus filhos, e o quanto é necessário, que eu e Barin tomarmos cuidado com as pessoas a volta deles, infelizmente como Joseph disse, em sua maioridade os abusadores são pessoas de confiança das crianças, não gosto nem de imaginar uma coisa dessas.

— Realmente, chega a ser insano pensar que acontece esse tipo de violência. A ideia do Joseph de fazer a palestra é muito boa, poderia levar esse projeto a outros lugares, não só para os pacientes, mas também para os profissionais da área para que fiquem atentos aos sinais de tamanha violência, algo tão grave não pode passar desapercebido, ele conseguirá ganhar um bom dinheiro com isso.

— Você tem razão em relação em expandir a palestra, mas conhecendo meu compadre, ele fará essas palestras voluntariamente — ficamos um tempo sem dizer nada, perdidas em nossos pensamentos até que Amélie quebrou o silêncio.

— Eu não te disse que meu compadre é um, cara legal? Não entendo por que você não gosta dele.

— Não é que não goste, seu ego elevado que acaba me irritando.

— Mayla me perdoe o que vou te dizer, te conheço apenas há alguns meses, mas pelo que tenho observado você não é muito diferente do Joseph — eu a olho com espanto e intrigada por suas palavras, percebendo isso Amélie prossegue.

— Vocês dois são excelentes profissionais em suas áreas, são responsáveis e valorizam a família, mas ao que se refere a vida pessoal são descompromissados, gostam de desfrutar a liberdade que o sexo os proporciona.

— Do que você está falando? — Me fiz de desentendida, Amélie é aquele tipo de pessoa que se acha a dona da verdade.

— Que você é uma devassa tão quanto o Joseph, reclama que ele tem o ego elevado enquanto você também tem.  

— Não me compare com o doutor ego Amélie.

— Por acaso estou mentindo May? Vai me dizer que você não frequenta clubes de sexo? Você por acaso já se ouviu falando, quando estamos entre mulheres e o assunto é sexo, você sempre fala, gosto assim, tem que ser do meu jeito, sou boa pra caramba na cama, os homens têm que vir até a mim. Não que não ache que você tenha que se colocar em primeiro lugar, até porque também me coloco, o problema é que você age como fosse superior, como se para você o jogo começasse com você ganhando, creio que por isso você não se deu bem com o Joseph, por serem parecidos, e por ele te ofuscar, você sempre quer ser o centro das atenções e isso te incomoda. Você pensou quando o conheceu que faria o mesmo efeito que você causa nos outros homens, quando se deparam com sua melanina e sua beleza, que ele cederia ao seu jogo, mas só que ele agiu com você da mesma forma, e isso te pegou de surpresa, você esperava que ele ficasse aos seus pés, mas em vez disso Joseph foi fazer uma orgia com três mulheres, como as coisas não saíram do jeito que você esperava, passou a usar como arma o ataque gratuito, não fez a mínima questão de o conhecer como pessoa, tirou conclusões precipitadas, julgando-o sem motivo. 

Reflito sobre suas palavras, nunca percebi que ajo dessa forma até esse momento. Uma vez Verena e eu estávamos em um clube em outra cidade e ela pediu para que fizéssemos sexo a, quatro, ela adora transar dessa forma, já não sou muito fã por gostar da atenção dos homens todas voltadas a mim, mas para agradá-la e aproveitar o lugar que estávamos indo à primeira vez, concordei.

Haviam dois rapazes conversando e observando o local provavelmente procurando alguém que os interessassem, Verena quis ir até eles para os convidar para nossa pequena orgia, na hora disse que não, que eles que deveriam vir até nós, por mais que me interessasse por alguém sempre agi dessa forma, me mostrava interessada e a pessoa que tinha que vir até a mim. Verena com cólera nos olhos me levou até um local com menos barulho e falou asperamente comigo, me disse que me achava superior, que sempre agia assim como se todos tivessem que estar aos meus pés, e que me colocava acima das outras mulheres,  por causa da minha cor. Meu ego era elevado, por ter nascido em um país que a maioria da sua população é de pele clara, havendo poucos negros, me sentia melhor do que as outras mulheres.

Essa foi a única vez que eu e Verena nos desentendemos, mesmo sendo dura suas palavras, para mim, ela ficou daquele jeito por eu não ter topado ir nos, caras e por causa da bebida, mas agora ouvindo Amélie falando me dou conta de que o que a Verena disse tem fundamento, e que minha amiga deveria se sentir inferior a mim por causa do meu ego elevado. 

— Apesar de ter exagerado em alguns pontos, você tem razão Amélie, nunca tinha parado para pensar desse jeito — Amélie e eu conversamos um pouco mais até que os rapazes se juntam a nós, eles haviam ido até ao bar enquanto caminhamos para a sala.

— Quando é que você finalmente irá aceitar o meu convite e vai trabalhar conosco?

— Perguntou o senhor Anton que há muito tempo me convida para trabalhar no hospital da sua família, por pura infantilidade não aceitei, interferindo assim na minha vida profissional. O hospital Hensel é o maior hospital do país, seus especialistas são reconhecidos em toda a Europa, nunca havia aceitado por causa da minha implicância com o Joseph. 

 — Será uma honra trabalhar com vocês — Então seja muito bem-vinda.

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Refleti muito sobre o que Amélie me disse semana passada no jantar na mansão dos Hoffman, infelizmente não havia me dado conta que agia de uma maneira tão egocêntrica. Minha prima Anelise sempre diz que antes de apontar um dedo para alguém não esquecer que tem quatro apontados em nossa direção, e ela está correta, desde que conheci o Joseph, critiquei seus defeitos e esqueci dos meus.

Hoje é o meu primeiro dia no hospital Hensel e pretendo começar uma nova história com o Joseph, podemos não nos tornar amigos, mas ter uma convivência saudável, já que ele vai ser o meu patrão, não diretamente, mas ele é dono do hospital. 

— Bom dia Mayla, tudo bem? — Tudo Barin, apenas estou um pouco ansiosa, minha experiência em hospital foi no período da minha residência, depois disso fui trabalhar na clínica que trabalhei até esses dias, sei que a rotina é completamente diferente. 

— Não se preocupe vai dar tudo certo, você é uma excelente profissional, por isso que a contratamos, temos certeza de que você saíra muito bem. 

Barin me mostrou minha sala, onde os exames laboratoriais são realizados, me apresentou algumas enfermeiras, doutores, a maior parte das dependências do hospital já conhecia, no dia em que meu pai veio acertar a sua contratação o acompanhei e o senhor Anton fez questão de mostrar todo o hospital para nós dois, achei muito gentil de sua parte, fiquei impressionada com a estrutura desse lugar. 

Atendo poucas pacientes, pois, é meu primeiro dia e ainda não tenho muitas consultas agendadas, são onze e meia quando me despeço da minha última paciente, pego minha bolsa e saio do meu consultório, sigo pelo corredor em direção ao elevador para subir até a sala do meu pai. Quando entro no elevador há duas enfermeiras, dou bom dia e fito os meus olhos no meu celular, ele fica uns minutos parado até se movimentar novamente. 

— Menina nem estou acreditando que o doutor gostosão está finalmente trabalhando entre nós.

— Nem fala, esse mês, trabalhei feliz da vida, olhar para ele alegra meus dias. Às duas enfermeiras conversavam chamando minha atenção, sabia muito bem de quem elas estavam falando. 

— Fiquei sabendo que ele já transou com a maioria das enfermeiras e doutoras. 

— Quem me dera ter essa oportunidade. 

Ao ouvir suas palavras, uma raiva se apoderou de mim, por sorte o elevador parou e ambas saíram, será que é verdade que Joseph transa com essas mulheres aqui no hospital, ou é fofoca de corredor? Pensando bem, vindo dele não duvido nada, no Brasil ele nos deixou no restaurante para sair com aquelas mulheres. 

Meu Deus! O que estou dizendo! 

Estou apontando o dedo outra vez, se eu estivesse  em seu lugar e algum homem que eu desejasse me quisesse, foderia com ele em meu consultório sem pensar duas vezes, a sensação do perigo muito me excita, já transei na clínica que trabalhei, com um ortopedista delicioso, ele foi em minha sala no final do expediente e acabou me comendo sobre minha mesa. 

Do lado de fora do escritório do meu pai, ouço os risos que vem de dentro dela, bato na porta e abro, Kleber, Barin e o senhor Anton riem feitos adolescentes.

— Por aqui ninguém trabalha? — Os indago — estamos de saída para o almoço quer nos acompanhar? 

— Muito obrigada! Mas combinei de almoçar com Amélie. 

— Minha esposa nem avisou que não almoçaria comigo, estão ouvindo isso? Não se faz mais esposa como antigamente — Barin diz se fazendo de coitado e todos riem. 

— Amélie deve estar cansada de olhar para essa sua cara feia — depois de dizer essas palavras meu pai começou a rir e o senhor Anton o acompanhou. 

— Para de drama Barin. Estou indo encontrar minha amiga, beijos. 

Aguardo o elevador, Amélie trabalha no segundo andar, fiquei de passar em sua sala, como terminei mais cedo as consultas, resolvi dá um oi para meu pai. As portas do elevador se abrem e revelam um Joseph cada vez mais lindo — não brigue com ele Mayla, agora ele é seu patrão, repito isso mentalmente. 

— Bom dia Joseph — Hum! Bom dia quase, boa tarde, sorri — Verdade — Está vindo da sala do seu pai? 

— Sim, atendi minha última paciente e passei para dar um oi — Nós vamos sair daqui a pouco para almoçar quer ir conosco? 

— Não obrigada, os três mosqueteiros me convidaram, mas combinei de almoçar com Amélie.

— Pelo, o que saiba, os três mosqueteiros são quatro, na verdade. 

— Você está certíssimo, o quarto acabou de chegar, ele riu — Posso saber qual dos mosqueteiros que sou? 

— Vou pensar e depois te falo, pisquei para ele que mostrou outra vez seus lindos dentes. 

— Por que vocês duas não vão conosco? — Precisamos conversar. 

— Tudo bem. Como está sendo seu primeiro dia? — Por enquanto tranquilo. 

— Não se iluda, as coisas podem mudar de uma hora para outra, se precisar de auxílio é só falar. 

— Muito obrigada! Agora preciso ir, Amélie está me esperando, chamo de novo o elevador que desceu assim que Joseph saiu dele — Até logo! 

Me despeço e entro no elevador, que chega logo em seguida, fico pensando que foi a primeira vez que eu e o Joseph, trocamos palavras sem ficar tentando nos atingir, ele se mostrou o, cara legal que todos dizem ser. A minha conversa com Amélie me fez enxergar o quanto estava sendo injusta, se desde que o conheci tivesse o tratado como tratei agora, nossa convivência teria sido bem melhor! 

Chegamos no restaurante, e logo que nos sentamos falo com Amélie que refleti muito sobre a nossa conversa, o garçom nos interrompe e fazemos o nosso pedido, quando ele sai continuo a desenvolver o assunto. 

— Amélie ser uma cidadã alemã negra, no nosso país, aonde mais de noventa por cento da sua população é branca não é nada fácil, mesmo que minha mãe seja uma alemã legítima, o fato do meu pai ser imigrante e negro e eu ser negra me fez sofrer muitos preconceitos, humilhações, tive que lutar muito para conseguir chegar onde estou hoje, a minha história de vida não foi tão difícil como a da minha prima Anelise, porque tive o amor e o apoio do meu pai, que lutou muito para financiar meus estudos e sempre esteve ao meu lado, mas tive que conviver com o racismo, preconceito e a discriminação, vivia uma guerra diária — O garçom traz nossos pratos e os coloca sobre a mesa, escolhemos nossas bebidas e ele sai novamente. 

— Teve um dia que falei para mim mesma que não aceitaria mais ser humilhada por ninguém e que a partir daquele dia em diante eu me amaria a cima de tudo e não me importaria mais com o preconceito das outras pessoas em relação a mim, me posicionei como mulher negra que sou, sem me esconder, sem abaixar a cabeça, a partir daí as pessoas passaram a me respeitar, eu não mais ficava calada, ia em busca dos meus direitos como cidadã, conheci um rapaz na faculdade que me disse que muitos homens fariam qualquer coisa para ficar comigo,  começamos a sair e namoramos por um ano. Com ele, aprendi a dar e receber prazer, comecei a descobrir minha feminidade, terminei o namoro porque queria mais do que ele me proporcionava, e fui em busca do que realmente gosto. — Nossas bebidas são postas sobre a mesa. 

— Com a minha mudança, as coisas foram acontecendo, me tornei mais forte e passei a me amar mais, a gostar do meu corpo e ser feliz com a minha cor, me descobri cada vez mais no sexo e com isso atrair os homens que antes me olhavam com desprezo passaram a me olhar com desejo, ainda existem os preconceituosos, mas eles não interferem mais na minha vida, a forma com que sou desejada e a sensação de poder me faz bem, me sinto realizada desse jeito.

— Sei o que os negros passam em nosso país, entendo e compreendo tudo o que você disse May, você é uma pessoa admirável, uma mulher como poucas, mas você acabou levando essas questões para sua vida íntima, a relação entre um homem e uma mulher não é uma luta, onde quem for mais forte vence, entende o que quero dizer? 

— Entendo, e você está certa.

— Não é errado você ser a rainha do sexo, e fazer com que os homens façam conforme o seu desejo, mas quando escolhemos alguém, ou permitimos que alguém toque o nosso corpo, isso só é possível porque o outro permite que aconteça, a sensação de estar no comando é maravilhosa, mas acontece porque o outro permitiu ser comandado. 

— Nunca tinha pensado dessa forma.

— Meu compadre, por exemplo, é a perfeição da natureza, um homem que não precisa fazer o menor esforço para conquistar alguém, mas a culpa não é dele, as mulheres simplesmente se jogam aos seus pés,  ele acabou se acostumando com isso, você foi a primeira mulher que ele desejou e que não se rendeu aos seus encantos, com certeza feriu seu ego, porque foi uma situação atípica para ele, mas mesmo sendo cobiçado e muitas vezes adorado, ele sabe que tem o outro lado, que é uma troca. Tem algumas coisas que Joseph não gosta de fazer no sexo, mas abre mão para satisfazer sua parceira. Nem sempre se trata só da gente May. 

Fico impressionada com as palavras de Amélie, ela é uma mulher sábia e muito inteligente, não é à-toa que é a responsável da área da assistência social do hospital, minha amiga sabe como ninguém lhe dar com as questões mais complexas. O que também me impressiona é a intimidade que ela tem com Joseph, porque o que ela disse são coisas para quem tem uma relação muito íntima, queria fazer algumas perguntas, porém, nosso tempo acabou, temos que voltar ao trabalho.

Uma coisa Amélie tem toda razão, Joseph não tem culpa de ter nascido perfeito, tudo nele é lindo, seu corpo transmite muita sexualidade, quando está sem barba parece um galã de cinema, com barba ele me lembra um viking, e essa mistura o faz ainda mais lindo e sexy. 

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Depois de um dia de trabalho a única coisa que  quero, é tomar um banho e descansar. Encosto minha cabeça no travesseiro repasso toda minha conversa com Amélie, também fiquei pensando no Joseph, concluo que me interessei por ele desde a primeira vez que o vi, e que por ter me reconhecido nele usei o ataque como minha arma. Depois da nossa primeira conversa civilizada e de o conhecer um pouco mais, esse interesse está crescendo dentro de mim, o quero, quero ele em minha cama, me fazendo gritar de tanto prazer, garantidamente ele vai se render a mim, se for necessário jogar para que isso aconteça, jogarei. 

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