Cristina
Cillian voltou para a sala, vestindo um conjunto de moletom preto e tênis de corrida. Ele ia sair para correr. Era assim que aliviava a sobrecarga emocional que sentia às vezes.
Na cozinha, bebeu um pouco de água e veio até mim.
— Volto em quarenta minutos.
Beijou a minha testa e se foi.
Eu odiava profundamente o que o seu passado causava a ele, mesmo que tenha superado tudo. Algumas pessoas devem achar que superar é esquecer, mas, na verdade, se resume apenas em não se afogar na dor causada pelos traumas, que jamais são esquecidos.
Levou muito tempo para que Cillian conseguisse me contar o que seu pai fez com ele. Mais tempo ainda, para contar sobre a tortura e o abuso sexual que sofreu na escola. A cada dia, ele contava um pouco da sua história. Quando percebia que estava prestes a me desmanchar em lágrimas ele parava.
Não acho que tenha demorado para falar ou que contava em partes para melhor conforto seu. Mas sim para um melhor conforto meu. Ele entendia e sabia que ouvir