Quando Betina descobre que engravidou de Cristian, o irmão caçula de seu ex-noivo, o mundo desmorona mais um pouco. Ainda abalada com o término desastroso de seu noivado e a vergonha pela gravidez indesejada, ela só vê uma solução: fugir... No entanto, Cristian Servantes já fez outros planos para os dois.
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Acabei de completar vinte e três anos e o que seria uma fase de muitas aventuras e diversão para a maioria das jovens da minha idade, para mim não significava nada. Não fui para a universidade de moda como queria. Meus pais tinham dinheiro, mais que o suficiente para me bancar em qualquer universidade do mundo, mas não! Para que me graduar se logo me casaria com o filho primogênito da família Servantes? Eu não precisaria trabalhar nunca… Não que tivessem me proibido de estudar, mas sinto que persuadida a não sonhar com isso.Mamãe planejou minha vida ao redor de uma ideia de matrimônio entre Robert Servantes e eu, como se fosse a coisa mais certeira a respeito de mim e por isso ela ficou muito insatisfeita quando seus planos não se concretizaram.Desliguei a máquina de costura, meu passatempo favorito. O curso de costura foi uma das poucas coisas que escolhi fazer, principalmente porque não era longo. Hoje, nem mesmo costurar conseguia aplacar aquele aperto no peito. Eu andava me afogando em comida.Saí do meu quarto e fui até a cozinha. Rosita, nossa governanta, já sabia que eu queria beliscar algo e me deu uma tigela de arroz doce.Minha mãe, Estefânia Santoro, logo apareceu com seu olhar repreendedor:— Você está comendo demais, Bebê! — disse ela, arrancando a tigela das minhas mãos. — Você sempre teve tendência a engordar e está jogando pela culatra todo o sacrifício que já fez na academia. Aliás, você realmente parou de malhar?— Eu preciso disso! — Puxei a tigela novamente — Não existe mais motivos para eu ficar fazendo as dietas doidas que a senhora me impõe. O Robert está casado, mas com outra mulher.— Uma mulher magérrima, por sinal, que com certeza não fica se afogando em comida como você. Em poucos meses estará gorda como uma porca! — Mamãe bradou, olhando para minha silhueta que já começava a mudar.Estefânia era uma mulher magra e esbelta, mesmo no auge dos seus cinquenta anos. Muito vaidosa, ela passava a maior parte do dia cuidando de si mesma e nada mais. Mesmo meu irmão caçula, o favorito, não recebia mais do que uma ou duas horas diárias de sua atenção.E quanto a mim, só passei a ter certo valor quando ela percebeu que eu poderia ser uma boa moeda de troca para participar de grupos mais influentes.A família Santoro era podre de rica, mas não tinha sangue azul. Meu avô foi pobre e meu pai nasceu numa casa humilde; entre os ricos isso fazia diferença. Minha mãe queria ser bem aceita pelas mulheres da alta sociedade e ser a sogra do filho primogênito dos Servantes era a escada que lhe daria acesso às dondocas que ela admirava.Então minha mãe me culpava pelo fracasso do meu noivado. Não bastava eu mesma me martirizar, ainda tinha que ouvir as reclamações frequentes da minha mãe sobre eu não ter um pingo de sensualidade para segurar um homem.— Você vai voltar a dieta, certo Bebê? — A mulher arrancou mais uma vez a tigela de arroz doce das minhas mãos. Foi até uma cesta de frutas e trouxe uma maçã sem graça — Robert Servantes era excelente, mas não deu certo e nem por isso vamos desistir de te conseguir um bom marido. Ontem seu pai me apresentou uma família muito interessante e o filho deles seria uma boa opção. Não tão bonito, mas talvez seja melhor assim. Talvez ele seja menos exigente.— Credo mãe, eu acabei de passar por uma decepção...— Pelo que entendi, você e o Robert nem tiveram nada — Suspirou. — Talvez tenha sido este o erro. Achei que os homens da alta roda ainda dessem valor a essa coisa de ser casta e tal... Não vamos cometer esse erro novamente!— Eu não vou me casar, mãe! Vou tirar um tempo solteira e priorizar os estudos — Respondi.Estefânia Santoro, porém, não parava de especular e mal ouvia meus protestos. Continuou falando de oportunidades de casamentos para mim, enquanto eu apenas fugia da cozinha e corria para a área de lazer, longe dela. Respirei fundo. Estava difícil viver na minha própria casa.Nosso quintal era grande e muito arborizado. Vi meu irmão Gui, de apenas catorze anos, lendo um livro embaixo da sombra do abacateiro com sua instrutora de inglês. Deus abençoe a professora Kátia que sabia ser uma companhia para o meu irmão melhor que a própria mãe.Passei por eles e dei um beijo em meu irmão lindo que fingiu sentir nojo, mas eu sabia que ele gostava. Depois fui até o guarda-sol montado perto da piscina.Meu celular tocou. Era minha amiga Ana Clara:— Você vai ao baile da Tricia?— Olá para você também, Clara.— Desculpe! Como você está, Tina? — Clara se corrigiu.Ana Clara era minha melhor amiga desde o ensino médio. Ela sabia cada detalhe da minha vida e era alguém que eu prezava demais.— Recebi o convite hoje bem cedo. Tricia veio trazer pessoalmente, e você? — Eu disse.— Nada! Acho que não serei convidada...— Ora essa, mas por quê? — Perguntei, mas na realidade já sabia a resposta. Ana Clara havia sido bolsista no colégio e era pobre. — Eu já estou sem disposição para ir, sem você então...— Não se prenda por minha causa. — Trícia se alarmou — Você precisa sair e se divertir.— Sem você vou me sentir um peixe fora d'água.— Imagina! Vai ser um baile à fantasia, você pode ir coberta da cabeça aos pés e fingir ser outra pessoa.— Até parece que eu consigo!— Consegue sim. Ah, e tem uma fofoca em torno dessa festa: Parece que a família da Tricia está falindo! — Deu uma risadinha — A festa é uma maneira de promover a Mansão Toledo que logo será posta à venda.— Sério?A fofoca rendeu longos minutos no telefone. No final eu estava convencida de que deveria ir. Pensei que seria uma boa oportunidade para costurar algo para mim mesma.Além do mais, o que de ruim poderia acontecer? Robert com certeza não iria nessa festa, ele morava bem longe daqui.E quanto ao Cristian, o meu ex-cunhado... bem, ele andava ausente das festas. Ele estaria namorando ainda? Na minha festa de noivado ele trouxe uma namorada, mas Cristian não durava muito tempo com ninguém, então a fila já poderia ter andado novamente.Mesmo que ele fosse, isso não deveria ser um problema. Eu não poderia viver com medo de esbarrar com a família Servantes! Não fui eu quem enganou e mentiu, muito contrário, fui a vítima! Não deveria ser eu a ter vergonha da situação.Passei tempo demais trancada dentro de casa, com vergonha dos julgamentos. Quando fiquei noiva de Robert Servantes eu anunciei isso aos quatro cantos do mundo e quando terminamos, pouco tempo depois, foi muito humilhante, principalmente porque ficou claro para todos que ele estava me traindo.Respirei fundo e me levantei, cheia de energia e determinação. Eu iria costurar minha própria roupa de fantasia. Iria beijar alguém naquela festa. Eu precisava desesperadamente ser tratada como uma mulher atraente e bonita e não como uma moça sem sal ou açúcar.Peguei meu celular e encontrei o número da Tricia."Oi, pode confirmar meu nome; eu irei com certeza!”------Que bom que você está conhecendo essa obra! Não vá embora, ok? A história vai ficar cada vez mais envolvente, então te convido a ler o próximo capítulo 😉*Bônus* Tricia - Ai! – Berrei quando zíper do vestido mordeu minha pela. – Cuidado. - Desculpe! – Pediu a costureira. Eu estava insuportável naquele dia. Era meu casamento e jamais imaginei que seria um dia tão triste e insuportável. Eu vi Conrado mais uma vez depois daquele jantar em casa e minha opinião sobre ele não tinha melhorado nenhum pouquinho. Tentei conversar sobre qualquer assunto sem sucesso, ao que ele começou a balbuciar qualquer coisa sobre como os ventiladores funcionavam e ficou olhando fixamente para o objeto que girava no teto. No final das contas, toda minha correria para terminar a faculdade no tempo certo não serviria para nada já que eu não poderia exercer a profissão de arquiteta enquanto estivesse ocupada sendo mãe do herdeiro da família Albuquerque. E havia sempre o medo de que eu gerasse uma criança problemática, que desejassem que eu tentasse engravidar mais uma vez e tantas outras coisas...no fundo eu sabia que aquele homem não deveria tentar ser pai.
*Bônus* Tricia Eu passei o dia seguinte evitando qualquer contato com Rick. Ele era a síntese de tudo o que eu queria, mas não me permitiria ter. O policial era um amante incrível, uma companhia agradável e me fazia bem como poucas pessoas conseguiam, mas era pobre.Apesar de todo reboliço que ele causava em mim, era preciso me lembrar que era apenas um homem que entrou na minha vida há pouco tempo e cujo laço era superficial demais para ser considerado sério. O bem estar da minha família iria prevalecer, mesmo custando o meu sangue e felicidade. Então quando chegou o dia da festa de noivado da Betina e do Cristian, todos achavam que eu estava cansada pelos preparativos, mas na verdade o que eu sentia era um esgotamento emocional do tamanho do mundo. Eu estava gostando tanto daquela adrenalina de trabalhar com eventos, criar sonhos e ajudar pessoas a viver mais confortavelmente... Quando estivesse casada com Conrado Albuquerque nada d
*Bônus* Tricia E nos dias que se passaram, meu tempo ficou dividido entre os preparativos do noivado de Cristian e Betina, as aulas da faculdade e meus encontros furtivos com Rick. Como ele dividia um apartamento com outros dois policiais e eu ainda morava com meus pais naquela casa pequena, se tornou difícil ter um lugar onde pudéssemos nos encontrar intimamente. Além disso, ir ao motel todas as noites gerava um custo que nenhum de nós ainda tinha condição de arcar. Então as vezes o policial apenas me buscava na faculdade com sua moto, me levava para comer alguma coisa e depois de uma noite agradável conversando e namorando decentemente, ele me deixava no portão de casa. E assim as coisas foram acontecendo até aquela noite, antevéspera do evento que eu estava organizando na Mansão Toledo.Minha mãe avisou a todos que deveríamos jantar juntos e que teríamos convidados especiais. A casa em que vivíamos agora era modesta, mas eu consegui dec
Bônus* Tricia Na vida a gente tenta evitar situações que nos chateiam, mas nem sempre somos eficientes. Naquela noite na faculdade eu cruzei com Egberto e Cibilla pelo menos umas três vezes e eles faziam questão de se beijar quando passavam perto de mim. Aliás, era Cibilla quem se dava a esse trabalho e eu nem sabia por que, de repente, ela passou a ser minha antagonista. Se ela soubesse que isso não me abalava nem um pouquinho, nem teria se dado ao trabalho. Por sorte, a faculdade terminaria em poucos meses. Eu estava parada na calçada da faculdade, olhando o aplicativo do ônibus no celular quando percebi que Egberto se aproximava. Ele era um rapaz da minha altura, magro e pálido, com rosto bem jovial, daquele tipo que parecia nunca ter saído da adolescência. Me peguei questionando quando e porque dei bola para um sujeito mirrado como aquele. - Tricia, podemos falar um instante? - Seja rápido pois
*Bônus* Tricia Eu passava tempo demais dentro da Mansão Toledo porque Cristian precisava da minha ajuda em todos os detalhes e confesso que eu adorava poder estar em contato com aquele ambiente que foi meu lar a vida toda. O lugar não era mais meu e ainda assim eu podia estar nele, cuidando para que ficasse lindo e fosse habitado por uma pessoa que ia transformá-lo num lar feliz. Foi difícil para Betina, a noiva do Cristian, engolir minha presença como funcionária, seja porque ela tinha antipatia por mim, seja porque ela era ciumenta, apesar dela mesmo não ter se dado conta dessa última parte. Mas agora ela tinha um bebê nos braços e minha ajuda era importante enquanto Betina ainda não estava restabelecida. A vinda dela para a casa trouxe outras presenças que eu não podia ignorar. Uma delas foi a Ana Clara que eu obviamente não gostava. Tentei fazer meu cérebro funcionar a favor daquela mulher insipida que vivia me julgando
**BÔNUS**TríciaEntão a ruina nos alcançou. Minha mãe tentava arrancar os cabelos caindo em si enquanto meu pai se encolhia num canto da sala. O contador tinha terminado de nos explicar que não tínhamos mais nada, absolutamente zero. Pior que isso: estávamos devendo muito dinheiro!Para resumir, meu pai foi ingênuo ao cair na lábia de certo amigo e investiu um valor exorbitante num investimento muito duvidoso. Se Pietro Toledo tivesse consultado qualquer um dos seus três filhos, até mesmo Raissa, a caçula de dezoito anos, teria ouvido que era muita burrice acreditar que qualquer aplicação daria um retorno tão rápido e em tão pouco tempo. Pietro, no entanto, ao invés de ganhar sabedoria conforme envelhecia, se tornara ganancioso e supersticioso e acreditou que a sorte o privilegiaria. O resultado era que teríamos que vender nossa Mansão, todos os veículos, joias e itens de valor que possuímos para saldar a dívida e começar uma
Último capítulo