Finalmente arrumei minhas coisas.
Não eram muitas, consegui guardar tudo em uma mala só.
O restante, não quis mais. Deixei um bilhete para a babá, pedindo que jogasse fora para mim.
Desci as escadas carregando a mala; quando estava quase chegando à esquina, ouvi o som de meu pai e os outros voltando com a Carrie.
Eles entraram na sala pela outra porta e não me viram, mas suas conversas chegaram aos meus ouvidos.
— Ainda bem que ela comeu pouco, só teve uma leve reação alérgica, senão eu jamais perdoaria a Maria.
— Desta vez ela exagerou mesmo, tem que pedir desculpas do fundo do coração.
Carrie falou com doçura:
— Não precisa ser assim, papai. Tenho certeza de que a irmã não fez por mal.
Meu irmão tentou consolar Carrie:
— Carrie, você é mesmo boa demais. Para gente má, não precisa ter tanta tolerância assim.
— Você não queria tanto o jardim que está no nome dela? Deixe ela dar pra você, como compensação.
Meu pai franziu o cenho, estava prestes a falar, mas Carrie sorriu surpresa:
— Sério que pode me dar? Sempre quis entrar lá, mas a irmã nunca deixou.
Quando meu pai ouviu isso, também sorriu, em consentimento.
Meu coração ficou amargo e dolorido, realmente não sei o que ainda esperava.
Nesta casa, ninguém liga para mim. Até o jardim que minha mãe me deixou querem que eu dê para Carrie.
Saí de onde estava e falei em voz baixa:
— Já que a Carrie quer, então é seu.
Carrie imediatamente percebeu a mala atrás de mim e quase não conseguiu conter a felicidade, por pouco não sorriu abertamente.
Mas meu irmão me olhou com desconfiança, franzindo o cenho:
— Você abriu mão do jardim assim tão fácil, não deve estar tramando alguma coisa contra a Carrie, né?
— Amanhã vamos revisar o jardim de novo, ver se você não deixou nenhuma armadilha de propósito, só depois você pode dar o jardim pra Carrie.
Respondi imediatamente:
— Então eu posso ir arrumar agora.
Meu irmão deu um risinho frio, impaciente:
— Quem pediu pra você arrumar?
Carrie logo fez uma expressão assustada, se escondendo atrás do pai.
— Mana, não fica brava, não quero mais o seu jardim, tá bom? Só queria dar uma olhada, não esperava que fosse ser tão fria comigo...
Olhei para ela, mantendo a calma e sem expressão:
— Já que você quer, é seu. E, daqui pra frente, não voltarei mais.
Um brilho de alegria passou pelos olhos de Carrie.
Mas o rosto do meu pai ficou escuro. Ele falou, irritado:
— Não vai voltar?
— Só porque deu o jardim para a Carrie? Ainda quer que a Carrie fique pensando nos seus sentimentos? Já não basta sair por aí aprontando, agora quer fazer birra e não voltar pra casa? Que desperdício da minha educação!
— Igualzinha à sua mãe, duas mulheres inquietas.
Meu coração pareceu ser rasgado por uma lâmina, a dor quase me sufocou.
Como ele podia falar assim de mim e da minha mãe?
Debati-me, sofrida:
— Não é isso, estou indo embora porque depois de amanhã eu...
— Fora daqui!
Meu pai me interrompeu com um grito furioso:
— Se quer ir, então vai logo! Não quero saber o que você vai fazer. Você longe de casa só vai deixar a mim e a Carrie mais felizes.
— A partir de hoje, só tenho uma filha: a Carrie. Ela é mil vezes mais adorável e gentil que você.
Não disse mais nada, apenas peguei minha mala e saí.
Não sei quando começou a nevar de novo lá fora.
O frio da neve me fez tremer dos pés à cabeça.
Pensei em pegar um guarda-chuva, mas a porta foi fechada com força.
A voz sarcástica do meu irmão veio da casa:
— Já que foi embora, não volte. Nossa casa não é depósito de lixo. Não venha se arrepender depois, aparecendo como uma mendiga para pedir pra voltar.
Sorri amargamente, apertei o casaco fino ao corpo e entrei na neve.
Os flocos de neve fria caíam sobre mim, tudo à frente ficou coberto de branco, e caminhei com dificuldade.
Eu não tinha muito dinheiro comigo, a escola estava fechada, não sabia para onde ir.
Quando estava saindo pelo portão da mansão, Joel de repente me segurou.
— Maria, você não pode pedir desculpas para a Carrie, pedir que ela te perdoe?
— Carrie é tão bondosa, por que você não pode aceitá-la com amizade?
Bondosa?
Por que eu não conseguia aceitá-la?
Porque ela era uma menina que fingia ser boazinha, mas era venenosa, invejosa.
Mas eu não queria mais dizer essas coisas.
De repente percebi que o Joel, que eu tanto amei, agora era como um estranho para mim.
Já não tínhamos mais nada a dizer um ao outro.
Vendo meu silêncio, Joel perdeu a paciência e me sacudiu pelos ombros com força:
— Maria, você não pode mudar? Se pedir perdão para a Carrie, prometendo nunca mais machucá-la, a gente fica noivo agora mesmo, que tal?
Olhei em seus olhos e balancei a cabeça:
— Noivar? Não, não vamos noivar. Nós já terminamos há muito tempo.
A frieza do meu olhar o irritou, ele me empurrou com força no chão e disse entre dentes:
— Eu quis te dar uma chance, mas não sabia que você era irredimível! Continue sendo má assim, um dia você vai pagar por isso!
Joel foi embora sem olhar para trás.
Levantei-me, puxei minha mala e continuei caminhando para fora.
Com aquela neve, era difícil pegar um táxi. Minha roupa estava encharcada, mas dei sorte e consegui uma carona.
Para retribuir o motorista, dei-lhe uma boa gorjeta.
Assim que entrei no carro, vi um sedã vindo em minha direção.
Pelo número da placa, reconheci que era o carro do meu irmão.
Ele acelerou o máximo, veio direto em minha direção, gritando meu nome.
O motorista perguntou:
— Conhece esse cara?
Balancei a cabeça:
— Não. Vamos embora.
A neve caía cada vez mais forte, quase desfocando todo o mundo.
No instante em que o carro do meu irmão passou por nós, achei ter visto uma expressão de pânico e preocupação em seu rosto.
Talvez eu tenha me enganado.
Por que ele mostraria uma expressão dessas para mim?