Hotel Califórnia: Prazer garantido ou seu dinheiro de volta
Hotel Califórnia: Prazer garantido ou seu dinheiro de volta
Por: Roseanaautora
Candy

NORIAH NORTE, 22 ANOS ANTES.

Assim que o movimento enfraqueceu, pedi para minha chefe:

— Senhora Miranda, não me sinto bem. Será que eu poderia sair um pouco mais cedo hoje?

A mulher, com cara de poucos amigos, olhou no relógio e disse, secamente:

— Vou descontar estes quinze minutos do seu salário.

— Ok — aceitei.

Peguei minha bolsa e senti-me enjoada novamente. E sabia que um pouco era pela forma como ela havia me tratado. Não bastava ser rica, tinha que ser também uma pessoa cruel e sem coração.

Além de não estar realmente nos meus melhores dias, tinha que passar no laboratório para retirar o exame antes que fechasse as portas. Sim, porque meu horário de trabalho não coincidia com o deles, então o simples fato de retirar um papel era algo extremamente difícil. E não, eu não tinha ninguém que pudesse fazer aquilo por mim.

Assim que saí na rua, senti o cheiro de escapamentos de carros, o trânsito congestionado, o vai e vem de pessoas de um lado para o outro e incrivelmente aquilo fez-me sentir melhor do que dentro do meu local de trabalho.

Andei rapidamente, enquanto olhava os ponteiros do relógio indo mais rápido do que eu esperava.

Senti uma mão firme segurar meu braço, de forma tão brusca que quase caí.

Olhei o homem baixo, bem vestido e não lembrei de ter tido contato com ele antes em algum momento de minha vida.

Fixei o olhar no braço, que o homem seguia apertando.

— Precisamos conversar — a voz foi gélida e tão firme quanto os dedos dele na minha pele.

— O senhor... Deve estar me confundindo com alguém — andei um passo para o lado, quase encostando na fachada de um prédio, puxando meu braço do toque nada gentil dele.

— Não estou confundindo você com outra pessoa, “Candy” — o meu nome soou de forma debochada, reiterado com o sorriso de desdém dos lábios dele.

— De onde... Me conhece? O que quer comigo?

— Podemos tomar um café? Eu pago.

— Não — falei amedrontada.

— Seria melhor falarmos num lugar mais reservado.

— Não... — minha voz soou mais fraca e olhei para os lados, pensando se era possível fugir dali.

— Não quero ser violento com você, Candy.

— O que... Eu fiz?

Certamente o homem estava me confundindo com alguém. Eu era morena, magra, olhos escuros... Um tipo comum. Respirei fundo e sorri:

— Não sou quem o senhor está pensando, eu garanto. Deve haver um mal-entendido aqui.

— Candy Smith... Trabalha na loja de tecidos na esquina da quinta com a sexta avenida. A “doce” proprietária se chama Miranda Collor. Ah... Você mora num quarto fedido e nojento, que chama de “casa”.

— Eu...

— Venha comigo agora!

Eu poderia dizer não. Mas tive medo. Como aquela pessoa que eu nunca vi sabia tanto sobre mim?

Ele saiu andando e eu o acompanhei, mesmo sabendo que sair correndo era a melhor coisa a fazer. Entramos numa cafeteria antiga e barata, que tinha como principal clientela os trabalhadores das redondezas.

O homem, vestido com roupas caras e de grife, sentou-se e empurrou uma cadeira com o pé, para que eu fizesse o mesmo.

Sentei e já comecei a sentir meu estômago embrulhar com o cheiro de fritura do local.

— Candy, vou direto ao ponto. Você está envolvida com meu filho e quero que isso acabe.

O olhei, incrédula:

— Você é o pai de...

— Sim, sou o pai dele. Você não é nada para o meu filho. Exijo que termine logo a porra que vocês começaram por bem ou farei de uma forma que certamente você não vai gostar.

— Nós... Nos amamos. Ele nunca sequer mencionou sobre a família.

— Ele é de uma família tradicional e rica. E mulheres como você não estão à altura de homens como nós.

Levantei. Eu não precisava ouvir aquilo:

— O senhor é repugnante. Mande seu filho acabar comigo... Porque eu não vou fazer isso.

— Candy, Candy... Não seja ingênua. Sabe que não tem onde cair morta, literalmente... Nem viva você tem onde cair.

Senti as lágrimas invadirem meus olhos e uma dor incontrolável dentro de mim. Passei por muitas coisas horríveis na vida, mas jamais fui tão humilhada da forma como estava sendo.

Saí correndo, sem olhar para trás. A visão estava turva por conta das lágrimas. Tinha somente cinco minutos para chegar no laboratório, que ficava na outra quadra. E se não bastasse, começou a chover.

Atravessei a rua entre os carros que não paravam para os pedestres, pondo minha vida em risco. Cheguei em frente ao laboratório exatamente às 18 horas. Estavam fechando a porta, mas creio que ao avistarem minha cara de desespero e o estado deplorável que me encontrava por conta da chuva, me deixaram entrar.

— Obrigada... — falei, sem sair de onde estava, próximo da porta, não querendo sujar o local. — Eu vim buscar um exame.

A mulher sorriu:

— Candy Smith?

— Sim, sou eu... — retribui o sorriso, confusa.

Agora todo mundo sabia quem eu era? Fiquei com medo novamente. Ela procurou entre os papéis e entregou-me:

— Seu nome é diferente. E bonito. Ficou na minha cabeça.

Eu sorri gentilmente, me tranquilizando:

— Obrigada... O nome é tão criativo quanto minha mãe.

O estrondo de um trovão me fez dar um salto:

— Obrigada... Muito obrigada.

Fui saindo, sabendo exatamente o quanto era horrível estar fechando o estabelecimento, vendo o descanso na sua frente quando chegava um cliente a um minuto de o horário encerrar.

Não consegui esperar chegar em casa. Abri o papel e li o resultado, claro como água: POSITIVO.

Agora sim eu chorei... E se fosse uma hora antes de aquele homem cruzar meu caminho, estaria feliz da vida sabendo que estava grávida. Mas agora já não tinha certeza. Por que o amor da minha vida mentiu-me? Teria ficado com medo de eu estar com ele por interesse, caso fosse rico? E se ele realmente tinha posses, como o dito “pai” falara, por qual motivo fingia ser pobre?

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