Lara
A floresta parecia maior à noite.
Mais viva.
Mais perigosa.
A cada passo, meus pés afundavam nas folhas úmidas, e galhos secos estalavam sob meus calçados. Mas Mika andava como se flutuasse — leve, precisa, silenciosa.
— Você está ouvindo isso? — ela sussurrou.
— O quê?
— Tem uma coruja a 300 metros, na direção sudeste. Três ratos, provavelmente na moita ao nosso lado… E alguém chorando... muito longe.
Ela parou e franziu o cenho.
— Ou... talvez lembranças.
Senti um arrepio na espinha.
Desde que despertou, Mika não era mais a mesma. Havia algo afiado nela. Como se tudo nela — voz, olhar, respiração — estivesse mais nítido, mais selvagem.
Ainda era Mika. Mas não totalmente.
— Está tudo bem? — perguntei.
Ela assentiu, depois olhou para mim, os olhos um pouco mais escuros que o normal.
— Estou com sede.
A frase me fez estremecer.
— Não se preocupe. Eu consigo controlar. — ela disse, como se pudesse ouvir meus pensamentos. — Ainda estou aprendendo a entender isso. Ma