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A Noite Sob a Lua Cheia

A pizza estava quentinha e o aroma de queijo derretido com ervas tomava conta da cozinha. A casa de Marina, rodeada pela floresta e afastada do centro, era o tipo de lar que carregava calor humano e uma energia calma, mesmo quando abrigava três jovens Alfas com instintos em constante ebulição.

Jasmine estava sentada entre Namael e Naveen, cortando mais uma fatia da pizza preferida deles — peperoni com borda de catupiry. O riso leve de Marina ecoava enquanto ela secava as mãos no pano de prato e se encostava no balcão, observando os três com carinho.

— Fazia tempo que vocês não apareciam juntos por aqui — comentou ela, com o olhar demorando um pouco mais em Naveen, que ela considerava como um filho. — É bom ver vocês assim.

Jasmine sorriu e respondeu, tentando manter o tom despreocupado:

— A gente andou ocupado com os treinos, e... escola. — Não era exatamente uma mentira, mas também não era toda a verdade. Ela desviou o olhar rapidamente, o suficiente para que Marina não percebesse.

Namael permaneceu calado, observando discretamente Naveen, que não pareceu notar a tensão sutil. Ele estava mais relaxado agora, devorando a terceira fatia de pizza com entusiasmo. Ainda assim, havia uma chama acesa nos olhos dele — a mesma que jamais se apagava perto de Jasmine ou do meio-irmão.

— E você, Veen? Está se cuidando? — Marina perguntou, com um sorriso doce, enquanto passava a mão carinhosamente nos cabelos escuros do garoto.

— Sempre, Mari. Você sabe que eu não sobreviveria sem suas pizzas — ele brincou, com um sorriso que, por um instante, pareceu verdadeiro. Era como voltar para casa, mesmo que ele jamais admitisse em voz alta.

Quando o jantar terminou, Jasmine se levantou primeiro, empolgada.

— A noite está linda lá fora... Que tal uma corrida até a trilha da colina? — perguntou, os olhos brilhando, mas o tom casual. Era um convite e um desafio ao mesmo tempo.

Marina arqueou uma sobrancelha, meio divertida.

— Nada de exagerar, Jasmine. Só quero vocês de volta inteiros — disse, sem desconfiar que o desejo de correr era mais do que uma simples caminhada sob o luar.

Namael se levantou logo depois, pegando a jaqueta no encosto da cadeira.

— A gente só vai até a clareira. É bom correr um pouco, esfriar a cabeça — disse, jogando um olhar rápido para Naveen, que demorou um pouco mais, mas acabou concordando com um movimento de cabeça.

— Melhor do que ficar parado. — Ele jogou a última fatia na boca, limpou as mãos na calça jeans e os seguiu até a porta.

Do lado de fora, o ar estava fresco e puro, e a lua cheia brilhava com intensidade por entre os galhos das árvores. Assim que atravessaram o jardim e adentraram o limite da floresta, algo dentro deles começou a mudar.

Aquela sensação pulsante sob a pele, o chamado dos lobos.

No limite da floresta, a presença da natureza era quase palpável. O ar carregava o frescor da noite e o sussurro das árvores parecia chamar por eles — não pelos jovens que saíram da casa de Marina, mas pelas criaturas que viviam em suas peles.

Jasmine foi a primeira a sentir. O lobo dentro dela uivava em antecipação, inquieto e elétrico. Ela deu um passo adiante, inspirou profundamente e deixou seu corpo ceder ao chamado.

Seu corpo começou a mudar suavemente, como se a transformação fosse uma dança aprendida desde o nascimento. Ossos se moldaram, músculos se reajustaram, a pele cedeu lugar à pelagem. Quando terminou, ali estava a loba branca, esguia e ágil como a luz do sol atravessando as folhas. Seus olhos brilhavam intensos em um tom ametista, com uma força que parecia maior do que seu tamanho.

Namael não demorou. Seu lobo estava sempre à flor da pele, como uma sombra que nunca o deixava. A transformação foi mais silenciosa, contida, mas poderosa. Em segundos, o garoto deu lugar a um lobo de pelagem negra como a noite, grande e imponente, com olhos prateados que brilhavam como aço sob a luz da lua. Havia algo ancestral e perigoso nele — uma aura que gritava “Alfa”, mesmo em silêncio.

Naveen, por sua vez, tinha uma transformação mais explosiva. O calor em seu sangue pulsava mais rápido, seus músculos se expandiram com ferocidade, como se o lobo rugisse para sair. Quando terminou, lá estava ele: um lobo de pelagem cinza, mais robusto que os outros, com olhos âmbar flamejantes e expressão predadora. Havia selvageria em cada movimento, mas também um controle afiado, típico de quem fora treinado para dominar, não apenas seguir.

E então correram.

A floresta os acolheu como velhos amigos. As patas dos três tocavam a terra como tambores de guerra e liberdade. A loba branca deslizava entre as árvores com uma leveza quase etérea, os olhos observando tudo — não apenas o caminho, mas os dois que a seguiam. Ela não precisava ser a mais forte, porque era a alma do grupo.

O lobo negro, fiel à sua natureza protetora, mantinha-se próximo a ela, atento ao seu redor, os instintos alertas. Ele era a muralha silenciosa, a presença firme que jamais vacilaria. Seu silêncio era força.

O lobo cinza, veloz e voraz, liderava por impulso. À frente em alguns momentos, desafiador em outros, ele corria como quem queria provar algo — para si mesmo, para os outros, para o sangue Alfa que queimava em suas veias.

Chegaram à clareira em minutos. A lua os iluminava, e por um breve instante, não eram apenas jovens em fuga da realidade. Eram herdeiros de uma linhagem antiga, descendentes diretos da linhagem do Rei Alfa, cada um com uma centelha de poder que os distinguia de todos os outros.

A loba foi a primeira a uivar, clara e alta, como uma canção selvagem.

O lobo negro a seguiu, seu uivo grave e firme, preenchendo os espaços com autoridade.

Por fim, o lobo cinza ergueu o focinho e uivou também — não para acompanhar, mas para ser ouvido por cima dos outros.

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