Em uma fazenda no interior de Minas Gerais, Liana, uma mulher marcada pela perda do marido e fluente no idioma alemão, aceita o desafio de se tornar professora de Théo, filho de George Bruce, um ex-ator de filmes adultos. O que começa como uma relação profissional cercada de tensão logo se transforma em um amor inesperado. Quando Liana descobre estar grávida de George, que fez vasectomia e os dois precisam lidar com os dilemas e amor.
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Saí de casa logo cedo nessa segunda-feira, fiz minhas compras como sempre e, ao voltar, vi o dono com uma placa de "aluga-se" na porta: — Por que fez isso sem me avisar antes? Tenho direito a pelo menos um mês para achar outro lugar! Ele respondeu: — Achei que já tivesse saído da casa. Mandei vários e-mails e telefonei várias vezes. Que espécie de ser humano não tem celular em pleno século XXI? Já chega de desculpas, encontrarei alguém que possa me pagar em dia! — A resposta dele fez algumas pessoas que me assistiam ser despejada de casa, rirem. Apesar da frustração, consegui telefonar para uma amiga chamada Marcela, que me permitiu ficar em sua casa até resolver minha situação. Seria difícil me reorganizar, já que aquela era uma das casas mais baratas do bairro e estou sem emprego há quase dois meses. — Não fica assim Liana! As coisas vão se organizar! — Marcela tentava me consolar enquanto seguíamos para a casa dela. Ao longo dos meus trinta e cinco anos de vida, nunca passei por uma situação tão complicada a ponto de ser despejada de casa por falta de pagamento. Chegamos a casa dela, seria o caos conviver com os cinco filhos dela... Isso mesmo: cinco abençoados de idades diferentes e hiperativos! Eu queria ser mãe, antes de perder o único homem que eu amei nessa vida. Fernando era um verdadeiro príncipe de filmes de romance, nos conhecemos quando eu tinha vinte aninhos. Ele era empregado do meu pai quando tínhamos uma papelaria e foi amor a primeira vista, me casei em menos de um ano e tudo parecia perfeito. Até que as coisas ficaram difíceis e ele teve que trabalhar como caminhoneiro, em uma noite eu soube que ele nunca mais voltaria para casa... Nosso amor acabou na BR 153 próximo a uma pequena cidade chamada Paraíso do Tocantins, desde então EU NUNCA MAIS AMEI NINGUÉM! Em todos os sentidos e de todas as formas, não quis filhos e nem sair dessa solidão. Até cheguei a morar fora do país por um ano para trabalhar de empregada em uma casa de família e foi uma experiência ótima, pois aprendi o básico do idioma alemão. Se não fosse o assédio doentio do meu patrão e minha volta para o Brasil e isso tudo aconteceu depois da pandemia… — Desculpa te tirar de seus pensamentos, mas o jantar está pronto! — Estou sem fome Marcela. — Ela se sentou na cama. — Acho que Deus pode ter uma resposta para você bem mais rápido do que pensava. Olhe esse anúncio... Ela me mostrou no celular, havia uma vaga para trabalhar como professora particular de alemão. — Eu não tenho formação no idioma e não sei falar ou escrever com tanta fluência! — Mas sabe falar o básico, leia direito o que diz aqui. Terá que ensinar um menino de oito anos em uma fazenda que fica há umas três horas de viagem e isso resolveria seu problema com a moradia. Não sei se a empolgação dela vinha de me tirar logo da casa, ou se realmente me achava capaz de fazer isso dar certo. — Tem um e-mail para envio de currículo, tente Liana! O filho mais novo de Marcela a chamou, passei algumas horas pensando no que fazer até que pedi a ela que mandasse meus dados e um currículo mentiroso onde afirmo ser fluente. No dia seguinte, assim que ela chegou do trabalho e me encontrou com o almoço pronto... Me disse que haviam respondido com um pedido de entrevista e algumas informações sobre a possível contratação. Sentadas ao redor da mesa enquanto os meninos brigavam e gritavam quase nos deixando loucas, ela dizia: — Eles oferecem um salário de seis mil reais mensais, mais despesas médicas enquanto o contrato estiver em vigência. Além disso, moradia e alimentação! Preveem duração inicial de um ano, mas podem prolongar. — Nem é um salário tão alto assim, para uma pessoa que realmente tem um diploma nessa formação! — Caso confirme, sua ida a entrevista será amanhã às oito da manhã na fazenda! — disse ela, me entregando um papel com a relação de documentos que eu precisaria levar. Na data combinada... tirei as cópias e baixamos um falso diploma na internet, retirei do banco o pouco dinheiro que tinha e peguei um ônibus que me deixaria há algumas horas de lá. Pelo W******p da Marcela combinamos com um senhor que era funcionário da casa, que me buscaria quando eu descesse do ônibus e na hora marcada, ele estava lá. — Bom dia senhora, sou José. Motorista da fazenda Novo Acordo! — Muito prazer! — Apertamos as mãos. Como seria uma viagem relativamente cansativa, independente da resposta que eu teria. Iria pernoitar na fazenda e retornar no dia seguinte, ele me ajudou a levar a mala para o carro e foi muito gentil. Quando chegamos, aquela fazenda parecia o cenário de um filme antigo. Tudo era bonito, mas de uma forma rústica e, ao mesmo tempo, encantadora. — Uau! — Exclamei. — O senhor Bruce nunca gostou muito da vida aqui no campo, mas desde que trouxe o menino tenta deixar esse lugar um pouco mais moderno e sem a cara do velho George. — Ela é a candidata? — perguntou uma senhora sorridente que abriu a porta. — Sim, muito prazer me chamo Liana. Entramos, fiquei observando os quadros na parede e os lindos móveis de madeira. Ela me guiou até o quarto de hóspedes que ficava no andar debaixo. — O patrão deve chegar em algumas horas, descanse e pode me chamar caso precise de algo. — Sim e obrigada! — Ela saiu, fiquei olhando pela janela. O curral que cercava a casa, tudo aquilo parecia ser demais para minha situação atual e eu queria conhecer o menino. Quem sabe se eu o conquistasse, poderiam ignorar as milhares de mentiras que carrego dentro dessa bolsa. Duas horas passaram e nada desse bendito homem chegar, cansada de ficar dentro do quarto eu decidi dar uma volta e saí pela porta dos fundos. Não tive tempo de reagir, apenas ouvi um cachorro latir e quase me derrubar. — Desculpa dona! Ele costuma estranhar algumas pessoas... Quase sem ar, eu respondi: — Tudo bem, eu não devia ter saído da casa. — Como se chama? — Liana! — Prazer, sou Pedro, o capataz da fazenda. Então deve ser a nova professora do menino Théo, ele não para de dizer aos quatro cantos que finamente vai aprender falar alemão. — Ele arrematou com um sorriso, era um homem muito bonito e de barba farta. Eu retribuí a gentileza, sorrindo. — Ainda não fui contratada.LianaNão foi a melhor forma de contar ao Théo sobre sua mãe, mas Bruce devia isso ao filho e adiar só traria ainda mais conflitos entre eles. Fui para o meu quarto, espero que a conversa que tiveram realmente os aproxime.Telefonei para Marcela, ela e o filho tiveram uma ida ao psicólogo e espero que logo essa tristeza passe!Amanhece, as coisas por aqui parecem bem menos caóticas. Ivone me pede para ajudar com o almoço daquele dia, pois uma das empregadas tirou o dia para visitar um parente adoentado.— Seu apoio fez Bruce decidir finalmente levar Théo para conhecer Anneliese.— Será que cumprirá a promessa? Ou disse isso apenas para controlar o filho?— Ele cumprirá sim. Liana, mas... Sei que ele ficaria mais tranquilo se você fosse junto!— Eu? — respondo de imediato.— Vá com eles, dê seu apoio para o menino e ao meu filho.Engulo em seco, Bruce chega e nos vê cozinhando... Algo no olhar dele parece tão sereno, a liberdade de ter dito a verdade ao filho.Théo vem mais tarde, pega
BruceDurante nosso passeio, percebo Théo mais pensativo.— O foi filho?— O senhor não gosta que eu fale da minha mãe...— Théo, achei que tivesse esquecido disso. Permiti estudar o idioma, mas nunca alimentei esperanças sobre esse assunto!— Papai, eu já sou grande. Ouvi minha avó falando sobre ela... Mamãe está viva!Desço do meu cavalo, Théo faz o mesmo e se aproxima. Tenho adiado tanto esse assunto, trazer Liana para cá e ensinar alemão para ele... Acabou alimentando os sonhos mais absurdos em seu coração! — Ela não é uma pessoa que valha a pena conhecer! Você ama seu pai, Théo? — pergunto, chegando mais perto.Vejo seu olhar se encher de lágrimas.— Ela é má? — Sim, não quero que te diga coisas tristes. Te poupei todos esses anos por isso, te amo demais para permitir que sofra!— É mentira! Não acredito nisso, só está dizendo para me fazer desistir... Todos na minha escola têm uma mãe e eu não tenho porque você não deixa!Théo correu para o cavalo, montou rapidamente, seguindo
LianaO peso dessa revelação me desestabilizou, nunca pensei que pudesse estar sendo traída por Lucas. Ele sempre me dizia que eu era absolutamente tudo para ele! Chegamos de volta à fazenda, Théo veio todo feliz correndo em nossa direção. — Por que não me levaram também? — Meu amor, Liana e eu fomos resolver umas coisas urgentes! E eu tinha que ir ao leilão... — Bruce, compreendendo o quanto eu precisava ficar sozinha, o levou para dentro. Segui até o rio, mesmo que seja apenas por alguns minutos... Realmente, preciso ouvir só os meus pensamentos e molhar os pés. — Já foram passear logo cedo? — Pelo amor de Deus Pedro, hoje não! — respondo sem olhar para ele. — Liana, de verdade... Não se deixe iludir pelo dinheiro do patrão. Bruce não te merece! — Não tenho nada com ele. Mas a essa altura das circunstâncias, não preciso me justificar com você... Ele me segura pelo braço, nos olhamos furiosamente. — A ex dele veio aqui mais cedo, ela sabe que andam por aí sem se importarem c
BruceNo dia seguinte, eu estava sentado à mesa do meu escritório, vendo os papéis e tentando parar de pensar em Liana e na relação que ela nega com Pedro... Além da reação estranha que ela teve no dia anterior ao receber uma carta.A porta se abriu com um leve estalo, e Liana entrou. Eu não esperava que me procurasse para conversar em pleno domingo.— Bruce, eu preciso conversar com você — sua voz estava mais baixa do que o normal.Fechei os papéis que estavam sobre a mesa, deixando um espaço entre nós para que ela se sentasse, mas ela preferiu ficar em pé, como se tivesse hesitação até em ocupar um lugar mais perto de mim.— O que houve, Liana? — perguntei, tentando controlar a ansiedade que começou a surgir.Ela respirou fundo, claramente pesando suas palavras, e finalmente falou:— Eu preciso ir à cidade amanhã, Bruce. — Ela desviou o olhar, como se tentasse esconder o que estava prestes a dizer.Algo sério estava acontecendo, e ela não queria me contar.— Tem a ver com sua amiga
LianaMarcela precisava de mim, mas preciso manter o foco no trabalho ou Bruce vai desistir de me ajudar. Ele tem feito tantas coisas para me manter nessa casa que às vezes penso se realmente mereço sua consideração.Era sábado, finalmente, eu queria poder ir até a cidade e comprar umas coisas de uso pessoal. Não quero pedir para Pedro por motivos óbvios, ele ainda me cerca com olhares ameaçadores e não aceita que lhe dei o desprezo.Me levantei para tomar café da manhã, apenas Ivone ainda estava á mesa.— Bom dia!— Bom dia, Liana...— Théo já acordou? — pergunto em seguida.— Ele e o pai foram até a capital para buscar algumas peças. Fico tão feliz ao vê-los assim mais próximos.— Eu também fico, Théo precisa do carinho do pai!— Liana, me desculpe a intromissão... Você foi casada, certo?— Sim senhora, mas fiquei viúva muito nova. Eu tinha vinte e um anos na época e ele morreu em um acidente de caminhão!— Lamento muito. — Ele me olhou mais incisivamente. — Nunca mais pensou em se
BruceEu continuava sentado à mesa de meu escritório, com os olhos voltados para o copo vazio à minha frente. Liana não saía dos meus pensamentos, e eu tentava me convencer de que era só por Théo, de que meu interesse por ela era meramente profissional.Eu sabia que estava mentindo para mim mesmo, se até Elena, em sua loucura de ciúmes, percebera...A porta do escritório se abriu, interrompendo meus pensamentos. Minha mãe entrou sem bater, com aquele olhar de quem já sabia o que eu tinha matutando na mente. Ela não precisava de muitas palavras para me fazer perceber que sabia exatamente o que se passava dentro de mim.— Bruce — ela começou. — Eu vi Liana saindo do seu escritório agora há pouco, Elena novamente a ofendeu demais!— Eu darei ordens para que ela não entre aqui nunca mais, não posso mais confiar no bom senso dela... Elena está louca de ciúmes e medo de que eu deixe de dar dinheiro a ela e à tia todo mês! — tentei manter a calma, mas ela certamente faria outra leitura de t
Último capítulo