Letícia
Demorei a dormir naquela noite. Fiquei virando de um lado pro outro na cama, ouvindo o barulho do ventilador velho que insistia em fazer um chiado irritante. Gustavo dormia ao meu lado como se tivesse a consciência mais limpa do mundo. Talvez tivesse. Ele nunca teve moral pra se sentir sujo de verdade.
E eu?
Eu ainda me sentia dividida. Uma parte minha gritava que isso era baixo, sujo, que eu tava vendendo minha dignidade. Mas a outra parte… a outra parte lembrava de cada humilhação, de cada porta fechada, de cada prato que faltou na mesa. A outra parte sabia que uma oportunidade dessas não aparece duas vezes.
Às oito da manhã, levantei, tomei um banho demorado e encarei o celular por alguns segundos. O nome de Carolina brilhava nos contatos recentes. Respirei fundo. E liguei.
Ela atendeu na segunda chamada, com a voz carregada de deboche e satisfação.
— Já tava achando que você ia recusar — disse ela, quase rindo.
— Eu aceito. — soltei de uma vez, antes que minha coragem evap