Narrado por Bianca
A luz que atravessava a cortina da varanda era suave. Muito suave. Quase ofensiva.
Como se o mundo estivesse calmo, bonito, em paz.
Mas eu sabia a verdade.
A paz só existia onde eu não estava.
Levantei da cama com cuidado. O bebê ainda dormia no berço, com a boquinha entreaberta e os dedos fechados em punho. Ele parecia tão tranquilo… e tão frágil. E, mesmo assim, era por ele que eu carregava a aliança no dedo.
Caminhei até o closet. A governanta havia pendurado roupas novas nos cabides — vestidos caros, camisas de seda, sapatos que eu jamais escolheria. Tudo de marcas que gritam poder, tudo branco, nude, tons neutros.
Poder camuflado de elegância.
Escolhi a roupa mais simples dali — uma calça de alfaiataria preta e uma blusa bege de manga longa. Prendi o cabelo num coque desleixado e passei