Gravida do Mafioso
Gravida do Mafioso
Por: Enny Black
Capítulo I - Grávida

Diana Lizano

A vida é uma coisa engraçada. As pessoas que conheço olham pra mim como se minha vida fosse melhor do que a delas, já eu olho para elas e as invejo pelo que elas possuem. Acho que todas as pessoas que eu conheço possuem um pai, ou uma mãe, ou um tio, ou uma avó. Há uns afortunados que possuem tudo, pai, mãe, irmãos, tios e primos. Deveria existir uma forma de impedir que crianças fossem abandonadas por seus pais, pois não existe maior crime do que esse.

Eu era muito pequena quando fui abandonada por minha mãe em um orfanato. Era muito pequena para lembrar do rosto dela, mas grande demais para despertar o interesse dos casais que queriam me adotar. Lembro que eu tinha apenas dois vestidos e um eu guardava para usar somente quando tinhamos visitas no orfanato.

Eu sorria incansavelmente, como um filhote esperançoso tentando agradar os visitantes de alguma forma. As vezes meu rosto doía, mas eu não parava de sorrir, na esperança de conseguir agradar alguém e assim ser escolhida. Doía tanto quando eles iam embora e me deixavam para trás. Lembro que todas as vezes eu chorava, chorava muito.

A medida que eu crescia, as esperancas que eu tinha de ser adotada diminuiam. Não apenas pra mim, mas para as meninas de minha idade. Até que um dia minhas orações foram ouvidas.

....... 24 anos depois ........

_ Doutora! – A voz de Marta me desenterra do estado catatônico em que me encontrava. Olho a minha volta e não consigo acreditar que o teste de gravidez que estou segurando realmente é meu.

_ Sua mãe está subindo – Marta diz e a primeira coisa que faço é esconder o teste dentro da gaveta do armário ao lado da cama. Não posso nem imaginar o que Angeline Lizano faria se descobrisse que estou grávida.

A ideia de uma gravidez é tão absurdo que parece até uma brincadeira. Levanto apressada ao me dar conta de que ainda estou de camisola. Tomo um banho rápido e quando saio do banheiro, minha mãe está sentada no sofá do quarto me aguardando.

_ Você me parece bem – Ela me avalia balançando levemente a perna – Por que não foi trabalhar?

_ Não amanheci disposta – Respondo me sentado de frente para o espelho, soltando os cabelos ainda úmidos.

_ Indisposta? – Ela repete a palavra naquele tom de voz que odeio, duro e debochado – Desconheço essa palavra – Ela levanta e vem até mim, pegando meus cabelos molhados com as pontas dos dedos.

_ Minha nossa, Diana! O que está acontecendo com você? Seu cabelo está horrível, quando esteve no salão a ultima vez?

_ Desde que cheguei, não tive tempo para muita coisa – Eu falo e ela pega seu telefone e fazendo uma ligação, se aproxima da janela entreaberta do quarto.

_ Providencie um horário para a doutora Lizano, hoje, as 13h – Ela desliga o telefone e me olha novamente – Pronto. Não é tão difícil, é?

_ Eu tenho três cirurgias agendadas para essa tarde.

_ Desmarque. Não é dentro de um centro cirúrgico que irá consertar seu noivado.

_ Eu… - Começo a falar já sentindo o nó se formar em minha garganta.

_ Já passou da hora de você e Alberto se entenderem.

_ Eu não posso me casar com ele – Digo sentindo todos os nervos do meu corpo se contorcerem. Alberto tinha me dado uma surra de cinto, aquilo não era algo que dava para consertar.

_ Não pode? – Ela me lança seu olhar propositalmente confuso – Não sei o que aconteceu nessa ultima viagem que fizeram Diana, mas terminar um noivado de oito anos, no momento em que Alberto mais precisa de você, é no mínimo, desumano _ Ela fala como se conhecesse o significado daquela palavra – Já marquei um jantar para essa noite. Alberto e seus pais irão jantar conosco. Não se atrase.

_ Mãe – Eu a fito atônita, o coração desesperado dentro do peito. Eu quero tudo, menos ver Alberto na minha frente.

_ Sem choros, Diana. Você já não é mais uma menina, não pode dispensar um homem como Alberto por puro capricho.

_ Ele me bateu – Falo o que ela já sabe, com os olhos cheios de lágrimas, os músculos do pescoço retesados e um nó entalado na garganta. Não consigo acreditar que ela está fazendo isso comigo.

Ela me olha surpresa, mas logo se recompõe.

_ As mulheres de hoje exageram muito em seus relatos.

_ Ele me deu uma surra COM CINTO dentro do meu consultório – Falo ficando de pé, disposta a deixar a situação mais clara. Eu já tinha dito a ela que tinha sido agredida por Alberto, mas era evidente que isso não tinha sido suficiente para que ela entendesse a gravidade do que tinha acontecido, então decidi ponturar as coisas.

Ela puxou a toalha do meu corpo em um movimento brusco, me deixando completamente despida, em seguida me puxou pelo ombro para avaliar meu corpo. A sensação que tive foi a de que ainda tinha sete anos. Aquilo me magoou de forma tão profunda que não consigui reagir. Eu simplesmente fiquei dormentes.

_ Não estou vendo nenhuma arranhão. Não seja exagerada – Ela empurrou a toalha branca novamente nas minhas mãos – Pare de se comportar como uma garota fraca e tolä. Sabe o quanto desprezo esse tipo de comportamento. Agora troque de roupas, cancele as cirurgias de hoje e não se atrase para o jantar. Seu pai tem sentido sua falta.

_ Tudo bem – Respondi em meu tom de voz frio e dormente.

_ Não faça essa cara. Tudo o que faço é pensando no seu bem – Ela falou se retirando quarto e eu permaneci parada, de pé, no exato lugar em que ela me deixou.

_ Senhora… Não pode fazer isso – Ouço Marta falar angustiada, parada ao meu lado, me olhando com o semblante infeliz – Eu sei que não deveria me meter, mas… não pode se casar com um homem assim - Ela certamente tinha ouvido toda a discursão com minha mãe.

_ Eu falei tudo a ela e ainda assim ela quer que eu case, então eu vou fazer isso.

_ Por que? – Marta parou na minha frente e fez a pergunta que muitas vezes eu mesma me fazia.

_ Porque ela é a minha mãe.

_ Isso não está certo – A mulher me fitava inconformada – Ela é sua mãe, mas a senhora já é uma mulher. A senhora é uma médica, é uma mulher independente. Não pode permitir que outros tomem decisões no seu lugar.

_ A decisão é minha Marta, sempre foi. Sou eu que decidi fazer o que eles esperam de mim e eu vou fazer.

_ Não faça isso filha - Seu pedido foi quase um choro.

_ Por favor, me deixe sozinha – Pedi e quando Marta deixou o quarto, voltei para o banheiro e fechando a porta, empurrei as costas contra a parede e deslizei até o chão, ainda nua segurando a toalha, então deixei as lágrimas descerem.

Por que eu fazia isso? Essa era uma pergunta difícil de responder. Na verdade eu sabia exatamente a resposta para aquela pergunta, mas isso não mudava em nada quem eu era e como eu agia. Aquilo era mais forte do que eu.

Houve um tempo em que eu ainda busquei ajuda de psicólogos, mas eles só falaram o que eu já sabia. Era tão fácil dizer o que eu precisava fazer. E talvez fosse até muito fácil fazer o que eu precisava fazer, mas ainda assim, nada conseguia me tirar da prisão em que vivia.

Se Angelina Lizano me mandasse pular de uma ponte, eu sei que pularia. Por que? Porque eu devia a ela tudo o que eu era e a satisfaria. Loucura? fraqueza? Obstinação? Talvez tudo junto e muitas outras coisas, mas a verdade era essa e sempre seria porque eu já não me importava mais.

Eu não tenho amigas, nunca tive, mas se as tivesse, imagino que elas certamente me criticariam e até apontariam seus dedos para mim, mas quando eu fui abandonada por meus pais em um orfanato, nenhum casal me considerava uma opção para adoção, por causa da minha idade já avançada. Eu tinha seis anos e os casais preferiam sempre os bebês. Foi ela, Angelina Lizano quem parou diante de mim, estendeu sua mão, me deu seu sobrenome e prometeu mudar minha vida.

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