CAPÍTULO 3

Gaia abriu os olhos lentamente, exalando um baixo gemido de dor. Ela sentia como se sua pele estivesse engolfada em brasas, ela estava fraca e sonolenta, mas algo a estava exortando a acordar, a romper aquele muro de sombras. Foram alguns momentos antes que ela se acostumou com a pequena luz que vinha através das persianas fechadas, e então ela olhou em volta.

Ele estava em um hospital, ele podia reconhecer o equipamento médico, a cama Fowler, a bata agarrada à sua pele nua... mas isso era a única coisa que ele podia reconhecer. Bem, não era a única coisa, havia também aquele homem. Ela não tinha idéia de qual era o nome dele e sentia que o conhecia mais de seus sonhos do que de sua realidade, mas se havia uma coisa de que ela estava absolutamente certa, era que ele era a única pessoa que ela podia lembrar.

Uma tempestade de sombras, turbulenta e escura, vinda do rugido das ondas e seus próprios gritos a fizeram se recolher, apertando suas mãos em punhos antes de perceber que um deles não estava vazio. 

Alessandro reagiu como uma mola e imediatamente todo o sono que ele estava tendo parecia desaparecer.

-Você está se sentindo doente? - perguntou ele ansiosamente a Gaia. Onde isso dói?

Ele não sabia exatamente por que esta mulher lhe causava tanta inquietação, mas quando ela segurava seu olhar com aqueles olhos tão profundos como um nascer do sol, ele entendia que teria que reunir a vontade de continuar em um mundo onde ela não estivesse presente.

Gaia não respondeu, seu olhar vagando entre o equipamento, a agulha de soro no braço e o rosto de Alessandro, como se ela não pudesse compreender tudo o que estava acontecendo. Ele amarrou seus dedos com os dela e a ouviu suspirar de alívio.

- Meu nome é Alessandro, você está no hospital em St. Florent. Você se lembra do naufrágio?

Gaia enrugou sua testa e parecia que o menor gesto causou sua dor, então ela balançou levemente a cabeça. Não, ela não se lembrava do naufrágio, ela não se lembrava de nada de sua vida antes das ondas, da sede e do medo. Ela sentiu a angústia girar no meio do peito, fazendo um caroço na garganta, começou a tremer como uma folha exposta ao vento e lágrimas copiosas deslizaram por suas bochechas.

-Criança, não chore", murmurou Alessandro, limpando-as com as costas dos dedos, "Está tudo bem, vai ficar tudo bem, Gaia". Descanse, você precisa descansar, eu vou ligar para Jasp....

Mas ele não conseguiu terminar, ela se agarrou à mão dele como se fosse sua última chance de sobrevivência.

- Permanece...! -O murmúrio de sua voz foi uma carícia para os ouvidos dela. Você, fique.

Alessandro agarrou-se à beira da cama para não tremer, ele não planejava ir longe, mas ela não parecia disposta a largar por nada no mundo. Ele apertou o botão na cabeceira da cama e uma enfermeira pequena e gorda com olhos cansados entrou pela porta alguns minutos depois e sorriu à vista do paciente acordado.

-Pode pedir ao Dr. Holdder para entrar, por favor? -assimou o italiano com uma voz calma.

-Obviamente.

O quarto ainda estava em semi-escuridão quando Jasper entrou, com olheiras pronunciadas e seus cabelos desgrenhados como se ele tivesse tido uma noite muito difícil.

-Eles trouxeram outra onda de feridos, não trouxeram?

-Sim", confirmou Jasper, passando suas mãos pelo cabelo, "mais de trinta chegaram depois da meia-noite". Onze estão em estado grave, os blocos operatórios estão esticados além da capacidade e das camas, e receio que a maioria deles tenha lesões mais graves do que a desidratação. 

Ele apontou para Gaia e sorriu com aquela luz angelical que poderia tranquilizar qualquer paciente. 

-Fico feliz por você estar acordado. Você vai se sentir fraco por alguns dias ainda, mas vai se sentir melhor quando sua família estiver aqui com você. Você pode me dizer seu nome completo? 

Ele verificou seu pulso e examinou seus olhos com sua pequena tocha enquanto esperava por uma resposta, mas a resposta não veio.

-Gaia", interveio Alessandro. Seu nome é Gaia.

-Gaia", repetiu Jasper ao apontar para ele. É um belo nome. Você pode me dizer seu sobrenome, Gaia? 

A garota recolheu os lábios e os olhos de repente regou. Ela podia entender a pergunta, mas não podia responder, ela nem mesmo reconhecia o nome pelo qual estava sendo chamada.

-Eu entendo que você está assustada, minha querida. Você passou vários dias no mar, e é difícil acordar entre estranhos em uma cama de hospital, mas precisamos procurar sua família. Existe um número de telefone que possamos ligar, um nome que você possa nos dar?

Gaia levantou os olhos lentamente e apontou trêmula para o homem ao seu lado.

-Alessandro... 

-O quê, eu...? -O italiano não entendeu absolutamente nada, mas tentou entender quando a viu colocar uma mão no peito.

-Alessandro... protege... você..." Então ele negou veementemente, "não, não, não... me proteja... me...

Essa forma desorganizada de comunicação fez o sulco da sobrancelha de Jasper.

-Gaia", Jasper aproximou-se lentamente, "você se lembra de quem mais estava com você ontem à noite?

Os olhos da menina se iluminavam, sim, ela se lembrava de outra pessoa, ela sabia o que era, ela sabia que ele a havia encontrado com Alessandro, ela simplesmente não conseguia encontrar a palavra para expressá-la, defini-la, até que ela fez o som mais próximo que podia encontrar.

-Quem, whoa, whoa, whoa, whoa", ela imitou, apertando suas mãozinhas debaixo do queixo.

Jasper acenou com a cabeça por um longo segundo e depois falou com seu amigo.

-Alexander, saia comigo por um minuto, por favor.

Não foi um pedido e isso colocou DiSávallo em alerta em um segundo, porém seguir o médico se mostrou mais difícil do que ele esperava. Gaia se agarrou à mão e novas lágrimas começaram a jorrar por suas bochechas.

-Não... queda..." Ela fechou os olhos e se esforçou para lembrar como dizer o que queria. Por favor, fique.

Por favor, fique", Jasper a corrigiu gentilmente, depois a exortou a repeti-la lentamente.

-Por favor... por favor... fique... fique..." repetiu Gaia sem tirar os olhos de Alessandro, e Alessandro sentiu seus joelhos enfraquecerem. 

-Gaia, está tudo bem. Alessandro não vai a lugar algum, vamos apenas sair da sala e conversar. Você pode vê-lo através do vidro, vê?

Ela puxou as persianas e o corredor externo, cheio de pessoas correndo e médicos dando ordens, apareceu diante dela.

-Estarei bem aqui", garantiu Alessandro, desclassificando seus dedos tão ansiosamente quanto ela. 

Antes que ele pudesse perguntar a ela por que diabos ela estava falando dessa maneira, o médico o agrediu com outra pergunta:

-Ela lhe disse seu nome?

-Não, eu vi em sua pulseira. Por que Jasper fala assim?

O médico passou a mão sobre seu nariz e boca, pensando no diagnóstico.

-Temos que fazer alguns testes, uma ressonância magnética e uma avaliação psicológica. Vou chamar um colega para me ajudar.

-Espere um minuto. -Alessandro o parou. Avaliação psicológica? Para quê?

-Não seria correto dar um diagnóstico apressado. Nesse meio tempo, concentre-se no jogo, ligue para o contato familiar e descubra se há alguém com esse nome no manifesto de passageiros. Precisamos dos números de contato de sua família e temo que ela não vai se lembrar disso sozinha.

-O que você quer dizer?

-Di Sávallo, são quatro e meia da manhã, eu terei uma resposta para você às seis horas. Agora faça o que eu digo e deixe-me trabalhar.

Alessandro não era o tipo de homem que recebia bem as ordens, mas pelo menos ele era legal o suficiente para entender o estado em que o hospital se encontrava, e ele sabia que se quisesse resultados rápidos ele teria que dar espaço a Jasper. Levou cerca de quinze minutos para localizar o escrivão do manifesto no hospital e dar-lhe o trabalho de encontrar a família de Gaia, mesmo que ele não soubesse seu sobrenome, não poderia haver muitas mulheres com esse nome no navio. Em seguida, ele foi, como um cavaleiro errante, para se posicionar em frente ao cubículo de Gaia até que viu um médico de cabelos grisalhos com óculos de proteção entrar e cumprimentar Jasper. 

A garota parecia acordada e ansiosa, a desidratação havia diminuído um pouco durante a noite, mas a angústia havia apenas crescido, e a ressonância magnética não havia exatamente ajudado a tranquilizá-la. Ele a observava respondendo com absença às perguntas da psicóloga enquanto seu olhar vagueava fora do vidro, sempre procurando por ele. 

-Tiveste alguma sorte com a localização de seus parentes? - Jasper perguntou, saindo da sala.

Alessandro balançou a cabeça, silenciosamente. Assim que amanheceu, ele foi para Ethan Blake, ele era um dos melhores especialistas em controle de danos e gestão familiar em situações de desastre e estava no posto de comando central. Se alguém podia fazer qualquer coisa, era ele.

Do outro lado do vidro, o velho médico deu a Gaia alguns tapinhas carinhosos no ombro e saiu com um olhar preocupado no rosto.

-Meu diagnóstico estava correto, Jasper", confirmou. Ela está em estado de fuga.

-Estado de combustível? O que isso significa?

E o rosto de Alessandro ficou petrificado com a resposta.

- Significa que a única coisa de que ele se lembra é do mar, e as únicas pessoas que ele reconhece são você e Jo-Jo. 

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