Cap.7

      Abri meus olhos de maneira preguiçosa, após piscar algumas vezes lembrei

do que havia acontecido com o Sebastian, foi quando entrei em pânico, levantei assustada, olhando em volta, não consegui reconhecer onde estava, o que me deixou ainda mais aflita,

dei um salto da cama  vi que ainda estava vestida, não que a essa altura isso

dissesse algo, mas me deixou um pouco aliviada, olhei em volta, parecia um quarto normal, uma cama de casal, um guarda-roupa, as cortinas

estavam fechadas, mas alguns feixes de luz ainda conseguiam passar para dentro

do quarto, vi uma cômoda ao lado da cama, nele vi uma foto da dona Filomena,

tentei acalmar meu coração, fui até a porta e verifiquei se ela estava aberta, estava,

encostei a cabeça na porta tentando pensar no que fazer, no que tinha acontecido,

no que poderia ter acontecido enquanto eu estava inconsciente, meu corpo estava dolorido, sentia um gosto amargo na boca, senti meu rosto molhar.

    _ bela merda - rosnei entre dentes.

    Contei até dez e abri a porta, logo vi que de fato estava na casa da avó dele,

isso me deu um alívio enorme, sai pelo corredor, quando cheguei na sala encontrei

a dona Filomena, abraçada com o, Fernando? Fiquei olhando sem entender, não

sabia que eles se conheciam. Como não tinha sido vista, me afastei um pouco e

fiquei observando de longe, mas por alguma razão meu peito estava apertado, mordi o lábio que tremia um pouco, as lágrimas secaram, pareciam sem sentido.

     _ Não posso acreditar que ele fez isso, não depois de tudo que combinamos, só sendo um idiota – falou o Fernando com raiva.

    _ calma meu filho, todos nós erramos, e já que ele não cumpriu com a parte

dele no acordo, o certo é devolvemos o dinheiro - senti meu peito queimar, dinheiro?

    _ não, vou conversar com a Lívia, eu acho que ela gosta dele, quem sabe ela

não dê outra chance a ele, eles precisam ficar juntos, e posso até aumentar o valor para ele se comportar dessa vez, sei que ele quer abrir um consultório e isso não é barato - meu coração falhou.

     Cobri a boca com as mãos, não podia acreditar no que estava ouvindo, ele, ele.

Então era apenas assim que alguém poderia ficar comigo, por dinheiro? Minha voltade era gritar, mostrar que estava lá, que tinha ouvido tudo, pessoas que eu achava que me amavam, dinheiro? Era em torno disso que minha vida girava, mesmo que não desejasse isso. Voltei pelo

corredor  e fui para porta dos fundos, sai para as ruas e não sabia o que fazer, nem

mesmo para onde ir, o Rio estava longe demais, eu estava sem dinheiro algum, e

não tinha ninguém em quem confiar, estava mas sozinha que nunca, não podia

acreditar, era absurdo demais. Caminhei pelas ruas até parar em frente a um hotel, encarei por um tempo até que me lembrei de alguém, nem mesmo o celular estava comigo, senti que ia surtar, mas não podia, não ia dar esse prazer a eles, não os deixaria me destruir, respirei fundo e caminhei para dentro do hotel, fui até a recepção a recepcionista me olhou desconfiada, não sabia qual era minha aparência, mas precisava tentar. Quando expliquei que havia sido roubada, e que estava sem dinheiro nenhum, acho que ela achou que queria algum dinheiro, mas quando pedi para fazer uma ligação, ela permitiu, a questão agora era, para quem ligaria?

     _alô? – ele atendeu no segundo toque.

     _ sei que os alunos não devem entrar em contato para assuntos pessoais, mas

apenas não tenho para quem ligar, estou sem celular e não tenho dinheiro algum, eu...

     Assim que entrei na faculdade percebi o quanto ele era cobiçado pelas alunas,

e alguns dos alunos, mas não o via dessa forma, o admirava por ele ser bom no que

fazia, mas era apenas isso, só que infelizmente não tinha mas a quem pedi ajuda,

poderia ter ligado para o Rodrigo, mas não queria mas me envolver com ninguém

que fizesse parte desta família, não fazia ideia de como as coisas haviam chegado a

esse ponto, mas cá estava, ligando para o meu professor.

     _ onde está? - sua voz pareceu preocupada.

     Expliquei onde estava, contei a mesmo história do assalto, não queria dizer a verdade, se possível, queria esquecer que o dia de hoje existiu, para a minha surpresa ele disse que havia um conhecido no hotel onde eu estava, me pediu para esperar um popuco e assim o fiz, embora estivesse com medo que a moça da recepção chamasse a polícia, ou me mandasse embora, quando ele voltou a falar, disse para perguntar por Ethan Cross, agradeci e desliguei, fiz o que ele disse e assim que pronunciei o nome  a moça, assim que perguntei por ele,

a moça que antes me olhava com pena, arregalou os olhos, e acredito ter ficado desconfiada, em outro momento me importaria, mas não agora, tudo que eu queria era ir para casa, o que era uma pena que já não tinha uma.

    quando ela abriu a boca para dizer algo, o telefone tocou, depois de breves palavras seu rosto tomou uma feição desagradável, senti que a culpa de sua infelicidade era minha.

     _ o Sr.Cross está lhe esperando no restaurante para o café. – disse, ela era uma loira de

cabelos curtos, me indicando a direção que devia ir.

     _ obrigada.

     Caminhei a passos curtos, ao chegar na entrada do restaurante falei ao rapaz

que o Sr.Cross me esperava, mas uma vezes vi olhos surpresos, quando ele me

indicou onde ele estava agradeci, fui até ele, antes de chegar a mesa, vi apenas

suas costas largas, o mesmo usava um terno, mesmo que estivesse quente do lado

de fora, o hotel estava fresco, pude ver seu pescoço, a pele era branca, o cabelo era

negro e pelo que percebi estava molhado, e um pouco bagunçado.

         _Sr.Cross?

         Quando ele se voltou para mim, me deparei com olhos lilás, sobrancelhas

negras, seus olhos me avaliaram, os mesmos eram frios, sem vida até, não que isso

me importasse, ele me indicou a cadeira, sentei em silêncio, ele estaria indo para

o Rio, e me daria uma carona, era só o que importava no momento. Senti minha

barriga roncar, e, mesmo que não tenha sido me oferecido comecei a me servir,

comemos em silêncio, depois de algum tempo comecei a pensar no Fernando,

não conhecia aquele homem, nunca conheci, essa era a verdade, senti meu sangue ferver, podia imaginar  suas palavras doces para me fazer voltar com o Sebastia, em como eu era sua irmãzinha, o quanto ele me amava, que tudo que ele queria era o meu bem. Foi quando me dei conta que não sabia o que fazer, nem mesmo para onde

ir, não suportaria olhar para sua cara depois de tudo acabei por soltar um riso nervoso, dinheiro não era o problema, nunca foi, mas sentia que aquele

dinheiro não era meu, encarei a comida em meu prato e perdi a fome.

       Vi o homem à minha frente se levantar, sem falar nada começou a caminhar para fora do hotel, apenas o segui, quando chegamos à entrada do hotel um carro já nos esperava, um homem segurava a porta do banco de trás, para minha surpresa o Sr.Cross entrou, a porta

permaneceu aberta e eu entrei. Novamente o silêncio, não é como se me

importasse só precisava tomar um rumo na minha vida, qual seria é que era uma

incógnita. Meus olhos foram para fora do carro, as coisas haviam mudado, de

maneira brusca e dolorosa,  senti finalmente meu rosto molhar, deixei finalmente

meu coração doer, ele era tudo, tudo que me restou, tudo que eu amava e ainda

assim me feriu de uma maneira imperdoável, era impossível não doer, meu coração havia sido rasgado, coloquei a mão contra o peito tentando controlar o soluço, o que não adiantou, logo todo o carro foi preenchido com meu choro angustiado, havia sido traída, usada pela

pessoa que eu amava, ele era minha família, meu porto seguro, a pessoa que eu

mais confiava no mundo, e ainda assim ele… Ele… Senti meu corpo ser puxado, e

não me importei, fui envolvida em braços quentes, o que só me fez chorar mas, não tinha um pai, ou uma mãe, nem mesmo um único amigo que pudesse me consolar, ou dizer que eu não estava sozinha, entrei em desespero.

      Segurei seu terno com força e desabei, senti meu corpo tremer, e já não podia me

controlar, fui aninhada ainda mais em seu corpo, uma mão segurava minha cintura,

a outra afagava meu cabelo. Aos poucos os soluços foram parando, e por fim o

choro cessou, quando percebi a situação tentei me afastar, mas fui impedida, então

por agora não me importaria, fechei os olhos e senti meu corpo relaxar, até que no

fim tudo sumiu…

***********************************

      Senti um toque suave em meu rosto, e mesmo um pouco a contragosto abri os

olhos, ainda estava no carro, o toque era do Sr.Cross, o encarei por  um momento,

não estava mas em seus braços, o que me deu alívio, olhei para fora do carro e

percebi que estava em frente ao prédio onde o Fernando morava, esse lugar já não

era minha casa, soltei o ar, perdida, era assim que me sentia, mas não fugiria como

uma menina assustada, mesmo que fosse assim me sentisse.

           _ obrigada - não tive resposta, e nem esperei ter uma.

           Quando entrei no prédio pedi uma cópia da chave, a cada passo sentia meu

peito doer ainda mais, quando entrei no elevador, tentei pensar no que levaria, no

que era importante, foi quando me dei conta, a única coisa que valia apena era eu

mesmo, e foi a única coisa a qual não dei o devido valor, prezei pela família, mesmo

sem ter uma, busquei o amor sem de fato senti-lo, fui oferecida por dinheiro.

Quando as portas se abriram, já havia descido, ao entrar no apartamento, grande,

luxuoso, bem decorado, aquilo não era eu, era a vida que tinha conhecido, o meio em que tinha crescido, mas onde nunca fui de fato feliz. Fui para meu quarto, peguei as coisas da faculdade, algumas roupas, meus cartões, e sai, não me permitir nem mesmo uma última  olhada para trás.

           Ao passar pela portaria deixei a chave e sai, como não queria correr o risco de

encontrar o Fernando peguei um táxi e pedi que me deixasse na faculdade, paguei com cartão

e sai. Caminhei até alguns orelhões sem pensar muito liguei para o Fernando, fui atendida ao primeiro toque.

_oi, Fernando - tentei ser o mais fria possível.

_ graças a Deus Lívia, onde você se meteu?

_ amanhã pode trazer as coisas que deixei aí para a faculdade? apenas minha

bolsa e o notebook, o resto não precisa.

_ Lívia, o que…

          Desliguei, não queria ouvir sua voz, isso só ia me fazer chorar, a faculdade estava aberta apenaspara os alunos que moravam lá, não era minha intenção, mas foi o único lugar queme veio à mente, olhei em volta e sai andando pelas ruas, acabei achando um prédio residencial e pela placa havia vagas. Quando o senhor me mostrou o apartamento, fiquei feliz por já ser mobiliado, não precisaria pensar nisso, a verdade é que não queria pensar em nada, quando disse que ficaria, o vi abrir um sorriso, por sorte tinha com farmácia com caixa

24horas perto, tirei o dinheiro, para dois meses e um pouco para ficar usando no

dia a dia, comprei algumas barrinhas de cereal e uma garrafa de água. Com o

aluguel pago fui para (casa). Quando tranquei a porta me encostei na mesma, olhei

novamente para a sala, o lugar era pequeno, mas me pareceu acolhedor, a sala e

cozinha era estilo americana, havia um sofá de três lugares, na cor vinho, um

pequeno centro de vidro ficava a sua frente, não tinha tv, e não me importava com

isso, o que me agradou foi uma estante de madeira que tomava quase toda uma

parede, as paredes eram de cor lilás, a cozinha tinha todos os eletrônicos, todos

eram embutidos, o balcão que fazia a divisória com a sala também servia de mesa,

haviam três bancos altos, o quarto tinha uma cama de casal, um guarda-roupa,

tinha também uma pequena varanda, onde caberia uma cadeira, já sabia que ali

seria meu cantinho, o banheiro era igualmente pequeno, para mim estava perfeito.

Tomei um banho, me vesti e fui para a varanda, com alguns livros e meu caderno

de anotações, meu futuro era tudo que eu tinha.

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