Adorava as histórias da dona Filomena, era incrível como ela respondia minhas
perguntas sem eu ter que fazê-las, as vezes ainda me sentia sozinha, mas namaioria das vezes me sentia feliz. Nossa tarde estava tranquila, mas podia ver acara de tédio do Sebastian, não podia dizer que não o entendia, afinal ‘queríamos’,passar algum tempo juntos, fazendo coisas de namorados. Só que a noite anteriorestava me deixando desconfortavél, e estava com medo dele tentar algo, sabia que não erajusto, mas ainda não estava pronta para dar o que ele queria.Já era fim de tarde quando os pais do Sebastian chegaram, adorava os pais deles,
sempre me trataram muito bem, e sempre estavam com um sorriso no rosto, com aquele olhar amavel, de quem está sempre disposto a ouvir seus problemas, a ajudar a resolve-los._ quando pretendem vim passar mais tempo? – perguntou o pai dele.
_ eu saio de férias no próximo mês, se a Lívia estiver disposta, podemos passar o mês aqui, como uma lua de mel – a voz do Sebastian não escondia a empolgação.Mas as palavras dele, estavam erradas de tantas maneiras, que minha vontade era de manda-lo calar a boca, e deixar de falar tanta besteira.
_ acabei de começar a faculdade, não posso e já falamos sobre isso. - lhe dei meu melhor sorriso.
_amor você é rica, não precisa fazer faculdade – dessa vez não escondi meu olhar de raiva.Não acredito que ele tinha acabado de dizer isso, fingir não ter sido comigo, ter
dinheiro não é desculpa, e nem razão, para viver como uma esnobe, se fizesse isso, não seria melhor do que a Sheila, além do que o dinheiro que tinha foi algo deixado por pessoas quenem se quer me lembro, nunca achei que o dinheiro fosse meu, o plano era fazer afaculdade, ter minha vida e me livrar de tudo que me remete-se ao passado,passado esse do qual não fazia parte._mas vocês podiam ir nos visitar, ia adorar apresentar meu irmão a vocês – falei
empolgada com a ideia._ parece ótimo mas – a mãe dele começou.
_ não sei eles, mas eu irei sim, e pode arrumar um quarto pra mim – disse a donaFilomena;A encarei com um sorriso de orelha a orelha, a via como minha própria
avó, ela era sábia, carinhosa, tudo que eu imaginei ter em uma avó, nunca soubesobre os meus avos, então achei que se eu tivesse uma avó, queria que fosse igual aela._vai ser ótimo, assim que chegar vou arrumar um quarto para senhora. - falei empolgada._ amor, estava pensando se não queria ver um filme? - queria poder dizer não.Olhei para ele e concordei, ele estava carente, os pais dele ainda iam ficar um
pouco mais. A cidade era pequena, mas muito acolhedora, mesmo sendo a primeiravez que vinha me senti bem, em um futuro, talvez desejasse morar no interior, teruma vida calma. Andávamos de mãos dadas, as casas eram próximas, então nãodemorou para chegarmos, sua mão envolveu minha cintura e me puxou para seucorpo, podia sentir sua excitação contra mim, mas ele sempre me respeitou, e nãoera a primeira vez que ele ficava desse jeito, mas admito que é a primeira vez queme sintia incomodada com o contato, ao ponto de querer empurra-lo. Seus lábiostocaram os meus de forma urgente, correspondi, ou tentei corresponder da mesmaforma, sua mão se infiltrou dentro da minha camiseta apertando meu seio comforça, soltei um gemido, mas era de dor, foi com um alívio que percebi o barulho daporta sendo aberta, ele se afastou se jogando contra o sofá. Não sabia o que estavaacontecendo comigo, quando os pais dele entraram tentei parecer normal, masacho que não consegui. Disse que precisa ir ao banheiro e saí da sala quasecorrendo, precisava ficar alguns minutos sozinha com meus pensamentos, nãoamava o Sebastian, e nem acho que ele me ame, nunca falamos isso um pro outro,mas gostava de estar com ele, e acho que ele de estar comigo, mas ainda, gostavado seu toque, da sua boca em mim, me encarei no espelho tentando entender o queestava acontecendo comigo. Nunca acreditei no amor, ou nessa baboseira, sabiaque o Rodrigo amava minha tia, mas era óbvio que ela só o tinha como um objeto,então achei que um namoro sem amor seria a melhor saída, mas agora isso parecenão bastar. Não voltei a sala, não queria encarar ninguém, a verdade é que depoisdo aniversário queria ir embora, mas a ideia de ficar sozinha com ele estava medeixando inquieta, e a culpa era minha, eu o tinha provocado, bela situação eu mecoloquei.Tentei pensar em outra coisa, peguei o laptop e tentei trabalhar no meu projeto,
ele estava praticamente acabado, tinha que colocar os cálculos, e acrescentar a áreade construção, a ideia era projetar algo que desejássemos ter no futuro, resolvioptar por uma casa térrea, elevada meio metro do chão, com uma varanda,garagem para um carro, dois quartos, cada qual com um banheiro, cozinha comporta para o quintal dos fundos, sala de jantar e estar integradas, quintal dosfundos com mudas de árvores, e com uma cerca de ferro._ amor?
Olhei pra cima e o encarei, não sabia o que dizer, e nem se queria dizer alguma
coisa, ele era lindo, mas em alguns momentos teria que falar o que estou pensando,mas não hoje, não agora. Dei um sorriso e o chamei para o meu lado, não ia falar doque estava sentindo, mas de algo que me incomodou._ eu não gostei nenhum pouco de você ter falado que por eu ser rica não devia
estudar. - falei seria. _ desculpa, brincadeira infeliz, mas amor, olha onde você mora, olha a vida quevocê tem, tenho certeza de que se nunca trabalhar vai continuar tendo essa vida.Eu só achei... _ achou errado, o fato de ter dinheiro não me torna alguém fútil, não sou assim. _ desculpa, - ele me deu um beijo e deixei.Descemos para comer, os pais dele me olharam desconfiados, sou educada, mas
não falsa o bastante para esconder meu incômodo, ainda assim comemos em umclima agradável, percebi os olhos do Sebastian me avaliando, me desejando,amanhã estaríamos voltando, e estava com medo dessa volta, não acredito queestava com medo dele. Depois de comermos fomos ver um filme, deitei em seuombro e tentei me concentrar no que passava na TV, coisa que não estavaconseguindo, o Sebastian não parava de me tocar, acabava por retribuir algunsbeijos, queria sair, ficar longe. Me sentia uma louca, só podia, até poucas horasatrás me sentia confortável com ele ao ponto de deixá-lo me tocar, agora estouabominando o seu mais simples toque.Quando terminamos de ver o filme ele foi tomar banho para dormir, sem pensar
duas vezes, calcei a sandália, peguei o laptop, e saí do quarto sem fazer barulho,queria ficar longe dele, só isso. Achei refúgio no quintal dos fundos, eles tinhamuma árvore alta que me daria abrigo por algumas horas. Sentei no chão com ascostas apoiada na árvore, estava de costas para a casa, e protegido pela noite, abrio laptop e resolvi procurar algumas referências que o professor tinha me dado, epelo que via sua paixão se encontrava em Veneza, não achava o lugar tentador, masele falava com tanta paixão que me deu vontade de conhecer o lugar, um dia talvez.Vaguei em pensamentos sobre o futuro, principalmente sobre meu namoro, sabiaque eu tinha feito essa escolha, só não a queria mais para mim, do ponto de vistadele eu poderia está errada, e talvez estivesse.Olhei o céu e acabei encarando a lua, era incrível como ela ficava ainda mais
linda, sem a grande quantidade de luzes da cidade grande, era como se fosse ummundo totalmente diferente, ainda assim não era o meu mundo. Continueiprocurando construções que me despertasse algo em mim, mas não, sabia queengenharia era parte de mim, talvez a parte da qual mas gostasse, e tinha que teralgo no mundo que me despertasse essa paixão, fazer os trabalhos de escola eramdivertidos, mas muitas coisas eram. Amor... Essa era a palavra que o Daniel usava,que o amor estava em cada construção de Veneza, mas no final, apenas amor nãobastava. Fechei o laptop com raiva, afinal o que eu amava? Quem? Meu irmão? Namaioria das vezes desejava matá-lo, não tinha pais, é nem amigos para amar, oRodrigo era mais uma admiração do que amor, e me amar? Isso sem dúvidas eraum problema, mas depois de tantos anos indo e vindo de psicólogos dizendo que oproblema é na sua cabeça, apenas chega uma hora que você acredita.Deixei meu trabalho um pouco mais complexo, acrescentei as referências, nada
de Veneza, do jeito que ele é, não duvido que ache que seja só para agradar. O frioainda me envolvia, ao conferir a hora, 01:59, havia passado bastante tempo, esperoque ele já esteja dormindo, levantei com cuidado, minhas pernas doíam um pouco,ao entrar fui para a cozinha, não queria ficar no mesmo ambiente que ele, sentiaque o problema era em mim, talvez o sonho estranho da noite anterior tenha medeixado perturbada, sempre tive sonhos com pessoas que provavelmente só viuma vez, mas não era acostumada a sonhar com pessoas sem rosto, não sabiacomo isso me mudou com o Sebastian, mas mudou, além das palavras do seu irmão.Como realmente não estava disposta a voltar ao quarto resolvi m****r meu
projeto para o Daniel.___________________________________________________________
DE: Lívia Souza de AlbuquerquePARA: Daniel da Silva CastroASSUNTO: Edificações(*****) ANEXO(*****) ANEXOAcho que errei em alguns pontos de referência, mas não achei nada que se
encaixasse no que eu queria, o cálculo do segundo andar segue a mesma linha doprimeiro. Minha ideia inicial seria apenas um térreo, mas não consegui.O segundo anexo é referente a meios ecológicos e as matérias usadas, mas nãoconsegui achar distribuidoras brasileiras, fiz o cálculo do custo de cada material,incluindo a importação.Lívia Souza
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Fui até a geladeira e me servi um copo com água, apesar de não estar em casa, os
pais do Sebastian sempre me deixaram bem à vontade, quando voltei a olhar olaptop já havia uma resposta dele.______________________________________________________________________
DE: Daniel da Silva CastroPARA: Lívia Souza de AlbuquerqueASSUNTO: EdificaçõesNão se exija demais, está no primeiro mês de faculdade, sei que é dedicada, mas
errar faz parte de aprender. As matérias primas realmente não são encontradas nobrasil, uma pena. Mas agora como seu professor a estou mandando para a camamocinha.______________________________________________________________
Dei um sorriso e resolvi seguir seu conselho, embora a vontade de voltar para
o mesmo quarto que o Sebastian fosse nenhuma, conferir a hora, não que issoimportasse, subi até o quarto, abri a porta com cuidado, vi que o mesmo dormiatranquilamente, olhei minha mochila, e sem me dar escolha a peguei e saí de fininho, já na sala, me sentia aliviada, quando voltasse ao Rio o procuraria depois e esplicaria as coisa, masquando estava abrindo a porta as luzes foram acessas, olhei para trás e me depareicom ele, me encarando, me questionando, mas não ia agir como um cão assustado.Seus olhos mostravam a raiva que estava sentindo, o que poderia fazer? me
desculpar estava fora de questão, não me sentia mal por estar indo embora, não lhe devia nada, não era sua propriedade._ esperava bem mais de você, como pode me deixar assim? Sem nem ao
menos uma explicação? - acabei dando um meio sorriso. _ não tenho que te dar nenhuma explicação, ao menos não agora - me virei para sair.Sentir meu corpo ser puxado com força, e algo umido contra minha boca, depois
disso tudo sumiu, uma névoa havia se formado em minha mente, talvez soubesseo que estava acontecendo, apenas não queria acreditar. Meu mundo estava ruindomais uma vez? A diferença é que desta vez eu sabia que me lembraria de tudo quando finalmente abrisse os olhos.