Ponto de Vista de Olivia
Eu não fazia ideia de que o lugar para o qual Derek me enviara era, na verdade, um centro de recuperação. Meu coração batia forte enquanto eu seguia sua ligação psíquica até lá. Quando atravessei a porta, o cheiro de antisséptico do hospital me atingiu, e meus instintos de curadora já estavam em alerta máximo.
— Dra. Winters! — Uma jovem enfermeira me reconheceu. — Eles estão na Sala 204.
Quase derrubei um carrinho de medicamentos de tão apressada que estava para chegar à sala. A cena que me aguardava me paralisou na porta.
Oliver estava inconsciente na cama do hospital, seu rosto, normalmente cheio de energia, agora pálido como um fantasma contra os lençóis brancos e imaculados. Sua perna direita estava fortemente enfaixada, e múltiplos monitores criavam uma sinfonia de bipes ao seu redor. Um soro intravenoso alimentava um fluido claro em seu braço.
— O que aconteceu? — Perguntei, meus olhos já analisando automaticamente os monitores. Frequência cardíaca elevada, mas estável. Pressão arterial um pouco baixa. Níveis de oxigênio bons.
Derek deu um passo à frente de onde estava, perto da janela.
— Ele caiu enquanto escalava. Os médicos dizem.
— Escalada? — As palavras saíram como um sussurro sufocado. — Me diga que você não o levou para escalar.
Rachel, que eu não havia notado sentada no canto, se levantou.
— Foi uma atividade supervisionada. Todas as outras crianças da matilha estavam lá.
— Escalada? — Minha voz subiu abruptamente, cortando a explicação dela. — Vocês estão completamente loucos? Sabem da lesão antiga dele!
A memória daquele dia terrível, quando Oliver tinha três anos, invadiu minha mente. Derek o havia levado para uma sessão avançada de treinamento destinada a filhotes de lobos mais velhos, ignorando meus protestos de que Oliver era muito novo.
— Ele está bem agora. — Derek tentou me acalmar. — Isso foi há anos.
— Sem problema? Eu vou me aproximar dele. — Retruquei, a raiva tomando conta de mim. — Aquela lesão quase custou o futuro dele de se transformar! Você sabia que ele quase perdeu sua forma de lobo para sempre?
Rachel se colocou entre nós, com o rosto marcado pela preocupação.
— Os médicos disseram que ele vai precisar de cirurgia. Devemos focar nisso agora.
— Por que você estava lá? — Girei-me para ela, furiosa. — O que te dá o direito de tomar decisões sobre as atividades do meu filho?
— Eu me importo com o Oliver. — Respondeu ela, sua voz trêmula com uma precisão perfeitamente calculada. — Eu o vi ficar mais forte a cada dia. Ele não é mais aquele menino frágil de antes.
— Você não sabe nada sobre ele! — Os bipes dos monitores aumentaram ligeiramente enquanto minha voz se elevava. — Eu passei meses curando aquela perna. Incontáveis noites canalizando meu poder nas musculaturas e tendões danificados. Um movimento errado pode acabar com qualquer chance de uma futura transformação dele!
Os olhos de Rachel se encheram de lágrimas.
— Precisamos discutir os custos da cirurgia. O especialista está esperando.
Eu a interrompi, minha voz fria.
— Eu dei para o Oliver um cartão preto. — Falei. — Uma vez, dei a ele um cartão de 30 mil reais que podia ser usado para pagar contas médicas.
O olhar e a expressão de Rachel foram dramaticamente exagerados.
— Como você pode ser tão fria? Seu filho está aqui, machucado, e sua única preocupação é com dinheiro?
Uma risada amarga escapou de mim.
— Meu filho? Agora ele é meu filho? Engraçado como ele de repente se torna meu filho quando as contas precisam ser pagas.
— Eu estive aqui por ele. — A voz de Rachel vacilou. — Eu vi ele se machucar enquanto você estava ocupada com seus deveres de curadora. Fui eu quem...
O estalo da minha palma contra a bochecha dela ecoou pela sala estéril do hospital como um tiro.
— Não se atreva. — Sibilei, minha mão ardendo. — Não se atreva a fingir que sabe algo sobre...
— Mãe, pare!
A voz de Oliver, fraca, mas determinada, veio da porta. Ele estava lá, de pijama de hospital, apoiando-se pesadamente na moldura da porta. Seu rosto estava branco de dor, mas seus olhos brilhavam com raiva enquanto ele cambaleava para frente.
— Oliver, volte para a cama imediatamente! — Me movi para ajudá-lo, mas ele se afastou.
— Não a toque! — Ele se posicionou na frente de Rachel, balançando levemente. Cada movimento claramente lhe causava dor, mas ele se manteve firme. — Deixe ela em paz!
Meu coração se despedaçou ao vê-lo lutar para ficar em pé, protegendo-a enquanto claramente estava em agonia. Os monitores na sala começaram a apitar com mais urgência.
— Oliver, por favor. — Estendi a mão para ele novamente. — Você precisa deitar. Vai piorar a lesão...
Ele se afastou do meu toque como se queimasse.
— Não!
— Oliver. — Minha voz quebrou. — Eu sou sua mãe. Sua verdadeira mãe. Aquela que te carregou por nove meses. Que quase morreu ao te trazer para este mundo.
O ritmo dos monitores se tornou mais errático à medida que a frequência cardíaca de Oliver aumentava.
— Você lembra quando era pequeno? — Continuei, as lágrimas queimando meus olhos. — O quanto você ficou animado para me mostrar seu primeiro dente de lobo? Você não via a hora de eu chegar em casa naquele dia. Você me encontrou na porta, pulando de felicidade...
— Pare com isso. — Oliver sussurrou, mas eu não conseguia parar agora.
— Lembra de como você subia no meu colo depois dos pesadelos? Como você só comia a sopa que eu fazia quando estava doente? — Minha voz quebrou. — Você sabe quantas noites eu passei acordada, observando sua respiração quando estava doente? Quantas vezes eu quis pegar sua dor para mim quando você se machucava?
— Pare com isso! — A voz de Oliver se elevou para um grito. — Só pare! A Rachel é a que sempre está lá para mim agora! Ela vai aos meus eventos escolares! Ela ajuda com meu dever de casa! Ela...
— Porque eu deixei! — Me virei para Derek. — Como você ousa agir com moralidade agora? Isso é culpa sua! Você incentivou isso. Deixando outra mulher fazer o papel de mãe para o nosso filho!
Derek deu um passo à frente, com o rosto carregado de raiva.
— Oliver, peça desculpas para sua mãe agora mesmo. Esse comportamento é inaceitável.
— Não seja um hipócrita! — Cuspi as palavras como veneno. — Eu sei de tudo. Eu encontrei as fotos de você e a Rachel. As cartas de amor. Eu sei até do lenço de seda, o brinde das bolsas que meu filho comprou para a sua ex-namorada com o meu dinheiro!
A sala começou a girar. Manchas negras dançaram nas bordas da minha visão. A última coisa que ouvi foi o alarme dos monitores e várias vozes chamando meu nome.
Quando recobrei a consciência, meus olhos foram recebidos pelo teto branco e limpo do centro de tratamento. Sentei-me, e foi aí que percebi que Derek estava sentado ao meu lado, e ao lado dele, na cama do hospital, estava Oliver. E sobre o pequeno armário no meio das nossas camas, havia o documento de rescisão de parceria que eu havia pedido para Nathan preparar.