Ponto de Vista de Olivia
As luzes fluorescentes e intensas do teto do hospital ganharam nitidez à medida que eu piscava, afastando a escuridão. Minha cabeça latejava com uma dor suave enquanto tentava me erguer sobre os cotovelos. Sentia-me desorientada, com os pensamentos turvos nas extremidades da mente.
— Ela acordou! — A voz de Derek cortou a névoa que tomava minha mente.
Virei a cabeça para ver Derek sentado entre duas camas de hospital, uma na qual eu estava deitada e a outra ocupada por Oliver. Seu pequeno corpo parecia ainda mais frágil contra os lençóis brancos, com a perna elevada e fortemente enfaixada.
Derek se levantou rapidamente e correu até o meu lado, seu rosto era uma máscara de preocupação.
— Graças à Deusa da Lua, você está bem. Nós ficamos com medo, querida.
A mão dele se estendeu em direção à minha, mas eu a afastei. Os papéis de divórcio estavam sobre a pequena mesa entre nós, um lembrete cruel da realidade.
Oliver, por outro lado, nem sequer olhou para mim. Seus lábios estavam apertados, e seu olhar fixo no teto acima dele. A indiferença completa em sua expressão atingiu-me como uma faca no meu coração.
— Eu disse que ela ficaria bem. — Murmurou Oliver, sem sequer me olhar. — A loba dela é forte demais. Ela provavelmente está só fingindo para chamar atenção.
Minha respiração ficou presa na garganta. Quando meu doce menino se tornara tão frio? Era isso mesmo que o meu filho estava dizendo?
Derek lhe lançou um olhar severo.
— Oliver! Não é assim que se fala da sua mãe.
— Tanto faz. — Oliver revirou os olhos e puxou com urgência a manga de Derek. — Já que ela acordou, podemos ir procurar a tia Rachel? Você prometeu que poderíamos vê-la depois que ela terminasse de conversar com o médico.
“Tia Rachel.” As palavras ecoaram dolorosamente em minha cabeça. Cada vez que ele a chamava assim, parecia que outro pedaço do meu coração se despedaçava.
— Oliver, por favor. — Derek começou, mas meu filho já tentava se levantar da cama, fazendo uma careta de dor ao mover a perna machucada.
— Eu quero ver a tia Rachel. — Insistiu, sua voz subindo a cada palavra. — Ela estava chorando quando saiu. Eu preciso ter certeza de que ela está bem.
A preocupação na voz dele por Rachel, quando ele nem sequer conseguia me olhar depois que eu desmaiei, foi o estopim. Uma estranha calma tomou conta de mim, enquanto algo dentro de mim se partia para sempre.
Sem dizer uma palavra, alcancei meu celular sobre a mesa de cabeceira. Meus dedos se moveram automaticamente, abrindo o aplicativo do banco. A interface era familiar eu havia passado incontáveis horas transferindo dinheiro, pagando contas, mantendo nossa família em pé.
Naveguei até as autorizações da conta e rapidamente revoguei o acesso de Derek à minha conta pessoal. O cartão de crédito premium, que lhe dava acesso ilimitado a fundos mensais para manter sua empresa farmacêutica falida funcionando, foi apagado com apenas um simples toque do meu dedo.
Com mais alguns movimentos, cancelei os pagamentos automáticos da escola infantil de elite de Oliver. A mensagem de confirmação apareceu: "Pagamento da mensalidade cancelado." Toquei em "Confirmar" sem hesitação.
Em seguida, encaminhei um e-mail para a coordenadora das atividades extracurriculares de Oliver, retirando-o do treinamento de combate de lobos caríssimo, que custava milhares a cada mês.
"Por favor, retire Oliver Winters de todas as sessões agendadas, com efeito imediato", escrevi.
Por fim, cancelei a ordem permanente para as ervas raras europeias, de mais de 100.000 dólares anuais que fortaleciam sua constituição fraca. Essas ervas o haviam impedido de ter reações alérgicas graves, haviam fortalecido seu sistema imunológico. Mas, se Rachel agora seria a mãe dele, que descobrisse como mantê-lo saudável.
Derek percebeu minha expressão concentrada e o movimento rápido de meus dedos pela tela. Seu rosto empalideceu rapidamente, à medida que a compreensão começava a surgir.
— Olivia, o que você está fazendo? — O pânico tomou conta de sua voz. Ele tentou pegar meu celular, mas eu o afastei.
Levantei os olhos, encontrando seu olhar diretamente.
— Estou abrindo espaço para a Rachel.
— O quê? — Sua confusão parecia genuína, mas eu já estava cansada de suas mentiras.
— Você me ouviu. — Olhei para Oliver, que agora me observava com um olhar desconfiado. — Você sempre quis que a tia Rachel fosse sua mãe, não foi? Então, já que estou indo embora, por que você não deixa ela ser sua mãe a partir de agora?
O rosto de Oliver se transformou instantaneamente. O olhar sombrio desapareceu, substituído por uma alegria de olhos arregalados. Ele assentiu ansiosamente, como se tivesse medo de que eu mudasse de ideia. Sua reação foi como uma prova física de tudo o que eu suspeitava.
— Sério? Você está falando sério? — Sua empolgação foi como um golpe físico no meu peito. — A gente pode fazer isso hoje? Você pode quebrar o vínculo de companheira com o papai hoje?
Derek rapidamente cobriu a boca de Oliver com a mão.
— Ele não sabe o que está dizendo. Ele é só uma criança, Olivia. Ele não entende o que significa quebrar um vínculo de companheiros.
Oliver se esforçou contra a mão de Derek, puxando-a para longe com uma força surpreendente.
— Eu não sou idiota! Sei exatamente o que quero. Se ela quer ir embora, então deixe-a ir!
Ele me olhou com tanto ódio que mal o reconheci como o mesmo garoto que, em tempos de tempestade, se agarrava a mim.
— A tia Rachel também vai ganhar muito dinheiro continuou Oliver, desafiador. — Ela me disse que trabalhou em uma grande empresa antes de vir trabalhar para você. Ela não precisa do seu dinheiro!
Fiquei olhando para meu filho, sentindo apenas um vazio oco onde antes havia meu coração. Suas palavras deveriam ter me ferido, deveriam ter me feito chorar, gritar ou implorar para que reconsiderasse. Mas não senti nada. Era como se minha última lágrima já tivesse sido derramada, minha última esperança já tivesse sido extinta.
Ava, minha loba, estava incomumente silenciosa dentro de mim. Normalmente, ela lutaria pela nossa família, pelo nosso filhote. Mas até ela parecia ter desistido.
O rosto de Derek ficou ainda mais pálido. Ele agarrou meu pulso, com a pegada forte.
— Olivia, você não pode estar pensando... — A voz dele falhou.
Meu coração acelerou só de pensar no que estava prestes a dizer.
O monitor ao lado da minha cama começou a apitar mais rápido, registrando minha frequência cardíaca acelerada, apesar da minha calma aparente. Uma enfermeira apareceu na porta, preocupada com a mudança nos meus sinais vitais, mas eu a afastei com um gesto.
Depois de tantos anos como companheiros, era óbvio que Derek sabia exatamente o que eu ia fazer.
— Você não está pensando claramente. — Implorou Derek, a voz baixa, quase um sussurro. — Você acabou de passar por um choque e qualquer atitude agora seria uma decisão irracional.
— Nunca pensei de forma mais clara em toda a minha vida. — Respondi friamente. — Durante anos, te apoiei financeiramente, emocionalmente, de todas as maneiras possíveis. E é assim que você me paga? Deixando outra mulher roubar meu lugar no coração do meu filho?
Oliver gritou de repente da cama dele:
— Ela não roubou nada! Eu a escolhi!
Essas palavras essas simples e cruéis palavras do meu filho de cinco anos foram a confirmação final que eu precisava. Não havia mais nada aqui para mim. Nada que valesse a pena lutar.
Totalmente desapontada, olhei para a dupla pai e filho em silêncio. Abrindo a boca, disse:
— A partir de hoje, dissolverei o vínculo de companheiros com você, Derek. — Disse, minha voz mais firme. — Em nome da Deusa Lua, a partir de agora, eu e vocês dois, pai e filho, não teremos mais nenhum relacionamento. E eu tomarei de volta tudo o que eu te dei, incluindo a vila, o apoio à sua empresa e o jardim de infância aristocrático de Oliver.