Eu estava aqui o tempo todo
Eu estava aqui o tempo todo
Por: Paula Albertão
1 - Uma festa idiota

                As luzes brilhando estavam me incomodando profundamente, bem como a música excessivamente alta naquela casa imensa e desconhecida.

                O que, diabos, eu estava fazendo naquele lugar? Por que eu tinha que ter cedido as suplicas de Sam? Eu nunca mais ia cair nas lamentações dele na minha vida!

                Percebi um movimento ao meu lado, um garoto movendo os lábios, mas eu não conseguia ouvir uma única palavra por causa daquele som insuportável. Olhei para ele com a testa franzida, e ele riu abertamente.

                - Oi? – ele se inclinou para falar diretamente no meu ouvido.

                - Essa música é ridiculamente alta. – justifiquei aos berros.

                - Meu nome é Muriel. – ele falou no meu ouvido novamente.

                - Sarah. – eu iria ficar com dor de garganta, certeza.

                Ele riu outra vez, e comecei a ficar ainda mais irritada.

                - Vamos lá para fora. – não era um pedido.

                Cruzei os braços, então ele voltou e se inclinou uma última vez.

                - Por favor?

                Bom, já que agora estava sendo educado...

                Segui o estranho até o lado de fora, que era uma espécie de jardim repleto de árvores. Haviam casais por todos os lados, sob todas as sombras possíveis.

                - Melhor, Sarah? – Muriel perguntou.

                Olhei para ele com atenção pela primeira vez. Seus cabelos eram castanhos, cortados bem curtos, e os olhos castanhos eram brilhantes e animados. Estava vestido com uma camiseta branca e uma calça escura, ambas lisas.

                - Muito. – respondi, aliviada por não precisar gritar.

                - Se odeia tanto som alto, o que está fazendo aqui?

                - Meu amigo me arrastou. – tentei conter uma expressão contrariada, mas não tenho certeza se deu certo – Particularmente odeio essas festas, essas casas luxuosas e essas pessoas ricas e sem medo de consequências. – as palavras saíram antes que eu pensasse direito.

                Muriel pareceu perplexo por um momento.

                - Ah... – murmurou instantes depois – Fico feliz em ter sua opinião. Vou pensar nisso antes de organizar qualquer outro evento do tipo.

                Fiquei completamente parada, com a mente em branco, enquanto ele me dava as costas e se afastava em direção ao interior da festa.

                O que tinha de errado comigo? Como eu pude dizer essas coisas para um completo estranho? Nunca senti tanta vergonha em toda a minha vida!

                Rapidamente segui para onde ele tinha ido. Eu precisava pedir desculpas por ter sido tão grosseira, depois eu procuraria Sam, gritaria com ele por me enfiar naquela situação e iria embora. E nunca, jamais, eu entraria em outra festa como essa.

                Felizmente não precisei procurar muito. Logo o avistei, de costas, conversando animadamente com um grupo de pessoas. A parte boa é que não parecia muito chateado comigo, já que estava sorrindo e sem nenhum traço de irritação no rosto.

                Cutuquei seu ombro com o dedo, o que não parecia uma boa abordagem, mas surtiu efeito. Ele se virou para mim, procurando quem o interrompia, enquanto todas as outras pessoas também me observavam.

                - É... – comecei, insegura com tantas pessoas olhando na minha direção.

                Muriel sorriu, depois colocou a mão na minha nuca e juntou os lábios nos meus sem pestanejar enquanto seus amigos davam gritinhos e risadas. Arquejei de surpresa, e dei um passo para trás, atrapalhando nossos corpos, e um copo, que eu não tinha notado, derramou todo seu conteúdo na minha camiseta.

                - Droga! – ele exclamou – Vem cá...

                Fui arrastada pela mão até um banheiro grande, onde havia um casal que não pareceu se importar com a nossa aparição.

                - Arruinei sua roupa... – ele olhou sugestivamente na minha direção.

                - Sarah. – falei, incrédula que já tivesse esquecido – Acabei de te dizer isso, Muriel. – reclamei, incapaz de me conter. Eu não era grande coisa, mas ser esquecida assim era um pouco ultrajante.

                - Certo... – ele respondeu baixo depois de um instante – Sarah.

                Repentinamente fui puxada para o alto pela cintura e colocada sentada na pia. Sem dizer mais nada, ele investiu contra mim outra vez, tentando me beijar.

                - O que é isso? – afastei meu rosto.

                - O quê? – ele abriu os olhos.

                - Olha, eu só vim pedir desculpas pelo meu comentário. – apoiei as mãos no seu peito – Não para isso...

                - Ahn... – ele me observou por um instante – Pedido aceito. Agora podemos continuar?

                - Não! – aquilo era sério?

                Desci de cima da pia enquanto ele me observava com uma expressão indecifrável.

                - Bom, tchau. – falei enquanto me desvencilhava do seu corpo.

                Voltei mais uma vez para a confusão de pessoas e, abençoada seja a única sorte do dia, encontrei Sam com facilidade. Ele estava dançando com um grupo de pessoas que o olhavam meio torto, sem notar nada.

                Sam sendo Sam.

                - Ei. – o peguei pelo braço.

                - Que isso, Sarah! – ele deu um pulo de susto.

                - Vamos embora. – decretei – Já chega.

                - Ah, Sarah! – ele ergueu o copo, derramando o conteúdo em uma garota que o olhou como se pudesse matá-lo ali mesmo – Mas está tão ótimo!

                - Que seja. – dei as costas e sai andando em direção a porta da frente.

                Se Sam queria ficar naquela loucura, que ficasse. Para mim já estava bom por aquela noite. Eu já tinha sido idiota com um cara que tinha sido legal comigo e depois o tal cara agiu de um modo completamente confuso. Ele me beijou! Do nada!

                - Gostei da camiseta. – Sam me alcançou e comentou sarcasticamente.

                - O quê? – automaticamente olhei para baixo e percebi que estava transparente.

                Eu tinha esquecido completamente de que tinha caído bebida na minha camiseta branca. Agora dava para ver todo meu sutiã.

                - Mas que ótimo. – cruzei os braços com força no peito.

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