“Não esperava menos do nosso dono da porra toda... E aí, o gosto da minha irmãzinha é bom?”

“Por fora, parece pura. Mas na cama, é uma fogueira.”

“Então agora eu a chamo de irmã ou de cunhada?”

“Cunhada? Que nada. Quero mesmo é ficar com a musa da escola, mas tenho medo que ela ache que eu não sou bom o bastante. A Beatriz foi só um treino.”

As palavras entraram nos meus ouvidos como facas afiadas, cortando cada pedaço do meu coração.

Senti uma dor aguda no peito, como se alguém o apertasse com força.

Lucas, meu irmão adotivo, também congelou por um instante.

Logo em seguida, a sala explodiu em risos.

— Esse é o Rafael mesmo. Até pra treinar, escolhe a deusa que todo mundo sonha em ter. Cara, que charme o seu! Imagino como vão reagir os fãs da minha irmãzinha Beatriz quando souberem disso...

Rafael soltou uma risada seca.

— Com aquele jeitinho fácil dela? Nem precisei me esforçar. Só fiz um gesto e ela veio pra cama.

— Mas que corpo, viu... Pena que, comparada com a rainha do colégio, o peito ainda deixa a desejar.

— Tá observando bem, hein? Será que você tá gostando da Beatriz? Ou... Da Juliana?

Rafael lançou um olhar estreito e ameaçador para Lucas.

Lucas levantou as mãos, rindo sem graça.

— Imagina. Beatriz é minha irmã postiça, jamais teria esse tipo de pensamento. E Juliana? Tá louco? Eu não tenho coragem de olhar pra garota que você gosta. Mas que surpresa, hein? Beatriz sempre com aquele jeitinho tímido... No fim era só fachada. Foi lá e transou contigo sem nem pestanejar!

Rafael sorriu com desdém.

— Me perseguiu por anos. Pelo menos agora realizou o sonho dela. Melhor isso do que ela ficar chorando depois que eu começar a namorar com a Juliana. Foi só uma última vez. Algo pra ela lembrar com carinho no futuro.

Minha mente parecia ter sido esmagada por um martelo.

Fiquei completamente atordoada e abaixei a cabeça para esconder a expressão no meu rosto.

Eles não sabiam...

Que, para ser uma boa esposa para Rafael no futuro, eu tinha aprendido italiano em segredo.

Cada palavra dita naquela língua, eu entendi.

Rafael ainda me abraçava. Até roçava o nariz na minha bochecha, como se fosse um gesto de carinho.

Se eu não compreendesse o que diziam, teria acreditado que ele realmente me amava.

Mas, no momento em que senti que não conseguiria mais conter as lágrimas, me levantei bruscamente.

Inventei uma desculpa, dizendo que precisava ir ao banheiro, e fugi dali às pressas.

Me tranquei numa das cabines, me sentei na tampa do vaso e chorei. Chorei de verdade, abafando os soluços com o som da descarga.

As palavras de Rafael ecoavam sem parar na minha cabeça...

Eu jamais poderia imaginar...

Que as palavras cruéis que ouvi hoje vinham do mesmo homem que ontem passou a noite inteira me pedindo mais, me querendo como se eu fosse a única mulher do mundo.

Ontem, Rafael estava com o rosto tomado pelo desejo, o corpo colado ao meu, os movimentos intensos.

Enquanto me possuía, murmurava no meu ouvido, dizendo que, assim que nos formássemos, ele se casaria comigo.

O calor da respiração dele batendo no meu ouvido me deixava tonta, perdida.

Ficou comigo até que meu corpo não aguentasse mais. E mesmo assim, ele não queria parar.

Um som de notificação do celular me trouxe de volta à realidade.

Era uma mensagem de Rafael:

[Onde você foi parar?]

[Hoje à noite tenho um compromisso importante, não vou poder ser seu par no baile de formatura.]

[Mas esses bailes são meio bobos mesmo. Fica em casa, descansa.]

[Ah, e lembra de comprar a pílula do dia seguinte. Ontem me empolguei demais e acabei não usando camisinha.]

[Sério, toma mesmo. Não me faça ficar preocupado, tá?]

Na minha mente, ainda ecoava a lembrança de quando tudo terminou ontem.

Ele me abraçava com um sorriso satisfeito e dizia que, finalmente, eu era dele.

Mesmo sem proteção, quando fui me limpar e vi o esperma escorrendo, não me senti incomodada.

Na verdade, me senti... Feliz. Nem cogitei culpá-lo por não ter usado camisinha.

Mas agora... Agora tudo fazia sentido.

Rafael não esqueceu de usar. Ele nunca teve intenção de usar!

Tudo foi uma mentira. Uma grande, dolorosa mentira.

E aí, como quem se autoflagela, minha mente foi mais longe:

“Se fosse com a Juliana... Ele também não usaria camisinha?”

Enxuguei o rosto, tentando conter as lágrimas.

Esperei meus olhos desincharem, disfarcei qualquer sinal de que havia chorado e fui até a farmácia comprar a pílula. Tomei na hora.

Voltei pra casa, me joguei na cama e fiquei ali, imóvel, lembrando de como foram esses dez anos ao lado de Rafael.

Nos tornamos vizinhos há uma década.

O pai dele era o chefão da máfia. Todo mundo sabia disso.

Todas as crianças eram proibidas de brincar com ele.

Menos eu. Eu nunca tive medo.

Fui até ele e ofereci minha amizade.

Mesmo dizendo com arrogância que não precisava de amigos, vi no olhar dele...

Ele estava feliz.

Desde então, nunca mais saí do lado dele.

Segui o Rafael por dez anos, como uma sombra fiel.

Adormeci com essas lembranças pesando no coração.

Ao entardecer, fui acordada pelo toque insistente do meu celular.

Era Iva, minha melhor amiga, falando sem fôlego:

— Beatriz! Por que você não foi ao baile de formatura? É uma vez na vida! Mas o pior é... Rafael foi com a Juliana como par! Não era você a escolhida?! Meu Deus! Eles se beijaram em público! Diante de todo mundo! E o mais absurdo: o pessoal ainda incentivou, riu, bateu palma! Ninguém ali sabia que o Rafael é seu?