Iva virou a câmera do celular, apontando direto para Rafael.
Ele e Juliana estavam no centro da pista, se beijando como se o mundo não existisse.
Rafael tinha os olhos fechados, completamente entregue ao momento.
Foi então que percebi...
Ontem, quando transamos, a gente nem sequer se beijou.
Eu, tomada pela emoção, tentei beijá-lo. Mas Rafael desviou o rosto.
“Desculpa. Eu não gosto da sensação de beijo... Baba me dá nojo.”
E eu acreditei. Acreditei mesmo.
Mas agora ele estava ali, no meio do baile, beijando Juliana com tanta paixão que parecia cena de filme.
Não era que ele não gostava de beijar...
Ele só não gostava de beijar a mim.
Ver aquele beijo na tela do celular era como levar mil agulhadas no coração.
Dói. Dói tanto que mal conseguia respirar.
À tarde, ele havia dito ao meu irmão adotivo que queria conquistar Juliana.
À noite, já estava com ela nos braços.
Esse era o Rafael.
Desde pequeno, tudo o que queria, ele conseguia.
Quando o baile começou oficialmente, ele, como se fosse natural, convidou Juliana para dançar a primeira valsa.
Giravam pelo salão, no centro de todos os olhares. Perfeitos.
Ninguém ali teria coragem de dizer que a cena não era linda.
Todos aplaudiam.
Todos suspiravam.
Só eu chorava.
Quando a música terminou, Rafael e Juliana encostaram as testas.
Seus rostos estavam tão próximos...
E, ao som das provocações e incentivos da multidão, se beijaram de novo.
Chorei tanto que meus olhos queimavam.
Chorei até secar por dentro.
— Beatriz. — Disse Iva, com a voz baixa do outro lado da linha. — Eu sei que tá doendo. Eu te mostrei isso pra você acordar. Você precisa seguir em frente. Rafael não merece o seu amor. Você merece viver sua própria vida, longe dele.
Minha garganta estava seca. A voz quase não saía.
— Eu sei...
Fui uma tola.
Anos e anos cega, enganada pelos gestos vazios de Rafael.
Amei um homem que nunca me amou.
— Ele é um canalha, Beatriz. Sempre soube que você gostava dele. Aproveitou disso, se alimentou do seu carinho, da sua dedicação. E, no fim... Nem pensou duas vezes antes de te descartar. Já tá com outra. Como se nada tivesse acontecido.
Todo mundo sempre viu a verdade.
Todo mundo... Menos eu.
Só eu estava presa à ilusão de que Rafael também me amava.
— Fica tranquila, Iva. Eu não vou mais correr atrás dele. Nunca mais vou me humilhar por um cara como ele. Aliás, acabei de decidir: vou cancelar minha inscrição no Instituto Federal de Tecnologia do Sul do Rio. E vou me inscrever no lugar que eu sempre quis: o Instituto Tecnológico de São Paulo.
Antes que me desse tempo de hesitar, liguei o notebook.
Cancelei oficialmente minha inscrição antiga.
E, com o coração firme e as mãos decididas, preenchi e enviei minha candidatura para o Instituto Tecnológico de São Paulo.
Iva ficou radiante.
Ela sempre achou que minha inscrição no Instituto Federal de Tecnologia do Sul do Rio era um desperdício do meu talento e da minha capacidade.
Mas com as notas de Rafael, essa era a única universidade para a qual ele tinha chance.
Ele me disse, um dia, que não queria que a gente se separasse...
Pediu que eu escolhesse a mesma faculdade que ele.
Na época, acreditei que aquilo era uma espécie de declaração.
Um sinal de que ele também sentia algo por mim.
Fiquei tão feliz que preenchi o mesmo formulário que ele, sem pensar duas vezes.
Foi naquele momento que eu entendi tudo.
“Rafael só queria manter por perto a garota que sempre esteve disponível pra ele.
Nada mais.
E agora ele está com Juliana.
Não existe mais nenhum motivo para que eu estude na mesma faculdade que ele.
Aliás...
Depois do que aconteceu hoje, se eu ainda tivesse coragem de continuar seguindo Rafael como uma sombra, nem eu mesma me respeitaria.
A única coisa que quero agora...
É me afastar dele o máximo possível.
Para sempre.
Não quero mais viver na órbita de Rafael.
Quero viver a minha própria história.
Quero correr atrás dos meus sonhos.”