MarianaAquela frase ainda ecoava na minha mente como um sussurro divino: Você está grávida.Por um segundo, meu coração parou. Não de medo, nem de desespero… mas de emoção. Eu não sei explicar. Foi como se todas as partes do meu corpo parassem de funcionar ao mesmo tempo, só pra que minha alma pudesse sentir completamente aquilo.Grávida.No meio do caos que é minha vida, da batalha judicial pela guarda da Isabela, do tratamento contra o câncer, do medo constante de perder o controle… eu recebo essa notícia. Um bebê. Um milagre.As lágrimas desciam pelo meu rosto enquanto eu olhava para o teto branco do quarto do hospital. Senti quando Henrique segurou minha mão e apertou com carinho. Ele estava ali, sempre estava. Eu me virei devagar e encarei aqueles olhos que sempre me trazem paz.— Eu ainda não acredito… — sussurrei, com a voz embargada. — Eu tô mesmo grávida?Henrique sorriu, um sorriso doce, pequeno, mas chei
HenriqueUm dia depoisO celular vibrou na bancada da cozinha enquanto eu terminava de preparar o café da manhã da Mariana. Ela ainda dormia, e Isabela também. O silêncio da casa naquela manhã era quase um alívio — mas um alívio tenso, do tipo que a gente sabe que pode acabar a qualquer momento. Enxuguei as mãos no pano de prato, olhei o visor e vi o nome de Alexandre.— Alô?— Henrique, bom dia. Tenho uma notícia importante.O tom dele era firme, mas havia ali um certo alívio contido. E eu já imaginava do que se tratava.— Fala, Alexandre. O que aconteceu?— Acabei de sair do fórum. Pedi uma medida protetiva contra o Leonardo e a Clara.Por um segundo, parei, tentando entender o que aquilo significava exatamente.— Medida protetiva? Como assim?— Eu entrei com uma solicitação emergencial e o juiz concedeu. Agora é oficial: Leonardo e Clara estão proibidos de se aproximar de você, da Maria
LeonardoUm dia depoisO som da campainha me tirou de um sono leve e irritadiço. Eu estava no sofá, com a televisão ligada num volume quase mudo, mas a cabeça tão cheia que nem lembrava o que estava passando. Clara apareceu no corredor com os cabelos bagunçados e o rosto cansado, e eu já sabia que o dia não ia prestar.Me levantei, ainda com aquela sensação amarga na boca. Ao abrir a porta, dei de cara com um oficial de justiça. Franzi a testa.— Leonardo Monteiro? — ele perguntou, com aquela cara neutra de quem está acostumado a entregar problema em papel timbrado.— Sou eu.Ele me entregou dois envelopes. Um pra mim. Outro pra Clara.— Intimação judicial. Medida protetiva. Leiam com atenção.Clara se aproximou devagar, preocupada.— Que isso?Eu abri o envelope na hora. E conforme meus olhos deslizavam pelas palavras, a raiva foi se formando no fundo da minha garganta como um veneno que
MarianaDois meses.Faltam exatamente dois meses para a minha Isabela completar um ano de vida. Um ano. E eu ainda custo a acreditar que passamos por tudo isso juntas. Cada pedacinho da nossa história ainda pulsa no meu coração como se fosse ontem. Mas agora, a emoção que me preenche é diferente. Não é mais medo. É alegria. Expectativa. Amor em cada detalhe.Estávamos no sofá, eu e Henrique, enrolados numa manta, com minha cabeça apoiada no ombro dele. A barriga começava a se mostrar sob a camisa de algodão, e Isabela estava dormindo no quarto, embalada pelo som suave da babá eletrônica.Henrique passou a mão carinhosamente na minha barriga e sorriu.— Dois meses — ele disse, como se lesse meus pensamentos. — Faltam só dois meses pra nossa Isabela fazer um ano.Meus olhos brilharam na hora. Sentei um pouco mais ereta, empolgada.— A gente precisa começar a organizar a festinha dela!— A gente não — ele riu.
MarianaA manhã estava clara, o céu de um azul vibrante que parecia abençoar os preparativos para o aniversário da Isabela. Estava empolgada, com o coração leve e cheio de amor, como há muito tempo não sentia. Saí com a Sara para irmos ao centro da cidade, onde poderíamos garimpar decorações, lembrancinhas e alguns itens personalizados que ela havia pesquisado.Encontramos com a Helena em uma loja de festas. Ela apareceu com aquele jeitão animado, cheia de opiniões e ideias criativas. Rapidamente, estávamos as três mergulhadas entre fitas, balões, toalhas floridas e plaquinhas de "bem-vindos ao jardim da Isabela". Era exatamente o que eu queria: algo leve, lindo, encantador.A cada sacola que enchíamos, meu coração se aquecia. A Sara ria dizendo que era um milagre eu não estar enjoando, considerando que eu estava grávida, e eu apenas sorria. Pela primeira vez, a felicidade parecia mais alta do que qualquer medo. Até que...Numa esquina de uma
Mariana Eu sempre soube que minha vida não seria fácil, mas ser mãe solteira aos 22 anos me trouxe uma realidade que eu nunca imaginei. Minha filha, Isabela, nasceu há quatro meses e trouxe uma alegria imensa para o meu coração, mas também trouxe muitas dificuldades. Eu sabia que ser mãe jovem, sem um parceiro ao meu lado, não seria fácil, mas a felicidade que Isabela me dava fazia tudo valer a pena. Eu me levantava todos os dias com um sorriso no rosto, por ela. Ela era a razão da minha existência agora, a razão pela qual eu lutava todos os dias. Naquela manhã, no entanto, algo estava diferente. Eu estava cansada, exausta, e o corpo não parecia responder como antes. Eu sentia uma dor estranha, uma pressão no peito que me fazia parar de vez em quando, como se estivesse tendo dificuldades para respirar. Mas, claro, como mãe, eu apenas empurrei para o fundo da minha mente e continuei com minha rotina. Isabela não iria esperar, ela precisava de mim. Mas o cansaço não passava. A do
Mariana O som suave da respiração de Isabela preenchia o quarto naquela manhã. Ela dormia em meu colo, com os bracinhos jogados para o lado e a boquinha ligeiramente aberta. Fiquei observando cada detalhe dela: os cílios pequenos, as bochechas rosadas e os dedos minúsculos que se moviam como se estivessem sonhando. Uma mistura de amor e angústia dominava meu coração. Eu a segurei com cuidado, tentando não acordá-la, mas precisava me levantar. A consulta no centro oncológico seria hoje. Era um passo difícil, mas eu sabia que precisava de ajuda para enfrentar o que vinha pela frente. — Meu amor, a mamãe vai cuidar de você... sempre que puder. — Sussurrei, beijando sua testa delicadamente. A pequena se mexeu, abrindo os olhos e olhando para mim com aquele brilho inocente que iluminava os cantos mais escuros da minha alma. Ela sorriu e estendeu a mãozinha, tocando meu rosto. — Você nem sabe o quanto me dá força, Isa. — Sorri, tentando disfarçar a dor que carregava. Depois de
Dr. HenriqueMeu nome é Henrique Duarte, tenho 38 anos, e sou oncologista. Para muitos, minha profissão parece ser um trabalho pesado demais, cheio de histórias tristes e desafios que testam os limites emocionais de qualquer um. Mas, para mim, ser oncologista nunca foi apenas uma escolha profissional. Foi uma promessa. Uma forma de transformar minha dor em algo maior, em algo que pudesse fazer diferença.Quando entrei na faculdade de medicina, como muitos jovens, eu queria salvar vidas. Mas a verdade é que ainda não sabia como faria isso. Não sabia que minha especialidade seria escolhida no momento mais doloroso da minha vida. Gabriela, minha esposa, era o meu mundo. Minha companheira, meu equilíbrio, meu futuro. Quando ela foi diagnosticada com câncer de pâncreas em estágio avançado, tudo que eu conhecia como certo desmoronou.Eu tinha apenas 27 anos. Estava cheio de sonhos e planos ao lado dela. Mas, de repente, nossa vida foi tomada por exames, consultas e tratamentos. Foi uma guer