Leonardo
A delegacia estava cheia de vozes abafadas, telefones tocando e um cheiro forte de café velho. Mas nada daquilo me atingia mais do que a visão da Clara sentada no banco frio, algemada, com os olhos vermelhos e os ombros tensos. Eu estava andando de um lado para o outro, com as mãos no cabelo e o coração batendo tão forte que doía. Desde a audiência, eu me sentia cada vez mais pressionado, mais sufocado. E, para piorar, aquela história da medida protetiva ainda me deixava engasgado. Não era justo. Não era certo.
O celular vibrou em cima do criado-mudo. Peguei o aparelho, ainda meio alheio, e vi que era uma mensagem do Marcelo.
— Preciso te lembrar que o aniversário da sua filha é na próxima semana. Pela certidão de nascimento, ela completa um ano no dia 17. —
Meus olhos ficaram fixos naquela frase. Um frio subiu pela espinha.
— Como assim próxima semana? — murmurei pra mim mesmo.
Abri a galeria de documentos no celul