POV CELESTETodo mundo estava se divertindo muito, especialmente Rubi, que não conseguia parar de rir alto a maior parte do tempo. Ela soprou as velas do bolo com a ajuda de Esmeralda, enquanto Wade estava ocupado tirando fotos da festa e conversando com seu primo Carter e seus dois melhores amigos, Ismael e Leonidas.Os jogos, o palhaço e os shows de mágica tinham acabado, então agora era hora de todos relaxarem. As crianças foram nadar com as babás de olho nelas. Os adultos aproveitaram o vinho e a sobremesa enquanto conversavam.Meus olhos se fixaram em Eros, que bebia cerveja com os caras, Iñigo e Ares. O pai dele, Markos, juntou-se a eles depois e trouxe uma garrafa de vinho envelhecido que tinha trazido da Itália. Eles riam, contavam piadas antigas e outras histórias, mas na maior parte do tempo, a conversa acabava indo para o assunto favorito deles: negócios.Eros percebeu que eu estava olhando para ele e me lançou um olhar questionador. Quando balancei a cabeça e sorri, ele me
POV CARLAAh, não! Vou me atrasar.Corria como louca, como se minha vida dependesse disso. Meu coração batia forte. Minha pele estava fria como gelo e o suor escorria pelas minhas costas.Ufa! Parei para recuperar o fôlego.Não podia perder o ônibus escolar. Tinha uma prova longa na primeira aula, que era matemática.Era nosso último ano no colégio e meu objetivo era tirar boas notas em todas as matérias para conseguir a bolsa da Universidade. Sendo órfã e sem ninguém para me sustentar, a bolsa era minha única chance de entrar na faculdade.Enxuguei o suor da testa e olhei as horas no meu relógio de pulso.Ah, não. Preciso correr mais rápido ou vou perder o ônibus.Ouvi a buzina de um carro atrás de mim. Era Angela Aguilar, minha meia-irmã.Angela abaixou o vidro do carro e gritou:—Corre mais, Carla!—. Sua risada ecoou no ar. Ela era a razão de eu estar correndo. Tinha me obrigado a passar o uniforme dela várias vezes para garantir que não ficasse um único amassado.Angela e eu tínha
POV WADE— Por que eu não posso ter meu próprio carro? Ismael e Leonidas têm os deles.— Já te disse pra esperar até fazer dezoito — respondeu meu pai, Eros Pedrosa. Todas as manhãs, a caminho do trabalho, ele leva a mim e à minha irmã Esmeralda, de doze anos, para a escola.— Eu faço dezoito mês que vem. Qual é o sentido de me fazer esperar se no fim você vai me dar mesmo?— Tenha paciência. Você tem sorte de alguém te levar pra escola todo dia. Olha aquela garota, imagina ter que acordar cedo pra pegar o ônibus escolar.Olhei para a garota a que ele se referia. Era Carla Morning. Observei sua aparência. Estava pálida e cansada, como sempre. Seu cabelo preto e longo caía desleixado nas costas e a franja espessa cobria sua testa enquanto ela encarava os próprios sapatos.— Eu nem reclamo de ter que esperar mais seis anos pra ter meu próprio carro — disse Esmeralda, revirando os olhos.— Claro. Você ainda é uma criança.— Você sabe que eu já não sou mais — Esmeralda elevou a voz. Sim,
POV CARLA—Não vão me dar os parabéns, meninas? — Mateo Borgeous, um dos meus melhores amigos, sentou-se na minha frente. Alto, magro e loiro. Era um dos nerds da escola: usava óculos grossos, moletom e um cachecol bordô o tempo todo.Eu estava no refeitório almoçando com minha melhor amiga, Lia.—Por quê? — perguntamos em uníssono.—Consegui o primeiro lugar na lista dos dez piores deste ano.—Uau! Parabéns — disse Lia a Mateo com sarcasmo. —A Carla também ficou em quarto lugar na lista das meninas.—Como sempre. O que tem de novo? — falei com um sorriso. —Parabéns, Mateo.Mateo se levantou e fez uma reverência para nós.—Obrigado. Obrigado, senhoritas.Nós três terminamos de comer. Rimos e tiramos sarro de nós mesmas. Sempre fazíamos isso em vez de nos sentirmos mal. Mateo e eu aprendemos a não deixar esse tipo de bullying nos afetar. Focamos em tirar boas notas.—Entendo o Mateo estar na lista. Ele é um nerd. Mas você, Carla, sério? Sei que sua irmã, aquela vadia, é a razão de você
POV WADE— Por que demorou tanto? Estou aqui esperando há uma hora — reclamou minha mãe, Celeste Pedrosa, assim que entrei no banco de trás do carro. O banco da frente estava cheio de suas coisas: sua bolsa marrom grande, um casaco grosso, o iPad, um copo de água e sacolas com biscoitos e castanhas. Com minha mãe, ninguém passa fome.Vi uma sacola do McDonald’s no banco de trás, em cima de uma caixa de compras. Peguei imediatamente e olhei o que tinha dentro.— Ei! Pega o hambúrguer e as batatas fritas. O sanduíche é pra Esmeralda — disse minha mãe olhando pelo retrovisor enquanto dirigia.Estava comendo o hambúrguer quando ela perguntou:— Como foi a escola?— Bem.— Hoje de manhã vi a mãe do Leonidas. Ela disse que o Leonidas reprovou na prova de Física. E você? Passou? — perguntou.— Claro. A prova estava difícil, mas passei.Vi minha mãe sorrir.— Estou muito orgulhosa de você, Wade. Você é um menino inteligente.Ai, ai. Se você soubesse, mãe.— Ah, também me contou que um garoto
POV WADE—Você está bem? —perguntei a Ismael. Ele estava muito calado desde o incidente no corredor.—Sim, claro. Por que não estaria? —respondeu. Notei o sarcasmo na voz dele. Sabia que ele se sentia mal por ter esbarrado em Carla e que eu é que a tinha segurado.Tinha sentimentos confusos. Fiquei feliz por ter salvado Carla de uma possível lesão grave na cabeça, mas a ideia de ser o herói dela me fez sentir culpado. Sabia que Ismael queria estar no meu lugar naquele momento.Lembrei como a segurei antes que ela caísse no chão. Me surpreendeu o quanto era leve e como se encaixava bem nos meus braços. Ela se agarrou a mim por alguns segundos e eu fiquei olhando até ela abrir os olhos. O medo era visível, mas logo virou alívio. Soltei-a assim que ela se estabilizou e agradeci. Tocá-la parecia errado. Era como invadir propriedade alheia — a de Ismael.—Não liga pra ele. Logo passa —disse Leonidas, dando um tapinha no meu ombro. —Ele precisa aceitar que não é o príncipe encantado dela. P
POV CARLA—Você está chorando? —me perguntou minha melhor amiga, Lia, assim que me sentei ao lado dela no ônibus escolar.—Não. Entrou alguma coisa no meu olho. —Enxuguei os olhos, tentando com todas as forças segurar um soluço.Lia franziu a testa.—Ele não apareceu de novo.Já não dava mais pra esconder o que eu sentia. Lia me conhecia muito bem. Eu estava arrasada, e as lágrimas que vinha segurando desde que saí do cinema começaram a cair como chuva.—Ele é um idiota. Achei que fosse um cara legal e encantador. Já não gosto mais dele pra você, minha avaliação dele caiu pra 90%! Você não devia ter esperado por ele hoje. Já te deu bolo três vezes... Eu te avisei, Carla, mas você não me ouviu. Seu coração é burro. Você não devia escutar ele. —Lia continuou tagarelando sem parar até a gente chegar ao ponto do ônibus. —Sabe de uma coisa? O Ismael é um cara legal. Não entendo por que você não gosta dele.—Nem eu entendo —respondi, me levantando com a mochila pesada nos braços.—Talvez vo
POV CARLAEle está perto. Consigo sentir seu olhar fixo em mim.Olhei ao redor e imediatamente meus olhos encontraram os dele. Meu coração disparou. Batendo sem razão. Ele sempre teve esse efeito sobre mim. Me deixava fraca.Acelerei o passo, apertando os livros contra o peito.— Carla — ouvi ele dizer, mas o ignorei.Estava evitando o Wade. Sempre que o via se aproximar, eu dava meia-volta e saía pelo outro lado do corredor. Ele estava irritado porque eu o deixei esperando ontem. Eu não queria enfrentá-lo. Era melhor evitá-lo.Então era por isso que ele tinha interpretado Romeu. Estava tentando recuperar as notas ruins em inglês. Ele era inteligente, algo que me fazia admirá-lo. Me perguntei o que tinha acabado de acontecer.E agora… não entendo. Ele não levou a sério a oportunidade que a senhorita Paterson deu. Jogou fora. Bem, mereceu. Até já tinha me dado bolo três vezes.No recreio, eu estava na biblioteca, entre as estantes largas, procurando livros para emprestar para o dever d