Rael sempre foi um cara trabalhador e um ótimo pai. Mas, por culpa da descriminação em sociedade com pessoas que moram em comunidades, ele foi julgado e acusado por um crime que não cometeu, assim, perdendo o seu emprego que tanto batalhou para conseguir. Agora desempregado, sem oportunidades e com uma filha para criar, ele se vê obrigado a entrar para o mundo do tráfico. E no meio a esse caos, ele conhece Clara, uma jovem garota misteriosa, que mesmo em meio as circunstâncias o faz acreditar novamente que ele era sim, merecedor de toda a felicidade do mundo. E em meio a tudo isso, ele descobre que nem todas as pessoas são o que aparentam ser, quando sua irmã de criação se fez sua inimiga ao desprezar a sua filha e trair a confiança de sua garota.
Ler maisMINHA REALIDADE
Morro do Cantagalo, Rj.RAELCresci em um lugar onde a violência batia na minha porta. Não importava a hora, sempre era a mesma coisa. Um assasinato por dívidas de drogas, violência física e sexual contra a mulheres e crianças, e como era rotina, operações todos os dias com quem deveria nos proteger, matando quem viam pela frente sem se importa em saber se era um inocente ou realmente um bandido. E foi assim, desse modo, que a minha mulher morreu junto ao nosso filho que ela esperava, me deixando sozinho com a minha pequena, minha Ritinha.— Papai, quando tu chegar a gente pode ir tomar sorvete? — Rita perguntou enquanto eu penteava seus longos cabelos loiros.— Claro, gatinha. Vamos sim — prendi seu cabelo pra cima — bora, a Lis ta esperando tu lá na casa dela - Falei e ela pulou da cama com um sorriso de orelha a orelha.Sorri.Saí do quarto, arrumei a mochila dela com o lanche e fechei a porta do quintal.Arrumei minha mochila também, peguei meu boné no armador e joguei as chaves de casa no pescoço.— Rita, pega aí uma camisa pro pai — pedi enquanto ajustava meu boné. Coloque-o na cabeça com a aba virada para trás.Peguei minhas havaianas e fui andando pra sala. Coloquei a mochila nas costas e fiquei esperando a Rita sair do quarto.— Aqui papai — esticou uma camisa azul marinho pra mim, peguei a mesma e joguei no ombro.Fechei a janela da sala e fui andando em direção a porta. A Rita já estava lá fora.— Fica aí, vou fechar a porta e a gente já vai — falei pra ela que estava na calçada e a mesma assentiu.Me virei alguns segundos para fechar a porta, mas logo senti a Rita vim pro meu lado e apertar o meu braço.— Qual foi, gatinha? — olhei para ela que olhava assustada pra rua.Levantei o meu olhar e vi o Rico atravessando a rua com o fuzil na bandoleira.— Coe, Ritinha. Teu padrinho é tão feio assim? — Rico falou em um tom brincalhão, mas logo parou de sorrir assim que olhou para mim.O cria era feio mesmo. Mas minha pequena tava com medo mesmo era do fuzil que à três anos atrás foi a ruína da minha família. Na época eu trabalhava e só voltava no fim da noite. A Renata estava grávida do nosso segundo filho, faltava poucos meses pra ele vim conhecer o paizão aqui, mas em uma invasão para pacificar a comunidade o amor da minha vida morreu junto do meu filho, enquanto carregava a Rita nos braços.Uma parte de mim morreu junto com eles naquele dia. Foi doloroso pra caralho, mas tive que seguir em frente. Eu ainda tinha a Rita para cuidar, e eu prometi pra mim mesmo que nunca deixaria ela passar dificuldade.— Pega, Neguinho — tirou o fuzil e entregou pro Neguinho que tinha acabado de chegar alí - Foi mal, princesa - Se desculpou e esticou os braços para ela.A Rita me olhou como se pedisse permissão e eu balancei a cabeça dizendo que sim.— Não faz mais isso — reclamou indo abraçar o Rico.— Faço nada, princesa — prometeu.Ele foi andando com ela no braço e eu segui atrás.— E aí, vai entrar pro movimento quando? — Neguinho perguntou caminhando do meu lado.Neguei com a cabeça.— Essa vida não é pra mim, parceiro — falei — Sou trabalhador e enquanto eu tiver saúde vou tá batalhando pra ter o meu, e tu devia fazer o mesmo — falei e ele riu dando um tapinha nas minhas costas.— Tu que sabe do teu, né não. Eu tô tranquilão — falou ajeitando a bandoleira.Neguei. Continuamos descendo a rua e acionaram o rádio do Neguinho, que logo atendeu o mesmo se afastando um pouco de mim.— Caralho, Rico! Os vermes tão lá na entrada dizendo que ninguém entra e nem saí — Neguinho correu pro lado dele.Porra!Andei até eles e peguei a Rita dos braços do Rico.— Qual foi, Rael? Vai pra onde, caralho? — perguntou.— Tô indo pro trabalho, se eu faltar vou ser demitido — falei alto e continuei andando. Mas, logo senti a mão do Rico no meu ombro.— Com a minha afilhada tu não vai pra lugar nenhum, parceiro — tomou a Rita dos meus braços — Tá doidão? Os cana vão fazer de tudo pra te fichar e pagar de benfeitor da pátria, o herói. E se isso acontecer a Rita vai pra um orfanato, se liga — empurrou meu ombro.Assenti.Tirei a chave de casa do meu pescoço e entreguei a Rita, dando um beijinho em suas mãos.— O pai volta mais tarde, falô? — ela assentiu cabisbaixa.O Rico negou com a cabeça, e foi voltando pra outra rua.O Neguinho me olhou — Vamos, corajoso. Te deixo perto da entrada — disse andando na frente.O acompanhei.Paramos uma rua antes. Eu continuei andando e ele ficou apenas observando.— Encosta, cidadão — um policial me parou, ergui meus braços em forma de rendição e ele puxou minha mochila jogando a mesma no chão. Mandou eu virar de costas e para não piorar a situação, assim fiz. Vi o Neguinho, de longe negar com a cabeça e sair andando.— Aqui, Teixeira! Olha só, maconha pra dar e vender — ouvi um deles dizer com sarcasmo.— São todos uns vagabundos mesmo. Favelado do caralho! — acertou um chute nas minhas pernas, que fez cair de joelhos em espera dos outros golpes.Eu não devia nada.Eu não tinha nada, cara.RAELDepois de ter passado boa parte da festa com a Clara e ter recebido felicidades de todos alí, eu consegui sair para agradecer.Eu poderia esperar para ir a uma igreja, ou até mesmo esperar que a festa acabasse e só agradecesse quando fosse dormir. Mas eu precisava mesmo fazer isso agora.Sai da casa pela porta da frente e dei a volta no jardim, subindo as escadas para a laje. Tava de tardezinha já. Um por do sol maneiro até e eu fiquei alí, só recordando tudo o que aconteceu comigo durante todos esses anos.Eu costumo dizer que se você perde algo é porque aquilo não era pra ser teu. Não vou mentir não, eu senti pra caralho quando perdi a Renata e o meu filho. Mas se o cara lá de cima quis daquele jeito, teve que ser. E eu ainda tinha a Rita, foi por ela que lutei para sobreviver. Me mantive forte e focado em cuidar dela, por isso qualquer bagulho que aparecia, eu encarava. Ia lá batalhar só pra ela não passar fome, assim como eu passei um dia. Foi tudo por ela.Quando fizeram aqu
CLARAA Ritinha desceu do carro primeiro e logo depois eu desci, sendo acompanhada pela Aninha e o Sorriso que desligou o carro e travou as portas, guardando as chaves no bolso da bermuda. Segurei na mãozinha da Rita e subi o batente, indo ao encontro do Rael.Entramos juntos, e assim que passamos da porta já era possível ouvir a música 9 meses ao fundo e ver todos os balões azuis e rosa que decoravam o teto da sala. E bem lá no meio, havia uma mesa com vários docinhos, roupinhas, lembrancinhas e no centro, um bolo metade rosa e metade azul.Tava tudo muito lindo. Fiquei apaixonada demais, e minha ansiedade em saber o resultado só aumentou quando vi três quadrinhos com os possíveis nomes para os convidados escolherem. Que se fossem meninos, seriam "Isaac e Cauã. Meninas, Rebeca e Hadassa e se fosse um casal, Ravi e Aylla.- Vacilo! Cadê o nome Charles aí? - O Sorriso perguntou parando perto da bancada - Não tem, então vou na dupla sertaneja - Disse pegando a caneta e uma folhinha azul
3 meses depois.CLARADepois de tantas consultas por insistência da minha mãe, no terceiro mês da minha gestação a minha ginecologista nos revelou que ao invés de um, estavam a caminho dois bebês.De início, fiquei com um pouquinho de receio e medo junto do Rael. Eu era tão novinha. Seria uma gravidez de risco? Será que eu teria espaço para os dois alí? Mas em meio a conversas com a minha médica, ela me tranquilizou e tranquilizou o Rael. Não tinhamos riscos, mas para prevenir, eu teria que ter bastante repouso e uma boa alimentação. Acompanhada das vitaminas que ela me recomendou, e alguns remédios que ela julgou serem necessários para os enjoos.Hoje faço 5 meses de gestação. E como planejado, fariamos o chá revelação para saber o sexo dos bebês.- Tá maluco, eu fico lindão de azul! Olha isso - O Sorriso falou arrumando a camisa vendo o seu reflexo no espelho, e eu ri do quão convencido ele é.E enquanto a Martinha arrumava as alças do meu vestido, a Aninha terminava a minha make.-
NEGUINHO- Calma aí, deixa pelo menos eu respirar - Falei parando no portão, passando a mão no peito.- Dário, pelo amor de Deus não vai desmaiar outra vez - A Martinha falou colocando as mãos na cintura, parando a minha frente - Vou te deixar cair no chão, garoto - Disse e eu olhei pra ela indignado.- Que isso, cara - Desencostei do portão - Não vou não, amor - Passei por ela - Mas quem vai abrir a porta dessa vez é tu - Falei e ela revirou os olhos, indo na minha frente.Ela passou na frente e eu fui atrás tentando conter meu nervosismo, o que era foda. Papo até de tremer eu tava. E pior que na primeira vez, menor, esse papo era bagulho sério e eu não queria nem imaginar como o Talibã reagiria agora.- Tem certeza que hoje é um bom dia pra contar? - Perguntei assim que entrei, com ela na minha frente - Porra, Marta! Eu tô tremendo, cara - Falei parando perto do sofá.- Vamos logo, para de graça - Ela falou me puxando, indo até a cozinha - Boa tarde família linda!!! - Me puxou, faze
SORRISO- Tarlisson! Você tem certeza disso, meu filho? - Minha coroa me encarava apreensiva, enquanto eu arrumava a minha mochila. - Já tomei a minha decisão, dona Talita - Fechei o ziper da mochila e peguei meu boné, colocando o mesmo - Vou piar aqui sempre que der, mãe! Fica tranquila - Falei a puxando pra um abraço e ela logo me apertou com toda a sua força.- Como eu vou ficar tranquila, Tarlisson?! Tu vai pra longe de mim e ainda vai continuar com essa vida errada aí... você sabe que não precisa disso - Falou me soltando. Ela ainda me encarava apreensiva, e até um pouco aborrecida também. Mas eu não poderia fazer nada, eu já tinha decidido e tirar um bagulho da minha cabeça era ossada. Eu não iria ficar aqui vendo o casal 20 subindo e descendo esse morro na maior melação, não mesmo. Sem as chance, menor. - Não vou ficar em um lugar que não me faz bem, se ligou?! Não dá não, mãe. Aturei muita piada da parte daquele fdp, se eu continuar aqui vai ser pra quebrar ele na madeira.
NEGUINHOA Martinha me expulsou do banheiro e eu logo fui até a porta, abrindo a mesma e a Sofia tava lá agarrada com um urso maior que ela.- Qual foi, feiosa? - Perguntei me escorando no batente da porta, e ela revirou os olhos, me fazendo rir. Com certeza foi a Manu que ensinou esse bagulho.- Já disse que feioso é voxe, seu idículo - Respondeu fazendo maior bicão e eu dei risada, pegando ela no colo e ela empurrou meu rosto contra gosto - Saí, saí - Deu risada quando eu enchi o seu rosto de beijinhos.- Fala aí, o que tu queria pô - Fechei a porta do quarto e fui andando pelo corredor, em direção as escadas.- O papai mandou chamar voxe - Disse segurando o urso pelo pescoço e eu neguei com a cabeça.Filho da puta, cara! Sempre me sacaneando, muda nunca.- Seu pai é um viado que não come ninguém. Por isso fica empatando os outros - Falei e ela falou um "viado é voxe", me fazendo dar risada.Sempre com a resposta na ponta da língua pô. Tu vê assim acha fofa e as porra toda, mas deix
Último capítulo