RAEL
Acordei com uma luz forte que tomava todo o quarto, e as paredes brancas deixavam tudo ainda mais claro.Tudo doía, cara. Meu corpo, meu rosto tava inchadasso, conseguia nem abrir os olhos direito e o braço que mesmo quebrado eu sentia menos, agora tá doendo pra caralho.Ouvi uma gritaria alí fora, e logo a porta foi aberta.— Tu é foda em — Sorriso falou e eu virei a cabeça com dificuldade vendo ele me encarar, risonho como sempre.Me apoiei no braço bom e me sentei na cama. Grunhir sentindo minhas costas doerem.— A Rita tá com a Aninha, e o Rico tá vendo um médico aí pra tu — falou, antes mesmo que eu perguntasse.Assenti sentindo um fisgada no pescoço, coloquei rápido a mão alí me desequilibrando e caindo deitado na cama novamente.— Ai caralho! — resmunguei de dor. Respirei fundo olhando pro teto de gesso.— Tá mal em, corajoso — Neguinho entrou no quarto — Só os covardes pegaram você aí, parceiro. Melhor forma é tu largar essa vida de moleque certinho, papo de visão — comentou e logo aconselhou observando todo o quarto.Neguei com a cabeça.— Ele tá certo, Rael. Hoje só te bateram, na próxima matam você dizendo que confundiu com bandido — Sorriso falou calmo.— Se eu entrar nessa e ir de ralo, quem ia ficar com a Maria Rita? — Perguntei recebendo o silêncio como resposta — Foi o que eu pensei — me ajeitei sentindo o meu braço latejar.Eu não iria deixar eles entrarem na minha mente, e nem vou me deixar levar por um bagulho sem fundamento que eu nem tinha culpa de nada.Levei maior esculacho, mas vou continuar fazendo os meus bicos até o cara lá de cima dar um basta. Só ele tem o direito de intervir na minha vida, pô.— Parem de querer entrar na mente do parceiro e vão procurar o que fazer, tô ligado que vocês tem muita pica pra resolver. O Talibã tá vendo bicho com vocês aí — Rico falou entrando no quarto, e logo depois o doutor.O Sorriso se levantou colocando o boné, e foi andando devagar até a porta.— Tô nem ligando pro que aquele velho tá vendo, rapá — Neguinho reclamou — Pra eu mandar os meus cria suspender a segurança daquele velho maluco é só um vacilo, hã — disparou serinho andando até o Sorriso.Rico negou com a cabeça e eu ri.— O cara apaixonado é foda — Sorriso debochou.— Também, cara. Uma bunda daquela — Rico continuou — é uma pena que o nosso Nego só vai pegar quando tiver tudo caído — gastou ele.— Pô, e o amigo do amigo não vai mais subir. Mas né, a viagra taí — Sorriso soltou essa e saiu correndo.E mesmo com o meu corpo todo fodido eu dei várias gargalhadas.— Vão se foder — gritou saindo do quarto.— Se ficar puto é pior — Rico gritou de volta vindo pro meu lado e sendo repreendido pelo doutor.— Desculpa aí — Rico levantou os braços em forma de rendição.O doutor me examinou, fez alguns curativos e me levou pra engessar o braço.— Vou deixar a Ritinha depois. Quero passar um tempinho com a minha afilhada — Rico falou assim que parou o carro na frente da minha casa.— E com Aninha também, fala tu? — Falei enquanto abria a porta do carro.Rico saiu do carro e deu a volta pra me ajudar a descer, andar direito ainda tava foda pra mim, tinha tomado maior bicudão na canela aí já viu.— Deixa baixo — ele riu.Me apoiei na muleta e fui andando até a porta.— Qual é, vai dizer que tu não tá querendo provar da novinha? — brinquei.Ele negou, abriu a porta e eu entrei me sentando no sofá.— Não, parceiro. Quero um bagulho a mais, papo de futuro tá ligado? Mas se depender daquela velha fofoqueira, nem uma treta rola — ralou sorrindo sem humor.Neguei.— Nada é impossível pro grande RC — ergui o meu braço bom para cima e ele deu risada.— Mãe dela é ossada, agradar é difícil. E ainda mais que eu sou bandido, ela não quer esse futuro pra filha dela não — comentou indo até a porta.— Você tem que agradar a Ana, não a mãe dela — falei e ele assentiu saindo.Me ajeitei no sofá e liguei a televisão."Policiais apreendem drogas em operação no morro do Cantagalo".