Quatro

1 mês depois.

RAEL

Dois dias depois de tudo o que aconteceu recebi uma ligação do dono da padaria dizendo que fui demitido por justa causa. Pelo meu atraso e por não ter tido como justificar os dias de faltas.

Minha situação financeira se tornou um poço de dívidas depois daquela covardia que fizeram comigo. Não conseguia trabalho de jeito nenhum.

Única coisa que consegui foi vender bala no sinal, e mesmo assim era xingado e humilhado todos os dias.

Tava foda sustentar a casa e a minha princesa, e tudo que eu conseguia de comida dava pra ela com a desculpa de que eu comeria depois, mas na verdade eu ficava dias sem comer, só pra não deixar a Rita com fome.

Eu vivia pra ela, e por ela. Minha única razão de viver era ela.

- Tu não cansa não, Rael?! Ser humilhado todo santo dia pra ganhar uns trocado que não dá nem pra um dia direito. Porra, tá na hora de tu ver um caminho mais fácil aí, na moral mesmo - Neguinho como sempre querendo entrar na minha mente.

Passei pela barreira com ele me acompanhando.

- Falar é fácil pô. Quero ver se fosse tu com uma filha pra criar, cara - olhei pra ele - Tu entra hoje, amanhã tu sai pra guerra e não sabe se vai voltar vivo pra ela no dia seguinte... Eu não vou conseguir conviver com isso. - desabafei.

Ele negou com a cabeça e sorriu sem humor.

- Tu acha que eu não tenho essa porra também? - olhei pra ele surpreso - É parceiro, todo dia eu saio de casa pensando em como minha mãe fica, no quanto ela chora e ora pela minha alma enquanto eu tô pelo morro trocando tiro com inimigo - respirou fundo - É foda demais, irmão. Mas eu tô aí, preciso do dinheiro da mesma forma que você. Tô aqui pela minha mãe. Tu devia fazer a mesmo, a Ritinha não merece sofrer por tu não tá presente - Neguinho não falou mais nada, ajeitou o fuzil no ombro e foi andando pra rua onde ficava a boca.

Fiquei balançado com esse papo. Ele tava certo, a Rita tava meio triste por eu não estar sempre com ela. E com toda a minha preocupação em ter algo pra ela comer, eu esqueci do mais importante, a atenção.

Assim que cheguei em casa deixei minha mochila em cima do sofá, tomei um banho frio, comi um pão dormido que tinha no armário, fechei tudo e sai novamente.

Desci o morro e fui andando até a rua 20, que era três ruas antes da entrada do morro. Iria buscar a minha princesa na casa da Lis, e andando eu teria mais tempo pra pensar no que eu realmente queria e iria fazer.

Dobrei a esquina e já conseguia ver a casa da Lis. A garota era minha irmã de criação e sempre me dava uma força cuidando da Rita, amava minha filha como se fosse dela e não foi atoa que convidei pra ser madrinha.

Bati na porta e demorou uma cota pra ser aberta, achei até que a maluca tinha saído com a minha filha mais logo ouvi um "já vai".

Assim que a porta foi aberta dei de cara com uma garota, era lindona mané. Cinturinha fina, maior bundona, meu número aí.

Ela ficou me olhando com cara de boba, e eu sorri de lado esperando ela me convidar pra entrar.

- Eu dava muito - falou e eu arquei a sombrancelha dando risada, e acredito que isso não era pra ter sido falado em voz alta.

Depois de alguns segundos dela olhando pra minha barriga ficou toda vermelha ao perceber que tinha falado aquilo em voz alta.

- Aí meu Deus, eu não queria... Me desculpa - ela ficou toda sem graça e colocou as mãos no rosto.

- Raelisson, quando é que você vai aprender que camisa é pra vestir e não andar com ela no ombro? - a Lis chegou reclamando e colocou a Rita no chão que logo veio correndo pros meus braços.

Abracei ela e a enchi de beijos.

- Clara, pega a bolsinha dela pra mim lá no quarto por favor - Lis pediu para a garota que praticamente saiu correndo da sala.

Ri negando com a cabeça e Lis me olhou desconfiada.

- Eu não fiz nada - dei de ombros ainda rindo e entrei me sentando no sofá - Vou passar o dia aqui, falô? Preciso conversar contigo - fui sincero e ela assentiu indo procurar a amiga.

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