110: Corte Limpo

MIA

A presença dele ainda ardia em mim.

Não como dor física.

Era pior.

Era aquela lembrança incômoda que se agarra à pele, que infiltra nos ossos, que grita dentro da memória mesmo no silêncio absoluto.

Aquela mão, aquele toque, o cheiro dele — couro, pólvora, e um perfume amadeirado que me lembrava noites perigosas.

Ele não me bateu.

Mas me feriu de um jeito mais profundo.

A garagem parecia respirar com dificuldade.

As paredes rangiam. A lâmpada tremia. O ar era grosso, úmi

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