O ronco dos motores era abafado, transformando a cabine luxuosa em uma bolha silenciosa no meio do oceano. Eu estava a trinta mil pés de altura, sentada em frente a dois dos executivos mais poderosos do país, e minha primeira tarefa era uma bomba-relógio.

A pressão da decolagem deu lugar à pressão de Ethan.

“Não temos todo o voo, Senhorita Borges," ele me lembrou, a voz baixa, mas penetrante. "O compromisso original era um jantar com o fundo de investimento Venture Capital às 20h, horário de Nova York. Eles acabaram de adiantar para 18h30. Isso nos dá pouco tempo para ir do aeroporto JFK até o centro de Manhattan, fazer check-in e nos prepararmos."

Abri o iPad e a agenda de Patrícia. A primeira coisa que fiz foi converter o horário para o fuso horário de Recife: a mudança era imediata e drástica.

"O voo pousará às 16h45, horário de Nova York, Sr. Fontaine," comecei, respirando fundo e falando o mais rápido e claro possível, em um inglês que me forcei a manter impecável. "Isso nos dá uma hora e quarenta e cinco minutos até a reunião."

Susan estava me observando com uma calma perturbadora enquanto tomava um gole de champanhe.

“Solução um," declarei, olhando diretamente para Ethan. "O tempo de trânsito é nosso maior inimigo. A melhor opção, e a mais arriscada, seria a mudança imediata do local da reunião. A Venture Capital tem escritórios no centro, mas acredito que poderíamos sugerir o The Plaza Hotel ou o St. Regis. Eles ficam mais próximos da rota do aeroporto, eliminando o check-in intermediário."

Ethan franziu a testa. Era difícil dizer se ele estava impressionado ou irritado.

“ Solução dois," continuei, sem hesitar. "Manter o local original. Isso exigiria que o nosso motorista estivesse na pista, pronto para nos levar diretamente ao restaurante, sem passar pelo hotel. Eu ligaria imediatamente para o motorista de Nova York e o coordenador de solo para garantir que teremos escolta e pista livre, otimizando o trânsito o máximo possível. O check-in seria feito remotamente pelo tablet, e vocês se trocariam no carro."

Susan riu, um som seco. "No carro? Isso é muito... ambicioso, Melanie."

“E a terceira?" Ethan questionou, ignorando a esposa.

“A terceira, e a mais segura," respondi, já digitando um rascunho de e-mail no iPad. "É aceitar o atraso. Eu contataria o fundo de investimento em nome do Sr. Fontaine, pedindo desculpas formais e propondo um início para 19h. Usaria o tempo extra para organizar a sala de conferências do Four Season — que Patrícia reservou — para que vocês pudessem se encontrar lá de forma privada e mais profissional do que em um restaurante, transformando o imprevisto em um evento exclusivo."

Eu parei. O silêncio voltou. Ethan me encarava, e o pequeno sorriso que eu vira antes, no escritório, voltou a se desenhar em seus lábios. E, céus, ele era ainda mais deslumbrante quando o estresse era substituído por esse leve indício de satisfação. Aquele sorriso mínimo transformava sua beleza fria em algo perigosamente atraente.

“Em qual das três você está trabalhando agora, Melanie?" ele perguntou, o tom agora mais relaxado, mas ainda testando.

“Na terceira, Sr. Fontaine," respondi com convicção. "A segurança de um encontro bem-sucedido não pode ser trocada por dez minutos. O prestígio da marca Palace Real exige um encontro em que vocês estejam no controle, não correndo contra o tempo. Já preparei o e-mail de remarcação e estou aguardando a aprovação do envio."

Ethan fechou o laptop com um clique seco.

“Envie," ele disse. Em seguida, ele se recostou e cruzou os braços.

“Parece que contratamos a pessoa certa para gerenciar o caos, Susan."

Susan sorriu, um sorriso de aprovação total. Eu tinha passado no primeiro teste de voo.