É o Raul. Sou eu.

Minutos antes

Anna

Meu pai acabou não comendo direito a sopa e isso me deixou alerta. Porque, mais cedo, ele havia falado da sopa com entusiasmo, como se esperasse por ela o dia todo. Mas quando levei até ele... deu apenas duas colheradas, agradeceu com um sorriso fraco e disse que preferia descansar.

Ficamos um tempo juntos. Conversamos pouco.

Ele disse estar cansado, mas estava estranho. Mais quieto. Mais... ausente.

O tempo passou, mas a inquietação não.

Já passa das dez e meia quando decido voltar ao quarto dele.

Empurro a porta com cuidado, o coração batendo forte sem motivo claro — ou talvez com todos os motivos do mundo.

— Pai... está acordado?

Silêncio.

A luz do abajur está apagada. A cortina se move levemente com o vento da noite. Tudo parece... calmo demais.

— Pai? — insisto, entrando mais.

Me aproximo devagar. O quarto tem um cheiro leve de chá, de coberta quente. Mas algo está errado.

Ele está deitado do mesmo jeito de antes, virado de lado, o cobertor subindo até o peito.
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