AnnaEncontro-me no meu primeiro dia de trabalho como assistente executiva do CEO, Rafael Fernandez, no escritório da indústria de cosméticos "Beleza Ibérica Cosméticos." Imagina como estou nervosa.A manhã começa com a suave luz do sol inundando o espaço, criando uma atmosfera acolhedora. O aroma delicado de perfumes e loções paira no ar, enchendo meus sentidos com antecipação e empolgação. O som suave das teclas de um computador e o burburinho distante dos colegas de trabalho completam o cenário perfeito para um começo promissor.Helen, a secretária que me precedeu, me entrega algumas cartas para digitar, introduzindo-me suavemente nas tarefas diárias e na rotina do escritório. Ela é prestativa, compartilhando sua experiência e sabedoria para garantir que eu me sinta à vontade em meu novo papel. Apesar de sua natureza acolhedora, algo em minha mente não consegue se livrar da expectativa crescente — a ansiedade de finalmente estar no mesmo espaço que Rafael Fernandez.Ao longo da man
Finalmente, retorno à sala do meu chefe, que agora está ao telefone. Ele aponta os documentos para mim, e eu sorrio antes de pegá-los. Quando estou voltando para minha mesa com os papéis assinados, vejo Raul Fernandez, o homem que me entrevistou, aquele cuja presença me deixou desconcertada desde o início.Agora ele está parado em frente à minha mesa, trajando um terno preto risca de giz, impecavelmente cortado, com a camisa branca que destaca a gravata cinza clara, elegante e discreta. Seus ombros largos e a postura imponente ocupam todo o espaço ao redor, como se o ambiente fosse pequeno demais para abrigar sua presença.Meu coração dispara ao vê-lo novamente, uma reação tão intensa que não consigo disfarçar. Há algo em sua postura, na maneira como seus olhos acinzentados e profundos me fixam, que transforma o ambiente em um território mais íntimo, como se, naquele instante, não houvesse mais ninguém além de nós dois.— Você! — Minhas palavras escapam antes que eu possa contê-las, e
Dias depois...AnnaHoje, mal tive tempo de respirar desde que cheguei ao escritório. O telefone não parava de tocar, e eu ainda precisava revisar a agenda de Rafael, que, como sempre, parecia despreocupado. A manhã estava reservada para uma reunião estratégica com a equipe financeira e o departamento jurídico — um encontro importante para revisar orçamentos e aprovações regulatórias da nova linha de produtos que a empresa pretende lançar.Enquanto organizava os relatórios, contratos e documentos de liberação, notei que Rafael ainda não havia aparecido. Isso não era exatamente uma surpresa. Trabalhar com ele era sempre um misto de imprevisibilidade e caos mascarados por aquele sorriso charmoso que ele achava que podia resolver tudo.Minhas mãos se apertam ao redor de uma pilha de papéis quando olho para o relógio. Os minutos passam rápido demais, e Rafael continua ausente. Tento me concentrar no que posso controlar, mas o atraso começa a pesar no ambiente. Helen, a secretária geral, e
Não trocamos nenhuma palavra que não seja profissional. Mas quando ele me olha — quando diz meu nome daquele jeito — é como se falasse direto com algo que mora quieto dentro de mim, num lugar que eu mesma evito tocar. É avassalador.Essa atração que sinto por ele... não é qualquer coisa. Não é só o físico, embora meu corpo reaja como se conhecesse o dele há milênios. É o jeito que ele me observa, com precisão e contenção. Como se me estudasse. Como se me desafiasse. Como se me… admirasse.E por mais que eu tente racionalizar, fingir que é apenas respeito profissional, que Raul é apenas um chefe exigente e atento, há algo em mim que sabe. Que sente.Entre nós há algo mais.Uma tensão quieta. Um campo invisível que vibra quando ele entra na sala. Um jogo mudo que nenhum dos dois nomeia — mas que ambos jogam.E o que mais me atrai talvez seja isso: o que ele esconde. O que nunca diz.Porque parte de mim quer ser a primeira a quebrar esse silêncio.Ou ser vencida por ele.AnnaA noite che
Dois dias depois...AnnaNa noite passada, antes de dormir, repeti para mim mesma como um mantra: "Você vai manter o foco. Você vai trabalhar. Nada de olhares, nada de devaneios."Eu precisava me proteger.Dele.De mim mesma.Dessa coisa que cresce em silêncio e que eu não consigo nomear.Mas agora, aqui, sentada na sala de conferências, rodeada pelas líderes regionais da Beleza Ibérica, sinto o controle escorregar pelos meus dedos.Rafael deveria estar aqui há pelo menos vinte minutos. A sala está cheia, o clima é de tensão disfarçada em sorrisos educados, e as anotações que organizei com tanto cuidado começam a parecer desnecessárias diante do vazio onde deveria estar o anfitrião da reunião.Helen entra e me lança um olhar rápido — como quem já perdeu a paciência e está prestes a tomar providências.— Vou ligar para o Raul — ela diz baixinho, antes de sair novamente com o celular na mão.Meu estômago se contrai. Eu sabia. Desde o momento em que Rafael não respondeu às mensagens pela
— Ele ficou irritado? — pergunta, a voz carregada de uma curiosidade que eu não consigo entender.Eu olho para ele, tentando discernir o que está por trás daquela pergunta. Pela primeira vez, vejo uma fissura na fachada de despreocupação que Rafael costuma exibir.— Não demonstrou — respondo, observando sua reação. — Pelo menos não diretamente. Ele simplesmente tomou a frente e conduziu a reunião.Rafael solta uma risada curta, sem humor, balançando a cabeça, como se tentasse afastar um pensamento desconfortável.— Ótimo.De repente, ele se levanta, ajeitando a tipoia com cuidado, como se tivesse tomado uma decisão interna.— Vou falar com ele. Não posso deixar isso passar assim.Olho para ele, surpresa pela determinação no tom de sua voz. Não é como Rafael se comportar. Normalmente, ele seria o tipo de pessoa que deixaria as coisas rolarem. Mas agora, algo mudou.— É uma boa ideia — digo, ainda tentando processar a mudança repentina.Ele acena com a cabeça, e antes de sair, vira-se p
Dia seguinte....AnnaO relógio já passa das dez e dez quando a angústia começa a tomar conta de mim. Rafael prometeu passar para me buscar às nove e quarenta e cinco. A visita ao novo parceiro comercial é importante — ele mesmo disse isso ontem. Mas agora, quase meia hora depois, nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Nada.O sol está inclemente, e eu continuo aqui, parada na entrada do prédio da empresa, tentando não parecer desesperada. O calor na calçada é sufocante, o salto já machuca meus pés, e o estômago vazio começa a gritar, avisando que não aguento mais. Respiro fundo, tentando manter a postura, mas o mal-estar se espalha como uma corrente elétrica pelo meu corpo, paralisando meus sentidos.A tontura vem de repente, como um vendaval.A visão embaça, o chão parece mais longe do que deveria, e, antes que eu consiga me apoiar na parede, sinto minhas pernas falharem. O mundo parece girar ao meu redor, um turbilhão de cores e formas que não consigo processar. Vou cair. Sei disso.—
De volta à empresa, o relógio marca quase seis. O salto ainda machuca meus pés, mas agora carrego algo diferente do que tinha de manhã: a sensação de dever cumprido.A reunião foi um sucesso. Rafael se superou, e eu consegui acompanhar, mesmo com o corpo ainda fraco e o coração descompassado pelas emoções do dia. Organizo meus relatórios em silêncio, tentando recuperar alguma ordem dentro de mim, quando escuto a porta se abrir devagar.Levanto os olhos.É ele.Raul.Parado na entrada da sala com as mãos nos bolsos, a expressão contida, mas os olhos... os olhos não disfarçam nada.— Vim ver se você está bem.Minha respiração falha por um segundo. O corpo ainda lembra o toque dele mais cedo, a firmeza com que me segurou, o calor do paletó em meus ombros.Assinto, com um sorriso pequeno, mas verdadeiro.— Estou, sim. Obrigada por mais cedo. De verdade.Ele se aproxima. Os passos são firmes, mas há hesitação neles. Como se cada um carregasse o peso do que ele sente, mas não pode dizer.—