Meu Deus!
Não havia dúvidas.
Aquela voz…
Era impossível de esquecer.
Ficou em mim muito mais do que eu poderia imaginar.
Jamais pensei que o reencontraria, e agora, aqui estava ele: Isaías Castellar.
O irmão do meu ex.
O estranho que havia cruzado meu caminho tempos atrás.
Ele não me olhou com o mesmo choque.
Na verdade, parecia não dar a mínima para a minha presença.
Seu olhar estava fixo no advogado, os braços cruzados, a postura rígida como uma muralha de indiferença.
O que ele estava fazendo aqui?
E por que, de todas as pessoas, fui eu a convocada para essa reunião bizarra?
Dr. Moon pigarreou, atraindo nossa atenção.
— Vamos direto ao ponto — ele disse, ajeitando os óculos sobre o nariz.
— Vocês foram chamados aqui porque há disposições importantes no testamento de Denis e Ana.
Isaías bufou, inclinando-se para frente com um semblante de quem não tinha tempo a perder.
— E o que isso tem a ver comigo? — Ele quase rosnou.
— Não era o suficiente eu lidar com os problemas do meu irmão enquanto ele vivia? Agora tenho que ser arrastado para isso mesmo depois que ele morreu?
Senti um calafrio percorrer minha espinha.
A última vez que vi Denis, ele estava cheio de vida, até cheio demais diga-se de passagem.
Ainda que a cena fosse bizarra demais, mas ele estava vivo.
Não só ele, mas a Ana também.
E agora, aqui estávamos, discutindo seu testamento.
— Vamos com calma — disse Dr. Moon.
— Denis deixou instruções claras sobre a guarda de sua filha, e é isso que nos traz aqui hoje.
— Guarda? — Isaías praticamente gritou.
— Eu? Ele me deixou a m*****a tutela?
— Exato — o advogado confirmou calmamente.
— A guarda total de sua sobrinha foi confiada a você, Doutor Castellar.
Isaías se levantou abruptamente, derrubando a cadeira.
Seu rosto estava uma máscara de fúria.
— Isso é uma piada? Eu mal tenho tempo para mim! Como diabos ele esperava que eu cuidasse de uma criança? Eu nunca quis filhos, Moon, ele sabia disso!
Eu podia sentir a tensão se acumulando dentro de mim também.
Como alguém achou que Isaías seria a pessoa certa para isso?
Muitas e muitas vezes Denis falava da vida surreal que seu irmão levava, ele sempre se dedicou ao trabalho e mais nada!
E mais, por que eu fui chamada aqui?
O que euzinha tenho a ver com o assunto familiar deles?!
Tudo isso parecia um erro gigantesco.
— Espere aí — interrompi, minha voz saindo mais alta do que planejei.
— Por que eu estou aqui? O que isso tem a ver comigo?
Dr. Moon virou seu olhar sério para mim.
— Você também foi mencionada no testamento, senhorita Leclerc. Senhor Foster confiou a você a responsabilidade conjunta pela menina.
A explosão de Isaías quase abafou o som da minha própria respiração parando.
— Ela? — ele vociferou, apontando para mim.
— Ela também foi deixada com essa responsabilidade?
— Isso não faz sentido! — respondi, chocada.
— Por que eu teria algo a ver com isso?
— Senhor Foster acreditava que vocês dois juntos seriam as melhores pessoas para cuidar da criança — explicou Dr. Moon, a voz neutra, como se não estivesse anunciando o início de um desastre.
Isaías olhou para mim com fúria nos olhos.
— Isso é uma loucura. Eu não tenho paciência para ser babá, e ela... — Ele apontou com desdém.
— Não tem a menor capacidade para isso.
Minhas mãos tremiam de raiva.
— E o que te faz pensar que você tem? — retruquei, tentando manter a compostura.
— Nenhum de nós pediu por isso, Doutor Castellar.
O silêncio entre nós era sufocante, até que Dr. Moon limpou a garganta novamente, abrindo o envelope.
— Talvez as palavras do senhor Foster possam esclarecer as coisas — ele disse, retirando o documento.
— Ele deixou tudo por escrito, incluindo suas razões.
E agora, o que ainda está por vir?