O som das vozes me arrancou do torpor do sono como uma bofetada. Por um segundo, pensei que ainda estava sonhando, mas quando olhei para Isaías, seu olhar atento e o gesto de dedo nos lábios me fizeram entender imediatamente. Não era um sonho. As vozes vinham de algum lugar perto, abafadas pela vegetação, mas claras o suficiente para que percebêssemos que não estávamos sozinhos. Meu coração começou a bater tão forte que parecia ecoar em meus ouvidos, quase tão alto quanto os sons ao redor. Isaías inclinou-se para perto de mim, a boca tão próxima de minha orelha que pude sentir seu hálito quente contra minha pele. — Fique calma — Ele sussurrou, a voz tão baixa que quase foi engolida pelo som das folhas farfalhando. Calma? Como ele esperava que eu ficasse calma quando parecia que a qualquer momento seríamos descobertos? As vozes ficaram mais próximas. Consegui distinguir ao menos três ou quatro delas, mas o idioma era estranho, um
A tensão cortava o ar como uma lâmina afiada. Eu podia sentir cada fibra do meu ser pulsando em alerta. Alby estava logo atrás de mim, o som da respiração dela pesada e ansiosa. As vozes que vinham se aproximando eram baixas, mas, mesmo assim, davam arrepios. Cada palavra proferida pelos estranhos parecia carregada de uma ameaça iminente. O cheiro de medo se espalhava pela floresta, e eu sabia que aquele silêncio insuportável não iria durar muito.Então, finalmente, eles apareceram. Seis homens. Armados até os dentes. Sujos, com rostos endurecidos pela maldade, pelo ódio. O líder, um sujeito enorme, de barba por fazer e olhos atentos, observava-nos como se já soubesse o que fazer conosco. Era como se a simples visão de nossas presenças fosse uma afronta pessoal.— O que temos aqui? — A voz dele era baixa, mas repleta de veneno. — Dois ratos perdidos na selva.Meu instinto me dizia para não deixar Alby fora
Eu estava sendo arrastada, sem forças para resistir. Meus pés mal tocavam o chão enquanto as mãos ásperas e sujas dos homens me empurravam para frente. O som dos meus passos ecoava na floresta, e o medo estava tão forte em meu peito que mal conseguia respirar. Não sabia o que esperar. Não sabia o que ia acontecer comigo. Mas uma coisa era certa: eu não tinha mais controle sobre nada.O líder dos rebeldes, o homem de olhos frios e sorriso sádico, me observava com uma expressão de prazer quase doentio enquanto me afastava de Isaías. A sensação de estar sendo arrancada dele, de estar sendo levada para longe, me fazia sentir como se estivesse sendo arrancada de mim mesma. Minha mente girava, confusa e aterrorizada. Eu tentava a todo custo não olhar para trás, mas a cena de Isaías sendo espancado queimava minha mente, recusando-se a sair. O som dos golpes ainda ecoava em meus ouvidos, como se a dor dele fosse minha também. O que fari
Os dias se arrastavam como correntes pesadas, e a incerteza era a única constante que eu conhecia. Cada minuto parecia uma eternidade, cada segundo uma sentença. Eu não sabia onde Isaías estava, e a ausência dele se tornava uma dor insuportável. A cada hora que passava, o medo de nunca mais vê-lo se aprofundava, transformando-se em um monstro que se alimentava de mim, corroendo minhas forças, minha esperança.A distância entre nós parecia um abismo impossível de atravessar. Quanto mais eu tentava me apegar a uma fração de esperança, mais essa distância se expandia, como se tudo estivesse contra nós. O desespero tomava conta de mim, a cada novo amanhecer, me lembrando de que talvez o pior ainda estivesse por vir.Eu ainda estava na cozinha, trabalhando como se a vida fosse continuar dali em diante. Mexia nas panelas, cortava vegetais e servia os homens sem nem mais pensar no que estava fazendo. O corpo mecânico, em uma rotina diária de pura
O tempo não fazia sentido onde eu estava. As horas se arrastavam de uma maneira cruel, como se o relógio tivesse parado de funcionar, ou melhor, como se o próprio tempo tivesse se esquecido de mim. O som da minha respiração era o único ruído que se misturava ao silêncio denso da minha prisão. Eu estava isolado, aprisionado em um lugar que não sabia dizer se era real ou apenas um pesadelo sem fim.Desde que me separaram de Alby, o vazio tomou conta de mim. Não saber onde ela estava, se estava bem, se ainda estava viva, estava me destruindo por dentro. O pavor era insuportável. Eu não conseguia me concentrar em mais nada. Minha mente girava em torno de uma única pergunta, uma obsessão: “Onde ela está?” Eu sabia que, se algo acontecesse com ela, minha alma morreria com isso. Não havia mais nada que me desse forças para continuar. Só Alby. Só o pensamento dela.O silêncio me sufocava. Fiquei horas – ou talvez
Eu senti o chão tremendo sob meus pés quando a porta da cozinha se abriu abruptamente. O som do ambiente ficou mudo por um momento, e um arrepio percorreu minha espinha. O líder dos rebeldes estava ali, à minha frente, com um olhar que não deixava dúvidas sobre suas intenções. Eu congelei.Ele se aproximou de mim com passos firmes e rápidos, como se tivesse todo o direito de estar ali, e de repente uma das mulheres, uma mais velha, se aproximou rapidamente, quase com pressa. Ela olhou para mim com uma expressão de desesperança e, em um tom baixo e urgente, sussurrou:— Alby, minha filha, ouça-me com atenção.Eu a encarei sem entender, o medo me deixando paralisada.— Você tem que ser boazinha. Não resista. Se ele te escolher, tem que ser boa com ele. Se não, ele vai te matar... Você não pode perder essa chance. Eu não sabia se o que estava ouvindo era real ou se eu estava sonhando. Como assim, ser "boazinha"? O que ele queria de mim
Eu já não sabia mais quanto tempo havia se passado desde que aquela prisão começou. O silêncio ao meu redor, apenas interrompido pelo ocasional som de passos ou de vozes abafadas nas paredes, me fazia perder completamente a noção da realidade. O medo e a dor já haviam se entrelaçado de forma tão densa dentro de mim, que eu me sentia como se estivesse flutuando em um abismo sem fim. A cada novo olhar para aquele líder, eu me sentia mais pequena, mais perdida. Eu não sabia se Isaías ainda estava vivo. Não sabia se conseguiria sobreviver a tudo isso. Só sabia que a cada momento que passava, minha alma parecia estar mais distante de mim mesma.Foi então que a porta se abriu. Eu não estava esperando nada, nem sequer um som, mas ela se abriu com um rangido suave. Uma mulher entrou, e algo no ar mudou instantaneamente. A mulher tinha uma expressão de autoridade que eu raramente vi em outra mulher ali, e a maneira como ela olhou para mim foi
O som de passos apressados, o murmúrio das vozes, tudo parecia distante e abafado em minha mente. Quando vi Isaías, meu coração se apertou de uma forma tão devastadora que me faltaram palavras, me faltou ar. Ele estava ali, mas tão longe da imagem forte e invencível que sempre teve. Seu corpo carregava as marcas de uma crueldade impiedosa — hematomas profundos, cortes abertos, o cansaço estampado em cada linha de seu rosto. Eu quis correr até ele, abraçá-lo, protegê-lo de tudo que o havia ferido. Mas minhas pernas vacilaram, incapazes de sustentar o peso do alívio e da dor que me invadiam ao mesmo tempo. Ele estava vivo. Machucado, destruído, mas vivo. E isso, de alguma forma, parecia um milagre em meio ao caos que nos cercava. As lágrimas escorreram antes que eu pudesse controlá-las, uma confissão silenciosa de tudo o que estava preso dentro de mim: o medo de perdê-lo, o desespero de não saber o que enfrentávamos, e a culpa de não pode