57. (Livro Vicente) Raiva e orgulho
O coração de Tereza ainda batia forte quando ela virou a esquina, os dedos crispados ao redor da alça da cesta. O cheiro doce dos bolinhos de fubá e dos quindins que restaram lhe subia ao nariz, mas tudo o que ela sentia era um gosto amargo na boca.
A audácia daquele homem!
Ela não precisava levantar os olhos para saber o que ele era. Um aristocrata. Um dos muitos que passeavam por ali com a arrogância de quem achava que a cidade lhes pertencia. E talvez pertencesse, para gente como ele. Mas para ela, para sua família, para aqueles que lutavam todos os dias para se manter de pé depois da Abolição, a cidade era apenas um campo de batalha onde tinham que lutar por cada migalha.
E ele, com sua voz educada e o olhar que demorou um segundo a mais sobre ela — aquele olhar que os homens ricos sempre tinham quando viam uma mulher negra e jovem —, achou que podia simplesmente jogar uma moeda e resolver tudo?
Tereza sentiu o estômago revirar.
Ela apertou o passo.
Os pés descalços to