Em Zaanche Schans a Vida é Melhor

Cinco em ponto! Rodolfo já estava de pé, embora já fosse acostumado a acordar ainda mais cedo, neste dia tinha um motivo em especial pois estava de folga, correu para a mesa a fim de tomar o delicioso café de sua mãe, que notou o rompante do filho, pois não era uma cena que acontecia com muita frequência por ali.

Rodolfo era o terceiro filho de Dona Flora, depois dele ela teve mais dois, e o conhecendo bem como tal, sabia que seu filho era o mais pacífico de todos, e pensando desta forma decidiu perguntar:

- Qual o motivo da pressa meu filho? Isso não é de seu costume.

- Nada de importante mãe, mas já vou lhe adiantando que hoje darei um pulo em Amsterdã.

- Amsterdã? - Perguntou Dona Flora, surpresa com a resposta - Mas hoje você está de folga Rodolfo, o que pensa em fazer por lá?

- Ele está apaixonado mamãe! - Gritou Yasmin, a irmã mais nova de Rodolfo.

- Apaixonado coisa nenhuma - Rodolfo suou frio, ainda tentando engolir um pedaço de pão - Não diga o que não sabe Yasmin.

Sem terminar seu café, Rodolfo levantou as pressas e saiu de casa sem nem antes se despedir de sua mãe, parecia estar irritado, mas por que? Se Yasmin não estava mentindo? Não seria melhor contar logo a verdade para sua mãe? Mas de nada adiantaria, pois nem mesmo ele sabia a que ponto chegaria sua relação com Shania.

Antes de partir para Amsterdã, decidiu dar uma leve caminhada para se acalmar, funcionava sempre! Parecia uma coisa sem muita importância, mas para Rodolfo, andar em Zaanse Schans até mesmo sem motivo nenhum era o que ele mais gostava. Estava distraído pensando em Shania, quando de repente esbarrou-se com algumas crianças brincando, naquele mesmo instante lembrou -se de sua infância, que mesmo não tendo muito, teve um grande significado para ele. A inocência e as fantasias que refletiam nos olhos daquelas crianças o encheu de esperança, o fez pensar que nada é impossível enquanto estamos vivos.

Sem dúvida nenhuma, os ares e as pessoas daquele lugar sempre o salvaram, em situações distintas de sua vida, não havia nada, nenhuma dor que não fosse rapidamente arrancada do peito em Zaanse Schans.

Rodolfo era muito grato por viver ali, em um vilarejo de moinhos da Holanda, situado a 22km de Amsterdã, um lugar muito bonito que recebia visitantes a todo momento. No fundo ele queria levar Shania para passar alguns dias ali ao lado dele, mas achava que ela não concordaria com a idéia, na verdade ele tinha certeza que Shania não seria capaz de passar um dia sequer sem os luxos que a cercavam, para ela seria uma ofensa sentar numa mesa como a dele, embora ele tivesse orgulho de sua família, sabia que se tratando de Shania o assunto muda de sentido, e por outro lado a família dele também não concordaria se soubessem sobre ela.

Caminhando e mantendo sua mente trabalhando, decidiu enfim pegar o trem, pois sua família não tinha automóvel, mas também Rodolfo não via problema já que de trem levava apenas vinte minutos para finalmente chegar em Amsterdã.

Não parava de pensar um minuto sequer em Shania, seu coração palpitava, mas afinal o que era aquilo? Nunca tinha sentido nada parecido antes, e quanto mais o tempo passava mais se aproximava o momento em que finalmente estaria ao lado dela, estava se sentindo bobo, pois nem mesmo sabia se o que sentia era recíproco, procurou pensar em outras coisas que também lhe eram importantes, mas não adiantou, pois não importava o que pensasse, Shania sempre invadiria seus pensamentos. Lembrou dos beijos quentes que trocaram, dos cabelos dourados e macios que ela possuía, um delicioso perfume sem igual, a pele macia que mais parecia um pêssego, isso tudo o deixou ainda mais fascinado por ela.

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Rodolfo chegou rápido em Amsterdã, mas para ele cada momento parecia demorar quatro vezes mais, o impedindo de finalmente encontrar seu amor. Ele não sabia exatamente onde Shania morava, mas tendo uma família conhecida e respeitada por ali era fácil de encontrar, a primeira pessoa que Rodolfo encontrou já lhe foi suficiente para recolher a valiosa informação do endereço da sua amada. Conseguiu entrar as pressas em um ônibus e parou em um ponto, dali foi andando, já que era um bairro nobre que não tinha passagem de ônibus. Quando finalmente chegou, demorou um bom tempo plantado em frente aos enormes portões, Rodolfo já tinha visto mansões luxuosas, mas como aquela era a primeira vez, era espetacular, mas ao mesmo tempo lhe dava um frio na espinha que o tentava a ir embora o mais rapido possível, mas se conteve e permaneceu ali plantado. Depois de ficar quase meia hora esperando alguém o atender, finalmente apareceu um porteiro e um segurança, o olhavam com desprezo e repugnância, estava na cara que o mandariam ir embora, mas Rodolfo não iria desistir. Depois de encara-lo por alguns segundos, o segurança advertiu que só deixaria Rodolfo entrar se fosse provado que era funcionário da mansão, e após isso entraria por outra passagem que era destinada apenas para empregados. Rodolfo tentou explicar a relação que tinha com Shania, mentiu que eram grandes amigos, mas não foi suficiente, o segurança da mansão permaneceu sobre ordens maiorais e não o deixou entrar. Com tantas tentativas sem sucesso, Rodolfo decidiu fingir que iria embora, e assim que o segurança junto ao porteiro saíram, decidiu voltar e esperar um tempo, talvez Shania estivesse fora e se chegasse daria de cara com ele.

Passado quase meia hora, Rodolfo avistou Lena chegando e sentiu um grande alívio, mas notando Lena sair do carro percebeu que estava sozinha. Ela correu eufórica de encontro a ele, Rodolfo então se sentia mais tranquilo, talvez com a ajuda de Lena ele conseguiria entrar. Sorridente com o tão bonito brilho no olhar, Lena se aproximou dele:

- Que coincidência maravilhosa te encontrar aqui Rodolfo! Eu estava justamente pensando em você, já não te via a cinco dias!

Rodolfo sorriu surpreso:

- Minha nossa! Nunca imaginei que ficaria tão feliz assim em me ver! Mas espera... está mesmo contando os dias em que não nos vemos?

Lena se sentiu envergonhada, não poderia deixar tão transparente seus sentimentos por Rodolfo, ainda que fosse tudo muito novo, já entendia que estava gostando dele:

- Eu quis dizer que gostei da sua energia, você me pareceu desde a primeira vez ser uma boa pessoa - enquanto falava, sentiu seu coração acelerar, e mesmo que tentasse disfarçar, não era possível que teria tanto êxito assim, já que se sentia nas nuvens enquanto olhava nos olhos verdes de Rodolfo - Mas o que faz aqui?

- Senti muita saudade de Shania e como hoje estou de folga, quis vir para lhe fazer uma visita, mas os que guardam a mansão não permitiram a minha entrada - Disse ele abaixando as vistas, impedindo assim Lena de manter contato visual.

Achando um absurdo desrespeito com o rapaz o que os funcionários da mansão fizeram, Lena decidiu ajudar Rodolfo a entrar na mansão. Apenas ligou para Shania e pediu para que ela a encontrasse na entrada. Não demorou muito quando Shania apareceu radiante se mostrando bastante feliz em ver Lena, mas quando avistou Rodolfo sua face mudou de expressão imediatamente. Se aproximou dos dois ainda sem entender o que acontecia ali, sentiu um arrepio em vê-los juntos, já que tinha em sua consciência que havia mentido para ambos.

Ainda trêmula, procurou saber o porquê da visita tão repentina:

- O quê fazem aqui? Confesso que estou surpresa em presenciar essa cena, já fizeram amizade?

Lena percebeu que faltou palavras para Rodolfo se expressar e resolveu responder por ambos:

- Acontece que decidi lhe fazer uma visita, tinha que conversar com você sobre um assunto, mas quando cheguei avistei o Rodolfo sentado aqui fora, ao que me parece seus funcionários não o deixaram entrar - Deu uma pausa mas percebeu o olhar vazio de Shania para com Rodolfo e decidiu continuar - Posso voltar outro dia para conversarmos, já que Rodolfo está aqui só para te ver imagino que queiram ficar sozinhos.

Imediatamente interrompida por Shania, Lena permaneceu intacta, seu sangue gelou naquele mesmo instante, pois conhecia sua amiga e sabia quando ela não estava de acordo com alguma coisa. Sem esperar Shania começou a falar:

- Não não não não e não! Você não vai embora daqui Lena, quem deve ir é ele - Shania virou -se para Rodolfo e disparou - Eu não deixei nada certo entre nós dois, não temos nada, nenhum relacionamento, você não pode simplesmente chegar na minha casa me procurando, quem você pensa que é? Você conhece a minha família? Seriam capazes de te destruir, então volte para o mesmo lugar de onde saiu e não pense em me procurar, nunca mais faça isso!

Ela terminou de falar, mas a sensação de estar ainda ouvindo tudo aquilo permaneceu nos ouvidos e na mente de Rodolfo, que pela primeira vez na vida se desfez em prantos, mesmo sem conseguir falar, com o coração despedaçado, levantou a cabeça e olhou nos olhos de Shania:

- Se era só isso, então não deveria me fazer acreditar que era correspondido por você, eu achei que pudéssemos vir a ter um relacionamento algum dia - Foi interrompido pelas risadas de Shania, mas continuou - Me desculpe, você não vai mais me ver na sua frente!

Mal terminou de falar, tinha esquecido que Lena ainda estava ali, e saiu as pressas ainda se desfazendo em lágrimas. Lena por sua vez, não conseguiu conter as lágrimas que escaparam sem querer de seus lindos olhos castanhos, tentou alcançar Rodolfo mas não conseguiu, foi surpreendida por Shania que a puxou pelo braço e levou - a para dentro de sua mansão.

Se sentaram na varanda que mais parecia uma praça de tão grande, e nenhuma palavra foi dita por pelo menos cinco minutos. Shania decidiu quebrar o gelo e dirigiu - se a Lena num tom surpreso:

- Não entendo, por qual motivo chorou dessa forma? Você nem o conhece, não sabe como ele é, ainda por cima tentou alcança - lo! Por acaso está perdendo o juízo Lena Bukater?

Ainda enxugando as lágrimas, pensando na cena deplorável que tinha acabado de presenciar, com um aperto no peito querendo ainda correr atrás de Rodolfo, Lena se conteve:

- Não preciso conhecer alguém para saber que todos merecemos respeito, ele não fez nada demais Shania, está apaixonado, mas vejo que não sente o mesmo por ele, pela primeira vez me surpreendeu a ponto de me fazer chorar, o que fez com ele foi horrível!

- Estou nervosa, não tive um dia tão proveitoso como gostaria, você tem razão, como na maioria das vezes, sempre tentando me corrigir, eu te agradeço por tentar sempre me fazer corrigir meus erros, mas você sabe que não posso ter um relacionamento com o Rodolfo.

- Isso não justifica a maneira como o tratou, suponho que deva pedir desculpas.

- Se voltar a vê-lo, pedirei sim, mas apenas isso, satisfeita?

- A satisfação não tem que vir de mim, e sim de você, será que não consegue ser um pouco humana uma única vez na vida?

- Eu não quero mais falar sobre isso, pode me dizer sobre o que veio falar comigo?

Lena se calou por um tempo, levantou do assento de almofadas que julgava o mais confortável do mundo, não disse nada, absolutamente nada, apenas se queixou de cansaço e partiu, aquela cena não saía de sua cabeça, ver Rodolfo daquele jeito a deixou completamente abalada. Quando entrou em seu carro, constatou que sim, ela realmente estava apaixonada por Rodolfo, e naquele dia iria fazer de tudo para encontrá-lo, mesmo que dirigisse em toda a cidade.

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Mesmo amando a riqueza e adorando viver numa mansão, Shania se sentia sozinha diante de uma moradia tão grande, era como se nada pudesse preencher aquele vazio que habitava ali, mas onde? Ainda não entendia, seria um breu entre as paredes? Entre as alas? Ou em seu coração?

Shania sabia que tinha grandes problemas em demonstrar sentimentos, pois no ambiente em que foi criada isso não era de muito valor, mas sabia que por Rodolfo não sentia absolutamente nada, só ficou triste por ter feito Lena chorar, embora fosse uma pessoa misteriosa que escondia um terrível segredo de sua melhor amiga, Shania amava Lena e fazia de tudo para não vê-la sofrer.

Depois de pensar em Lena decidiu passar o dia inteiro trancada no quarto, aquele assunto que ela queria tratar, o que seria? Shania sentiu uma angústia devastadora que a fez ter medo, Rodolfo devia ter dito algo suspeito para Lena, era a única explicação. Sem ao menos ter tempo de concluir seu raciocínio, seu celular tocou:

- Alô!

- Shania, precisamos de você hoje!

- Mas hoje? Eu só apareço quando quero, por acaso esqueceu?

- Não quero te contrariar, mas venha, quando chegar te explicarei melhor.

O plano de passar o dia todo trancada no quarto fracassou, não era de costume receber ligações desse tipo, decidiu se aprontar e ir, mas não conseguiria ficar tranquila enquanto Lena não se abrisse com ela sobre tal assunto importante. Se aprontou e ficou um tempo olhando para si mesma diante do espelho, parecia tão vazia, aquilo a deixava melancólica, mas não mudaria sua postura, pois ela era durona e encarava seus problemas sem medo, tinha certeza que um dia viveria sem essas terríveis sensações que a cercavam.

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A noite estava caindo quando Lena se encontrou ainda a procura de Rodolfo, mas nenhum sinal dele. Parou em um acostamento e começou a imaginar que enquanto Shania o desprezava, ela daria tudo para dar um único abraço nele, foi aí que percebeu que estava pela primeira vez na vida sofrendo por amor. Entendia que Rodolfo não poderia correspondê-la, mas mesmo assim o queria muito bem, lembrou-se que ele trabalhava para a floricultura de seu pai, e pôde assim ter esperança de poder vê-lo mais vezes, assim que o visse iria sentar para conversar, poder confortá-lo diante daquela situação, dizer que ela estaria ali para qualquer coisa que ele precisasse.

Uma mensagem de texto chegou no celular de Lena naquele momento, era Clarisse, sua madrasta, lhe convidando para jantar na pizzaria que ela adorava, pois tinha chegado de viagem a pouco tempo e queria matar a saudade daqueles momentos que passavam juntas, eram muito grudadas e Lena não exitou, foi às pressas ao encontro de Clarisse, e mais do que isso, poderia se abrir com ela e contar sobre Rodolfo, ela sempre confiava seus segredos a Clarisse e em troca recebia ótimos conselhos, quem sabe? Talvez teria alguma maneira de lidar com aquela situação.

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Um pai consolando seu pequeno filho. Essa cena impactou o coração de Rodolfo, que já estava sentado naquela praça a horas, era justamente o que ele precisava, de consolo, pois nunca imaginou que amar poderia doer tanto daquela forma.

No momento em que o sol já estava se despedindo, que havia apenas a sua sombra se desvencilhando, Rodolfo decidiu pegar o trem de volta para casa, talvez ali encontrasse o consolo que esperava, Amsterdã perdeu o brilho, comparou com seu sentimento de quando chegou ali mais cedo, ficou assustado, pois lembrou de uma vez quando sua mãe sentou ao seu lado e disse: " Não deixe que ninguém tome controle das suas emoções meu filho, isso pode acabar com vocênão dê a ninguém esse poder". Aquilo o deixou cabisbaixo, estava fazendo o oposto do que sua mãe o aconselhou a fazer, mas talvez fosse o momento, ele nunca tinha amado antes, com um preparo pudesse mais a frente se recuperar e enfim poder pôr em prática o que sua mãe o aconselhou.

Voltou para Zaanse Schans com uma tristeza imensa, não poderia deixar que percebessem, por isso decidiu passar um tempo ainda caminhando para se recuperar um pouco, foi quando avistou uma mãe dizendo a sua filha adolescente:

- Você é grande filha, é grande aqui dentro, no seu coração, nada que te façam vai ser suficiente para te fazer cair, você é forte e completa, todos nós somos, mas algumas pessoas não fazem idéia de sua grandeza, entenda que nenhuma dor é eterna!

Ouvindo aquilo, Rodolfo pôde ter certeza que vivia no lugar certo, sem esperar recebeu uma força que acalmou seu coração, mas no fundo ele sabia que assim que voltasse encontraria a paz de que tanto precisava, e foi aí que começou a raciocinar sobre Shania; será que ela era a pessoa certa para ele? Ela nunca viveria naquele vilarejo, um lugar que ele tanto amava, e pensando na maneira como ela o tratou, chegou a conclusão que não tinham nada em comum, ele não devia ter entregado seu coração assim tão rápido, sem nem ao menos conhecer Shania.

Pensando em tudo que estava vivendo, acabou lembrando de sua mãe, que criou ele e os irmãos sozinha, pois seu pai sofreu um acidente no trabalho e veio a falecer, deixando a esposa e os filhos sozinhos, isso fez com que Rodolfo se emocionasse.

Caminhando de volta para casa, avistou sua mãe em pé o esperando com seus irmãos, foi quando percebeu que sim, ele podia passar por aquilo, ele era forte, pois tinha um exemplo de força ao seu lado que era sua mãe, e não importava mais o que viesse a acontecer, ele tinha tudo o que precisava, tinha uma família que o amava, e vivia em Zaanse Schans, o lugar onde a vida era melhor!

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