Entre Amor e Amizade
Entre Amor e Amizade
Por: Larissa Braz
Prólogo

— Frutas vermelhas para você e de chocolate para mim.

— Por que você sempre pede de chocolate? — perguntei, risonho.

— Pelo mesmo motivo que você sempre pede de frutas vermelhas. — Ela sorriu e me entregou a casquinha com duas bolas de sorvete, sentando-se ao meu lado no banco da praça. — Não acredito que esse é o nosso último verão antes de eu ir para a faculdade.

— Você vai curtir a faculdade. Será a melhor época da sua vida, acredite em mim.

— Ah... eu não sei. E se eu não gostar de estar longe de casa? Longe de você, principalmente?

— Você vai gostar de ir para Boston. Fará novos amigos e, no próximo verão, estará de volta. E não vamos nos esquecer dos feriados, como: Ação de Graças, Natal, Ano-Novo e Páscoa.

— Vai atender sempre que eu te ligar?

Olhei-a e vi um pouco de receio, ou seria medo no seu olhar?

— Isso não vai mudar, Eva. Eu e você nunca iremos mudar.

Um sorriso se abriu. Os seus olhos, que mais se pareciam com duas pedras límpidas de esmeraldas, iluminaram-se com a luz do pôr do sol, que deixava os seus cabelos loiros em um tom dourado.

***

Conheci Eva quando ela tinha apenas oito anos, e eu dezoito. No verão que antecedia a minha ida à faculdade, após a minha formatura no colegial, o meu pai havia me obrigado a trabalhar na sua empresa os três meses inteiros de calor intenso. Segundo ele, era para que eu visse de onde vinha o dinheiro que pagaria os meus estudos, quando pensasse em viver apenas de curtição em Nova Iorque. E ele estava certo, isso funcionou. Levei os meus estudos bastante a sério e me formei com honras, mas não deixei de aproveitar as aventuras de uma vida universitária.

Era mais um final de um dia cansativo, passava das sete da noite e eu ainda estava conferindo uma montanha de contratos para me certificar de que todos haviam sido assinados pelo meu pai. Recostei-me na cadeira e estendi os meus braços para cima, tentando esticar um pouco as costas que doía.

Respirando fundo, senti um enorme cansaço. Afrouxei o nó da gravata que me enforcava, e em seguida ouvi o meu estômago roncar de fome. Percebi ser hora de parar um pouco e procurar algo rápido para comer. Tinha que voltar ao trabalho antes que o meu pai aparecesse berrando e chamando-me de preguiçoso, esfregando na minha cara a boa vida que sempre tive.

Levantei-me e saí da baia apertada, atravessando o corredor escuro e silencioso até os elevadores. Pressionei o botão e saquei o meu celular do bolso na intenção de verificar as mensagens das últimas horas, quando escutei uma canção ser cantada por uma voz doce e infantil. Aquilo chamou a minha atenção.

Segui a música até a sala de espera, encontrando uma garotinha que ainda vestia o uniforme da escola. Ela estava sentada no chão sobre os calcanhares e com os livros abertos sobre a mesa de centro. Provavelmente fazia a sua lição de casa.

— Oi — chamei a sua atenção. Ela se calou e olhou-me com um olhar assustado. — O que faz aqui a esta hora, mocinha? Quem são seus pais?

— Não falo com estranhos — disse ríspida.

Ri e me aproximei.

— Mas você já está falando — zombei, e ela encarou-me séria. Já era tarde, há muito havia passado da hora do jantar. Com certeza, ela devia estar faminta. Pobre menina... — Você deve estar com fome. Estou indo comer um cachorro-quente, você quer vir comigo? Tenho que voltar em vinte minutos, trago você de volta.

— Não vou sair com você. Não nos conhecemos.

É claro que ela não iria a lugar algum comigo. Eu era um estranho. Ela não sabia das minhas boas intenções. Estava certa. Não se deve confiar em estranhos, principalmente em um homem estranho.

— Você está certa. É uma menina inteligente. Então, eu vou fazer o seguinte: vou lá fora, compro os nossos lanches e volto para comer aqui com você. Pode ser? — Ela foi reticente por alguns segundos, mas acho que a sua fome falou mais alto, então, assentiu. — Okay. Volto rapidinho.

Tomei o elevador para o último andar e corri pela calçada ao deixar o prédio, em direção ao carrinho de cachorro-quente parado na esquina.

— Dois, por favor — pedi entregando-lhe quatro dólares.

— É para já, meu jovem.

O senhor, que atendia o seu público, entregou-me os lanches. Voltei andando apressado para o prédio comercial espelhado. Ao sair do elevador, encontrei a menina sentada no mesmo lugar.

— Voltei. — Entreguei o seu cachorro-quente e sentei-me à sua frente, do outro lado da mesa.

— Obrigada. — Lambeu os lábios e deu uma mordida sedenta no pão, sujando a pontinha do seu nariz com mostarda.

— O que a sua mãe diria de você aceitar comida de um estranho?

Ela parou de mastigar e encarou-me com olhos arregalados, cuspindo na mão o pedaço da comida que tinha na boca.

— Estou brincando. É brincadeira! — ri. — Não tem nada no seu cachorro-quente, além dos molhos, é claro. Eu juro! — prometi, encarando-a nos olhos para que ela soubesse que dizia a verdade.

— Eva? — Olhei para o lado e vi Arthur Wangoria entrar na sala, segurando a sua pasta e o paletó na mão esquerda. — Ah... Luke. Como vai? Ainda aqui, rapaz?

— Sim. Ainda tenho uma pilha de contratos esperando por mim.

— Vejo que conheceu a minha filha.

— É uma menina educada e canta muito bem. — Olhei-a e sorri para ela, que retribuiu o elogio com um pequeno sorriso.

— Puxou o talento da avó — riu sem humor, claramente esforçando-se para ser simpático, algo que ele não era. — Temos que ir, querida. A sua mãe já ligou dezenas de vezes. Estamos super atrasados para o jantar.

— Tudo bem — respondeu levantando-se e estendeu-me o lanche.

— Não. É seu. Pode comer no caminho para casa.

Ela olhou para o pai em busca de aprovação.

— É melhor não. A sua mãe não irá gostar de saber que comeu bobagens na rua.

Constrangida, ela estendeu-me o cachorro-quente novamente e, desta vez, eu o peguei.

— Obrigada.

— Não tem que agradecer, Eva. Outro dia comemos outro lanche. — Sorri com simpatia.

— Está bem.

Ela recolheu rapidamente os seus livros e canetas, seguindo o pai até o elevador. Tive pena daquela garotinha. Todos sabiam o quanto era conturbado o casamento dos seus pais e que Arthur tinha casos com todas as suas secretárias que por ali passavam.

“Como deve ser sua vida em casa? Ela é só uma criança. Lembro-me do quanto foi triste ver os meus pais brigarem uma única vez na vida. Imagina este cenário todos os dias?”

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