Desde então, tornei-me a "Luna misteriosa" de Davi dentro da alcateia. Todos apenas sabiam que Davi havia reconhecido uma Luna, mas ninguém sabia quem ela realmente era. Por isso, o nosso filhote também permanecia desconhecido, e ele não permitia que aparecêssemos juntos diante da alcateia.
Segurando o Acordo de Dissolução de Companheirismo nas mãos, fui até o salão central da alcateia para solicitar meu pedido de saída.
— Viviane, você pensou bem? Tem certeza de que quer deixar a alcateia? — Perguntou um funcionário da alcateia, com uma expressão sincera. — Você sabe que nossas regras são claras, e que, uma vez que a saída seja aprovada, não será possível retornar por cinco anos.
— Pensei, sim. Levarei meu filhote ao território do norte para ficar com o pai dele. Já passamos tempo demais separados. É hora de reunir a família. — Respondi, tentando controlar a voz trêmula e esboçando um sorriso amargo.
O funcionário acenou com a cabeça.
— Criar um filhote sozinha por tantos anos realmente deve ter sido difícil para você.
Logo, minha solicitação foi aprovada.
Agradeci e, ao me virar para sair, ouvi baixinho um outro funcionário comentando:
— Sempre achei que ela não tivesse companheiro. E que o tal filhote fosse um bastardo. Mas, pelo visto, ela tem um companheiro...
Meu coração tremeu e parei imediatamente. O sussurro cessou, mas eu suspirei e, sem perceber, mordi os lábios.
Sim, durante todos esses anos, meu companheiro havia sido por mera formalidade. Todos pensavam que eu era uma loba mãe solteira, abandonada após engravidar.
Enquanto caminhava lentamente para fora, alguém de repente esbarrou em mim. Soltei um grito de surpresa, e os documentos das minhas mãos caíram no chão. Levantei o olhar e vi Davi e Sofia entrando, rindo e conversando.
Davi se assustou ao me ver, mas logo seu rosto se tornou frio e indiferente.
— Davi... — Murmurei, sem pensar, mas imediatamente me arrependi de ter falado.
Davi me encarou com frieza, e eu me calei.
De fato, naquele enorme salão central da alcateia, ele era o Alfa, líder de todos os funcionários. Que direito eu tinha de falar com ele?
Durante cinco anos juntos, ele nunca me deu sequer um olhar gentil. Nunca caminhou comigo pela alcateia. E, ao me encontrar, era frio e indiferente, como se eu fosse uma estranha. Muito menos me reconheceu como sua Luna.
— A misteriosa Luna do nosso Alfa finalmente apareceu. Então era ela... — Ouvi um sussurro. — Não é de se admirar que o Alfa tenha se encantado por ela. Ela é a loba mais charmosa da alcateia. É sortudo de ser reconhecida pelo Alfa, que inveja...
Segurei com força minhas lágrimas, mordendo os lábios até sangrar.
Todos acreditavam que Sofia era a verdadeira companheira de Davi e que eles formavam um casal perfeito. Ele olhava para ela com os olhos cheios de ternura e carinho. Silenciosamente, recolhi os documentos espalhados. Ele me odiava tanto... Depois que eu morrer, ele provavelmente vai ficar feliz por poder finalmente se unir a Sofia.
Eu queria informá-lo de que eu estava ali para tratar da minha saída da alcateia, levando José comigo, para nunca mais atrapalhar a felicidade dele com a Sofia. Mas ele não se importou. Ele nem sequer me perguntou o motivo de eu estar ali, só de pensar em me perguntar, ele sentia repulsa. Seus olhos estavam fixos na Sofia.
Mas nada disso importava mais. Em três dias, eu deixaria este mundo para sempre. Se ele me amava ou não, já não fazia diferença.
Saindo do salão central da alcateia, recebi uma ligação de José.
— Mamãe, você disse que ia ao salão central esta tarde para cuidar de algumas coisas. Hoje saí mais cedo da escola e estou por aqui.
— Está bem, espere aí. A mamãe já está indo. — Respondi, virando-me para voltar.
Quando contornei o corredor, vi José parado, imóvel. Segui seu olhar e vi Davi dando sorvete para Sofia. Ao ver os dois próximos, compartilhando o mesmo sorvete, José começou a chorar.
Então, Davi notou José. Os olhos do menino se iluminaram, e ele estava prestes a correr em direção a Davi. Mas Davi o fulminou com um olhar severo, abraçou Sofia e se afastou. José ficou sozinho, sem perceber que sua mochila havia caído. Lágrimas escorreram incontrolavelmente no seu rosto.
Corri até ele e o abracei. Antes que eu pudesse consolá-lo, José me olhou e perguntou, sério:
— Mamãe, amanhã é a competição esportiva. Posso pedir para o tio ir comigo?
Desde que José nasceu, Davi nunca o acompanhou em nenhuma competição.
Olhando para os olhos esperançosos de José, peguei o telefone e liguei para Davi:
— Davi, você poderia acompanhar José na competição esportiva amanhã? Apenas uma manhã, mesmo que seja só por uma hora.
Antes que eu terminasse a frase, a ligação foi desligada. Baixei a cabeça, incapaz de encarar José.
— Mamãe, o papai não quer ir? — Perguntou José, segurando meu rosto, sério.
Como eu não respondi, ele pensou por um instante, assentiu e sorriu com compreensão:
— Está tudo bem, mamãe. Eu só estava perguntando. Se o tio não tiver tempo, é normal. Ele nunca teve tempo mesmo.