José voltou para o quarto para brincar, e eu peguei o Acordo de Dissolução de Companheirismo. Era o quinto ano desde que estabelecemos nosso relacionamento de companheiros e também o quinto ano em que ele e eu estávamos separados. Finalmente, decidi abrir mão desse relacionamento.
De repente, José entrou no quarto carregando uma bola de futebol.
— Mamãe, nós realmente vamos deixar a alcateia? — Perguntou ele.
José me abraçou e enfiou a cabeça em meu colo.
— Mamãe, o tio acabou de me beijar no rosto. Eu sinto que ele ainda gosta de mim.
Ele olhou para mim com os olhos cheios de relutância em se separar.
Fiquei paralisada por um instante e, involuntariamente, lembrei que, em cinco anos de casamento, Davi nunca permitiu que José o chamasse de "papai". Lembrei-me de quando José tinha três anos, Davi o acompanhou numa caçada. Davi capturou um coelho, e José ficou tão empolgado que se jogou nos braços de Davi na frente dos soldados dele, gritando:
— Papai, você é incrível! Quando eu crescer, quero ser como você!
— Quem você está chamando de pai? Deve estar enganado. — Davi franziu a testa imediatamente e disse com voz severa.
Como punição, Davi fez José ficar de pé o dia inteiro no campo de caça, e ele desmaiou de sede sob o sol escaldante.
Quando José tinha quatro anos, Davi o levou para correr com a alcateia à noite. Certa vez, José se vangloriou para os outros sem querer:
— O Alfa da alcateia é meu papai!
Constrangido e furioso, Davi deixou José apavorado quando o abandonou sozinho na floresta escura.
A partir desse momento, José nunca mais ousou chamá-lo de "papai", passou a chamá-lo de "tio".
Desde então, não ouvíamos mais sorrisos dentro de casa. José sempre falava com Davi com extrema cautela.
Pensando nisso, abracei José com força, meu coração estava apertado como se estivesse sendo rasgado. Olhando para seu rostinho inocente, falei lentamente:
— José, a verdadeira companheira do papai voltou. Precisamos ir embora.
— Mamãe, este é o presente que o tio me deu agora. Se ele não gostasse de mim, por que me daria uma bola? — O olhar de José escureceu.
Ele me olhou com seriedade. Eu sabia que ele queria provar que Davi o amava. Minha boca se abriu ligeiramente, querendo dizer algo, mas engoli as palavras. Não sabia como explicar. Eu não podia dizer a uma criança de cinco anos que Davi estava feliz porque a pessoa que ele realmente amava havia retornado. Também não podia dizer que Davi, durante todos esses anos, me desprezou por acreditar que eu o havia intoxicado com feromônios, e por isso não gostava do nosso filhote. Muito menos podia contar que eu sofria da síndrome de enfraquecimento espiritual do lobo, que já havia consumido minha força de loba interior, e que eu morreria em três dias.
Engoli a amargura e disse a mim mesma que, de qualquer forma, não podia ferir o jovem coração de José.
— José, você quer ir com a mamãe e deixar o tio? — Perguntei.
José hesitou por um instante e sussurrou perto do meu ouvido:
— Mamãe, podemos ficar mais um pouco? Eu sinto que papai começou a gostar de mim. Quero chamá-lo de papai na frente de toda a alcateia, para que todos saibam que o Alfa Davi é meu pai.
Ao ouvir isso, lágrimas encheram os meus olhos.
— José, o tio Davi quer que a gente saia da alcateia o quanto antes. Então a mamãe vai te levar para a alcateia do vovô, tudo bem? — Perguntei entre soluços, acariciando sua cabeça.
José me olhou fixamente, cabisbaixo, abraçando firmemente sua bola.
Após um longo silêncio, falou:
— Mamãe, que tal fazermos assim: damos três dias para o papai. Se ele continuar nos ignorando como antes, se não nos aceitar, então iremos embora para sempre. E nunca mais voltaremos a esta alcateia.
Sorri para ele e acenei com a cabeça, pois, por dentro, eu já sabia que todos esses anos de espera haviam sido em vão. Meu coração já estava morto. Só José ainda teimava em acreditar que seu pai poderia amá-lo.
Dessa forma, deixaria que ele visse por si mesmo quão indiferente o "tio" poderia ser, para que ele pudesse finalmente desapegar de Davi, sem nenhum arrependimento.
Em três dias, eu levaria José e sairíamos da alcateia. Eu o entregaria aos meus pais, assim eu poderia deixar este mundo sem nenhuma preocupação. Mesmo se morresse, morreria na alcateia onde cresci, ao lado dos meus pais. Não neste lugar estranho, onde ninguém me amava.
Aquele dia marcava o retorno de Sofia, amiga de infância de Davi, à alcateia. Eles cresceram juntos, e os pais de Davi já aceitavam Sofia como a futura Luna da alcateia. Mas, dois dias antes do ritual de vínculo de companheiros, Sofia desapareceu, deixando a alcateia. Ao saber disso, Davi quase entrou em colapso. Procurou por Sofia desesperadamente, mas, sem pistas, Davi ficou melancólico. Nas noites de lua cheia, ele uivava sozinho para a lua, e toda a alcateia sabia que ele ainda sentia falta de Sofia.
Certa noite de lua cheia, inexplicavelmente, Davi bebeu um chá de ervas com feromônios. Naquela noite, seu lobo interior perdeu o controle. Coincidentemente, eu bati à porta dele para entregar documentos do conselho. E assim, pouco tempo depois, tornei-me a Luna da alcateia.
No ano seguinte, o nosso filhote, José, nasceu.