6.Despedidas

- Acorda filho. - chamou Hellena abrindo as cortinas do quarto de Christian que abriu os olhos esfregando-os enquanto se espreguiçava notando o seu corpo dolorido por não ter descansado o suficiente. Que horas eram aquelas, era muito cedo.

- Bom dia mãe. - falou, procurando o celular. Haviam dez chamadas perdidas de David, o que o deixou preocupado.

- Bom dia filho, o David esta lá embaixo, disse que precisava falar urgente com você. - ela se sentou a beira da cama de Christian analisando o livreto e o cetro que estavam caídos no chão.

- Bem, isso explica as dez chamadas. Mas a essa hora? Deve ser algo importante mesmo. Caramba, hoje é o primeiro dia de aula, ele deve estar me esperando, havia me esquecido. - ele olhou o celular novamente,. - mas ainda são sete da manhã e as aulas só começam as oito.

- Eu não acho que seja esse o motivo da visita dele, não estava com o fardamento nem com a mochila, além de quê você não precisa ir a aula hoje se não quiser, você deve estar cansado da conversa de ontem a noite. Quer falar sobre? Pedi ao David para esperar um pouco. - ela evidenciou a carta demonstrando querer saber o que ele tinha a dizer sobre.

- Bem... Eu imagino que a Sra. Já tenha lido a carta... - ela assentiu com a cabeça - então a Sra. sabe que eu não sou humano, que eu sou um...

-Elfo. - ela completou. - Pesquisei bastante sobre.

- Então, eu não pretendo voltar para a escola este ano, pretendo ir para Kaliakay, não sei, eu preciso ir.

Christian esperou em silêncio a reação de sua mãe.

- Eu temia por esse momento, mas não vou impedi-lo. Eu e seu pai já conversamos muito sobre esse momento e decidimos por aceitar sua escolha, claro que ficaríamos mais felizes se você preferisse não ir, mas desde sempre sabíamos que esse dia chegaria. - ela chorava agora.

- Mãe, eu amo a Sra. e o papai, mas já aconteceu. Eu conheci dois elfos ontem a noite, filhos dos amigos dos meus pais biológicos. Eles são bons e estavam a minha procura, eles não sabem que eu sou o elfo perdido mas eu tenho quase certeza que eles vão me ajudar assim que souberem. - Christian não contou sobre os elfos das trevas que os atacaram, não queria deixar sua mãe ainda mais temerosa.

- Bem, eu não sei como isso aconteceu, mas você sempre soube cuidar de si mesmo, graças a Deus sempre foi ajuizado e eu confio no seu julgamento, só tome cuidado. - as palavras de sua mãe o reconfortaram, ela tinha orgulho dele, confiava nele.

Christian não sabia exatamente como encontraria Sophia e Petrus mas tinha uma forte intuição que as palavras de Sophia realmente se concretizariam e ele os veria aquele dia, também não sabia exatamente como chegaria em Kaliakay com a ajuda deles, se eles o ajudassem, nem quando seria isso, mas com certeza ele encontraria um jeito.

- O David esta esperando você, seu pai esta lá embaixo tomando café, pode descer eu arrumo sua cama. - Hellena o beijou na testa entregando os presentes de Christian junto com a carta. Ele pôs nos bolsos, correu para o banheiro e em menos de dez minutos desceu correndo as escadas ao encontro de David.

- Christian, porque não atendeu minhas ligações? Que vacilo cara! - David foi falando antes mesmo de Christian atingir o fim da escada.

- Puxa, desculpa. - ele passou a mão nos cabelos - é que aconteceu tanta coisa depois que nos despedimos que você não vai acreditar quando eu te contar.

- Eu acho que é você que não vai acreditar no que eu vou te contar. - David sorriu triunfante imaginando que o que Christian tinha para contar era menos interessante do que o que ele diria.

- Bem, então você pode começar. - disse Christian puxando o cinto para prender a calça jeans que vestiu as pressas, encaixando o tênis nos pés e endireitando a camisa de manga longa.

- A gente pode conversar lá forra? - perguntou fazendo um sinal com a cabeça para o pai de Christian que estava sentado na mesa lendo o jornal enquanto tomava seu café.

- Podemos sim, só um minuto. - pediu, indo pegar algumas bananas na fruteira. - Bom dia pai. - sorriu.

- Bom dia filho, esta tudo bem, quer conversar? - Ele pôs ligeiramente a mão no ombro de Chris.

- Está tudo bem, conversamos mais tarde pai, vou lá fora com o David, okay.

- Esta bem então. - ele voltou para o jornal depois de olhar nos olhos de Christian e ter a certeza de que realmente estava tudo bem.

- Agora vamos. - disse a David.

O dia estava um tanto nublado, ameaçava chover a qualquer instante, ainda estava frio por conta do sol não ter se levantado por completo, eles se sentaram em um dos três degraus da entrada da casa.

- Antes de te contar você tem que me prometer que não vai contar pra ninguém, a mamãe me proibiu de contar pra você, eu disse apenas que iria contar que iria embora...

- Que você o quê!? - interrompeu Christian sem entender.

- Espera, isso é parte do que vim te contar. - explicou David parecendo triste com essa parte - então, eu vou ter de ir embora.

- Embora pra onde? Viajar?

- Mais ou menos. Mas promete primeiro - disse, o sorriso voltando ao seu rosto.

-Tá, eu prometo, mas como assim mais ou menos, fala de uma vez.

- Tá. Ontem a noite minha mãe me contou uma coisa incrível, que... - ele pausou dramaticamente - eu sou um bruxo, isso não é um Maximo!?

- Você não está brincando, está? - Christian começava a pensar quando foi que o mundo ficou de ponta a cabeça, onde seus pais não são seus pais de verdade, outros mundos existiam, ele era um elfo e seu melhor amigo um bruxo.

- Claro que não! Eu te mostro. - David se levantou pegando uma varinha de madeira do bolso.

- Espera, não precisa, eu acredito em você. - Christian levantou enquanto pegava o cetro do bolso e mostrava a David. - Até porque eu sou um... Elfo.

- Cara, isso é incrível? Mas como? Seu pais, eles também...

- Não, longa história...

Christian contou tudo que acontecera na noite passada, sobre Petrus e Sophia e como eles o salvaram, sobre ser adotado e como chegara aquele mundo. Contou também o que lera na carta e o que pretendia fazer para chegar a Kaliakay. Ele e David ficaram surpresos em descobrir que Bruxer a escola para onde David iria amanhã também ficava em Kaliakay, fato que se tornara mais uma possibilidade para Christian chegar até lá. Ele poderia ir com David se não encontrasse Sophia e Petrus aquele dia, o que seria mais conveniente porque conversando eles também descobriram que as escolas eram em terras muito distantes e que pela guerra que ocorreu nas terras élficas fez com que os povos desconfiassem uns dos outros, então não seria a melhor ideia um elfo aparecer em Bruxer assim do nada, ainda mais sendo o elfo perdido.

- Então é isso, meu irmão Ferdnando não está em um colégio interno como eu pensava - contava David - Ele estava estudando em Bruxer esse tempo todo, ele vai me encontrar no aeroporto mais tarde, ele ficou muito feliz de enfim eu ter desenvolvido meus poderes e poder saber toda verdade sobre nossa família.

David contara a Chris que na noite anterior explodiu a tela da televisão quando se assustou com uma cena de filme e que quando tentava explicar que não fora sua culpa sua mãe Gabriela começou a chorar emocionada e seu pai o abraçava parabenizando-o. 

- Então isso é uma despedida irmão? - Christian perguntou um tanto triste e feliz no entanto, por David ser diferente como ele.

- Ao menos até o fim das aulas, todo fim do ano entramos em férias. - Christian se perguntou se Elfanária seria assim também. - Você não vai começar a chorar vai?

Christian riu batendo no ombro do amigo.

- Claro que não!

David ficou boquiaberto olhando por sob o ombro de Christian corando instantaneamente.

- O que foi David? - ele se virou para ver Sophia correndo em sua direção junto com uma garota e mais dois garotos.

- Sophia? Você não vai acreditar! - ele foi logo dizendo.

- Eu já sei de tudo. - ela o interrompeu cortantemente, sem a simpatia que Christian esperava. Ela deu um breve olhar para David. - Olá David.

- Olá. - respondeu sem jeito.

- Você tem que vir conosco agora. - disse ainda arfante.

- Espera, como você já sabe, bola de cristal? E quem são eles? - apontou para os estranhos que o encaravam curiosos.

- São meus amigos, eles vieram passar os últimos dias antes de ir para Elfanária na nossa casa. - ela falava apressadamente, percebendo que Christian não iria com ela antes de entender o que estava acontecendo. - Esses são Estela, Jimitre e Apolo.

Ela apontava para cada um enquanto falava, Estela era uma garota morena de cabelos castanhos e curtos, Jimitre tinha a pele clara e cabelos castanhos claro, os olhos verdes e se pareceria com David não fosse a falta de sardas e o corpo grande. Apolo no entanto era menor que todos, tinha a mesma cor canela de Christian, cabelo negro e curto espetado, os olhos pareciam duas pedras brilhantes e azuis. Ele olhava simpaticamente para Christian, que se perguntou se era o mesmo Apolo da conversa de Petrus de ontem a noite.

- Prazer, Christian, e esse é o David meu amigo.

- Melhor, amigo. - David passou o braço pelos ombros de Christian ao falar sorrindo.

Os amigos de Sophia os cumprimentaram formalmente, exceto por Apolo que lhes deu um abraço enquanto sorria.

- Sophia! - todos se viraram para ver um garoto alto, de pele clara de cabelos repicados estranhamente brancos correr até eles.

- O que houve Angelo? Cadê o Pete? - Sophia se aproximou do garoto.

- Vocês precisam vir, depressa, o Petrus está em perigo!

- Em perigo? - Christian perguntou sem entender.

- Não temos tempo para isso, vocês precisam vir. - disse Angelo ignorando Christian, que sentiu no mesmo instante uma profunda antipatia por ele.

- Você vem Christian? - Sophia perguntou.

- Não creio que ele seja mais necessário agora, você pode voltar aqui depois quando seus pais voltarem Sophia, agora ele só vai atrapalhar. - disse Angelo se afastando. Christian sentiu uma repentina vontade de socar aquele garoto não entendendo qual era o problema dele em relação a ele.

- Claro que vou, afinal vocês me ajudaram! - disse, encarando Angelo como um desafio. Na verdade jamais negaria ajuda a ninguém que estivesse a seu alcance.

- Então vamos! - disse ela, antes de todos começarem a correr.

Angelo não parava de olhar para Christian como se o estivesse examinando, como se duvidasse dos seus olhos, desviando o olhar sempre que era pego encarando enquanto corriam.

Passaram por algumas pessoas que deveriam estar estranhando um grupo de jovens correndo juntos pelas ruas. Por fim chegaram a um grande muro que separava uma parte da cidade da reserva florestal de Sol Nascente. Todos pararam, uma escada seria necessário para passar para o outro lado.

- Vamos dar a volta. - Christian sugeriu.

- Não há tempo pra isso. - disse Angelo.

- E como vamos passar, esse muro é muito alto. - perguntou, ignorando o tom de descaso de Angelo.

- Eu disse, que ele só atrapalharia. - Angelo cochichou para Apolo que olhou para Christian com uma expressão de desculpa ao perceber que ele havia ouvido.

- Vamos por cima, claro. - Jimitre falou sorrindo.

- Não liga pra ele. - Estela falou no ouvido de Christian olhando para Angelo.

- Tudo bem. - ele sorriu de volta, notando que Angelo conseguia ser pior que Petrus.

David deu um passo atrás timidamente.

- Você não vem? -Chris perguntou.

- Não imaginei que iriam tão longe. Eu preciso ir ou vou perder o voo.

- Então até mais irmão. Vamos encontrar um jeito de nos falar assim que chegarmos a Kaliakay.

Os outros olharam para Christian a menção do nome.

- Então você pretende ir conosco, Chris? - perguntou Sophia, a animação e simpatia voltando a seu rosto por alguns instantes.

- Sim. - ele sorriu, feliz pela volta da Sophia que tinha conhecido ontem a noite.

- Então eu o ajudarei a se comunicar com o David, não se preocupe. - disse ela, agora olhando para David. - A propósito, boa sorte em Bruxer.

- É... Obrigado. - disse, ruborizando um pouco, lembrando-se da história que Chris o contara mais cedo, sobre a bola de cristal, supondo que ela deveria saber sobre ele por isso.

- Então a gente se vê. - disse Chris indo até David e o abraçando.

- Você precisa vir agora. - disse Sophia pondo a mão em seu ombro.

- Espero que não aconteça nada de mal. Boa sorte irmão! - disse David.

- Obrigado. Boa sorte também. - disse enquanto ia para perto de Apolo e Jimitre.

- Os outros já estão do outro lado. - disse Apolo.

- Como?

- Assim. - Jimitre e Apolo seguraram o seu braço, um de cada lado, e se jogaram para cima, em um espanto estavam sob o muro, um frio percorreu a barriga de Christian com o súbito. Ele olhou para trás e lá estava os olhos do seu melhor amigo lhe dizendo...

- Até mais! - o ouviu dizer antes de pularem para o chão e recomeçarem a correr.

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