Capítulo 4

(Renata Pellegrini)

— O senhor chegou mais cedo — Verônica fala com um sorriso trêmulo no rosto. Acho que até ela sente medo dele — Por que não me avisou?

— E desde quando te deve satisfação? Quem trabalha pra mim é você.

Imbécil! Grosso! Babaca! Nem me surpreende, o que se poderia esperar de um magnata? Ele é só mais um no mundo. Arrogante e prepotente. Só mais um idiota que só porque tem dinheiro acha que tem o mundo sobres os pés.

Talvez ele realmente tenha, é o homem mais rico do mundo, deve ter tudo o que bem entender. Desde objetos a mulheres, talvez para ele isso nem tenha diferença, homens com dinheiro pensam que mulheres são objetos, que só precisam abanar algumas notas de cem e elas são suas.

"Dúvido nada Verônica ser uma das mulheres que sonham em fisgar o magnata" — reviro os olhos com esse pensamento — "Mas bem feito para ela, é exatamente como o ditado diz: Quem com ferro fere, com ferro será ferido!" — sorriu por dentro ao finalizar meu pensamento.

— Desculpe senhor, não foi minha intenção cobra-lo nada — Verônica se desculpa de cabeça baixa, agora ela se lembrou que assim como eu, é só mais uma assalariada.

Bem, talvez não como eu, tenho certeza que assim que por meus pés para fora desta sala, serei despojada daqui.

— E quanto a você? — vira e se aproxima de mim novamente, por que esse homem exala tanto perigo? Seus olhos me encaram com desconfiança.

Nunca na minha vida senti minhas pernas tão bambas quanto agora. Esse homem parece que vai me virar do avesso apenas com esse olhar. O ar parece ter ficado rarefeito do nada. A cada passo que ele dá para mais perto, gera em mim a sensação de diminuir de tamanho. Ele deve ser, no mínimo, uns quarenta centímetros mais alto que eu.

— Ragazza, não me faça repetir mais uma vez — sussurra ameaçadoramente em meu ouvido, sua voz grave junto com seu sotaque italiano faz até os pelos das minhas pernas arrepiarem. Será que tenho um fraco por italianos? Por isso nunca me apaixonei por um brasileiro?

“Ragazza (garota)” — isso me trás lembranças do meu pai, apenas ele me chamava assim.

Ele coloca as mãos no bolso da calça, fazendo uma pose de homem mau. Sinto um emaranhado de borboletas dentro da minha barriga.

Onde foi parar a minha voz? Senhor me ajuda! Tira esse homem de perto de mim! Socorro!

Desvio meu olhar dele e vejo Verônica se aproximando apressadamente.

— Senhor Valentini, ela é a nova zeladora…

— Nova? — estala a língua — Quando começaram a empregar sem o meu consentimento?

Uau, não imaginei que ele fosse tão controlador. Pensava que magnatas do porte dele não se importavam com quem era ou não era contratado, ao menos, não os funcionários da faxina.

— Ela estava desesperada, senhor. Eu só quis ajudá-la a…

— Não sabia que aqui virou lugar de caridade, senhorita Verônica.

— Vou mandá-la embora agora mesmo, senhor.

Oh meu Deus… Eu sabia que ia acabar assim, quando eu penso que finalmente algo na minha vida vai mudar para melhor, vem as tempestades e bota tudo a perder de novo.

Sinto meus olhos queimando, como eu vou voltar para o Brasil? Estou com vergonha de pedir ajuda para minha professora que já fez tanto por mim.

Vou ter que me humilhar mais uma vez, não posso ser demitida agora. Preciso ao menos receber o primeiro salário para poder voltar ao Brasil.

Espero que esse homem tenha algo batendo dentro da caixa torácica.

— Senhor Filippo… — começo, mas uma mão me faz calar.

O que foi isso? Minha bochecha está ardendo, eu realmente levei um tapa? Na cara?!

— Como ousa chamá-lo pelo primeiro nome!? Sua faveladinha….

Nunca briguei na vida, sempre fui contra violência. Mas eu já estou no meu limite de humilhação! Meu pai quando estava vivo, me ensinou a arte da autodefesa, já um amigo da minha mãe — ele morreu um ano antes dos meus pais — me ensinou a luta das ruas, e disse que só era para eu usar caso precisasse impor respeito sobre alguém.

Essa hora chegou!

Eu sou uns cinco centímetros mais alta que Verônica, agarro o colarinho de sua blusa social e puxo com força a fazendo ficar nas pontas dos pés, ela tenta puxar minhas mãos para soltá-la, mas apenas a trago para mais perto de meu rosto.

— Olha aqui sua metida a besta, eu não sou a porra da sua filha para você ousar levantar essa mão frufru para mim. E se você fizer isso novamente, guarde bem as minhas palavras — olho dentro de seus olhos e ela treme diante meu olhar, gosto assim, aproximo minha boca de seu ouvido e sussurro: — Acho bom você ter muito dinheiro mesmo, porque vai precisar de muito para arrumar a cara que eu vou socar até deformar.

Solto o colarinho de sua blusa e ela cai de bunda no chão. Prendo a vontade de rir da cara de assustada que ela faz, mas isso só dura alguns segundos, ela levanta do chão e sua face vai ficando cada vez mais vermelha.

— Como ousa me ameaçar, sua faxineira desengonçada!? — grita exasperada.

— Abaixe o tom que você não está falando com sua parecida — retruco calma, a deixando ainda mais irritada.

— Cobra mal agradecida! Você estava desesperada e EU te ajudei!

— Se você quisesse realmente ter me ajudado — começo a cuspir as palavras, sentindo toda raiva que contive dentro de mim por esses longos quinze minutos — Teria me deixado fazer a entrevista que vim fazer e não ter me jogado no cargo de faxineira!

— E você mostrou não ter qualificação nem para ocupar um simples cargo de faxineira, nunca que serviria para ser assistente do senhor Valentini!

Ah que ódio! Fecho minhas mãos em punhos e começo a pisar forte no chão me aproximando dela.

— Tu, puttana… — a xingo de vadia entre dentes.

Vou quebrar o nariz empinado dessa mulher agora! Desgraçada, quem ela pensa que é?! Já tou na lama mesmo, vou me afundar mais um pouco, não tenho mais nada a perder aqui.

Com sangue nos olhos, ergo meus braços a fim de agarrar o pescoço fino dessa girafa anã, mas Filippo coloca seu corpo grande entre mim e Verônica.

— Saia da sala, agora! — ordena com a voz grave, carregada de dominância. Que homem de presença forte!

Isso está certo? Não consigo acreditar em meus olhos.

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