Capítulo 5

(Renata Pellegrini)

— S-senhor? — ela pisca várias vezes sem acreditar no que ouviu. Eu também não estou acreditando — E-eu não entendi bem o que disse, o senhor poderia…

— Oddio, dammi pazienza — “ oh Deus, dá-me paciência” ele murmura em italiano, enquanto massageia as têmporas — Quero que saia da minha sala, agora!

— Mas senhor, e quanto a ela? — Verônica aponta o dedo em minha direção — O senhor mandou demiti-la…

— Stai zitto! — “cale-se!” ele aumenta o tom de voz, não tenho certeza se ela entendeu o que ele disse, mas ela se assusta com o tom de voz e se calou. Eu entendi o que ele disse porque sempre ouvia meu pai falando essas palavras em italianos quando eu aprontava alguma coisa — Faça o que te mandei, saia da minha sala, senhorita Verônica, não irei repetir mais uma vez.

O queixo de Verônica treme de raiva, com certeza está se sentindo humilhada, ela me olha mais uma vez, consigo ler em seu olhar: “Você vai me pagar!”.

Sorriu, seu rosto fica mais vermelho com a minha provocação, ela se vira e sai pisando duro de dentro da sala, me deixando a sós com o magnata italiano.

Engulo seco, toda a raiva dentro de mim desapareceu e só restou nervosismo e receios.

Ele se vira e me encara, me sinto sem jeito diante esse olhar, ele parece estudar cada parte do meu corpo, não vai conseguir ver muito, o uniforme não marca minhas curvas, e nem tenho muitas mesmo, a única coisa que ressalta em mim, são os meus seios, eles são medianos, mas pelo menos não é pequeno como minha bunda e nem fino como minhas pernas. Dá para dar umas apertadas legal. Ao menos, é o que acho, eu gosto da textura e tamanho dos meus seios. Minha mãe, quando tinha treze anos, sempre me incentivou a conhecer o meu corpo e me ensinou onde jamais poderia deixar alguém tocar sem minha permissão.

Tento me concentrar em algum som além do meu coração batendo tão forte que chega dói. Mas a sala está tão silenciosa, que sinto o desespero tentando tomar conta de mim. Tento desacelerar minha respiração, não posso ter um piripaque aqui.

— Non ricordo di averti visto, di quale parte d'Italia sei?

— O que disse? — pergunto num fio de voz, a única coisa que consegui entender foi: qual parte da Itália. E nem sei se entendi corretamente.

— Non parlate italiano? — acho que ele está me fazendo uma pergunta, mas novamente não entendo nada além da palavra "italiano". Seus olhos me analisam mais uma vez, de cima a baixo, isso me incomoda, sinto meu rosto ficando quente.

— Pode por favor falar em inglês? — peço o encarando de volta.

Não quero que ele pense que o acho atraente, ou que despertou algo em mim, vou levar isso ao túmulo comigo. Nunca na minha vida, pensei que algum dia, iria me sentir atraída pelo tipo de gente que mais desprezo no mundo.

Ele estala a língua e vai até sua cadeira, atrás da mesa, senta e sem tirar os olhos dos meus, aponta para a cadeira à frente da mesa. Não quero me sentar, meu cérebro quer sair daqui, mas estou curiosa e necessito desse emprego.

Eu já me decidi, se ele me dar a oportunidade de continuar, irei trabalhar apenas até receber o meu primeiro salário. Não vou ficar aqui para trabalhar como faxineira, se nesse tempo eu conhecer alguma outra empresa que esteja contratado, vou tentar, mas se não, irei voltar para o Brasil e seguir minha vida por lá mesmo.

— De onde você é, e qual o seu nome, e sua idade? — pergunta em inglês.

Dou graças por minha mãe ter me colocado num cursinho de inglês quando tinha seis anos. Nunca parei de praticar, e por isso pude viajar sem nenhum problema para cá. E foi também por esse motivo que eu pensei que teria alguma chance de conseguir me sair bem na entrevista e viver em outro país.

— Brasil, me chamo Renata Pellegrini, vinte e quatro anos — respondo, ele ergue uma sobrancelha me olhando desconfiado.

— Você não tem aparência de uma brasileira — fala baixo para si mesmo, mas consigo escutar, resolvo permanecer em silêncio — Tanto seu nome, quanto seu sobrenome são de origens italianas — constata e cruza os braços, apenas continuo calada o observando, ele estala a língua — Como chegou aqui?

— Minha professora conseguiu uma entrevista de emprego aqui — explico tentando manter a calma.

— Qual o nome da sua professora?

— Juliana Lueni.

Ele coloca a mão no queixo, e fecha os olhos por alguns segundos.

— Nunca ouvir falar nesse nome — se recosta na cadeira e cruza os braços novamente — O que você estudava?

— Sistema de Informação, concluí o curso na semana passada — explico mais animada.

Será que ele está fazendo a entrevista? Vou trocar de cargo? Ah eu espero que sim, vai ser um sonho realizado se eu conseguir um cargo melhor.

— Como parou na vaga de zeladora?

— Bem, a gerente Verônica…

— Ela não é gerente daqui — corta minha fala me deixando confusa.

— Não? — olho confusa para ele.

— Não — responde.

È una vera furfante (ela é uma verdadeira canalha)! Colocando toda aquela pose, me dando um emprego, sendo que ela sequer era responsável pela minha entrevista.

— O que ela é? — pergunto, espero que ele não me dê uma patada que nem fez com ela.

— Chefe das atendentes, ela é a responsável pelo treinamento das novas atendentes e a organização dos turnos — explica.

— Certo, bem, quando eu entrei aqui, ela tinha me dito que a senhorita Carol avisou da minha vinda junto a outros concorrentes da vaga — ele franze as sobrancelhas, como se só estivesse sabendo agora desses detalhes — Mas nem conseguir dizer que vim para a entrevista, ela me mandou embora dizendo que não estava a nivel de trabalhar aqui.

— Ai ela te ofereceu o cargo de zeladora — constanta.

— Sim — apenas confirmo sua sugestão do ocorrido.

— Qual seu estado civil?

— Solteira, senhor.

— Tem filhos?

— Não.

— Certo, verei o que posso fazer e te ligo até o fim da semana que vem, anote aqui o seu telefone e email de contato.

Ele me entrega uma caderneta e uma caneta, anoto as informações que ele pediu. “Ai Senhor, coloque a mão no coração desse homem e o faça me contratar.” — peço em pensamentos.

— Enquanto isso, é para eu continuar vindo aqui?

— Fazer? — pergunta com a sobrancelha erguida olhando o papel com as informações.

— Hum, faxina? — falo sem graça — Me deixa vir, preciso do dinheiro das horas de trabalho — suplico de cabeça baixa.

Que humilhação, mas o que eu posso fazer? No apartamento não tem nada para comer e eu não tenho nem um tostão furado do bolso, e nem tenho nenhum cartão de crédito. Preciso ao menos receber pelas diárias.

— Pegue.

Olho para a mão dele segurando uma nota de cem dólares.

— O-o que é isso? Está fazendo caridade agora?

Mannaggia! ( Droga!) Por que eu não consigo controlar a minha língua? Preciso desse dinheiro, mas a frase dele perguntando se aqui virou local de caridade b**e na minha mente e mexe com o meu orgulho.

— O pagamento por suas horas trabalhadas hoje.

— Só trabalhei por quinze minutos — falo desconfiada dele. Não acredito em bondade genuína vinda de pessoas como ele.

— Aceite como um retratado pela maneira que foi tratada quando chegou.

Ah, se é assim então eu aceito de bom grado esse dinheiro. Pego a nota e coloco no bolso do meu avental.

— Pensando melhor, vou te dar um cargo agora. Vai ser temporário, você começará como uma atendente, aceita?

“Controle a cara de tacho, controle a cara de tacho” — repito em meus pensamentos. Bem, é melhor do que continuar como zeladora.

— Aceito!

— Okay, vá na recepção e procure por Amanda. Vai começar agora mesmo.

— Certo — me levanto.

— Buona giornata, ragazza — “ tenha um bom dia, garota”. Mas uma vez as lembranças do meu pai, falando exatamente essas mesmas palavras, me acordando me vêm à mente.

— Anche per Il sig — “ para o senhor também” respondo em italiano.

Uma pena eu só ter aprendido algumas palavras e frases curtas.

Filippo sorrir, um sorriso largo que me faz sentir algo estranho no peito. Prendo a reposição e me ponho apressadamente para fora da sala.

Agora é hora de procurar pela Amanda.

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