Primeiros Sinais

"In a world full of temporary things, you are a perpetual feeling."

— Sanober Khan

(Tradução: "Em um mundo cheio de coisas temporárias, você é um sentimento perpétuo.")

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A noite avançava tranquila na Serra Lunar, tingida de dourado pela luz das luminárias antigas espalhadas ao longo das ruas de pedra. Um vento suave sussurrava entre as árvores altas, carregando o cheiro fresco de terra molhada.

Dentro da casa dos Duarte, o jantar terminava em meio a risadas e conversas animadas.

Mas Ayla estava quieta, absorvendo um sentimento novo: desconfiança.

Não em relação a Enzo — que, aliás, parecia genuinamente encantado com a simplicidade deles —, mas em relação ao próprio pai. Rafael nunca fora daquele jeito com seus colegas da escola, nem mesmo com antigos amigos que às vezes apareciam em casa.

Agora, parecia superprotetor demais, implicando silenciosamente com cada sorriso que Enzo dava.

Depois do jantar, Enzo insistiu em ajudar a recolher os pratos e secar a louça. Helena, divertida, comentou:

— Gentileza rara hoje em dia... — disse, lançando um olhar cúmplice para Ayla, que apenas sorriu, ainda intrigada com o humor do pai.

Pouco depois, Rafael se ofereceu para levar Enzo de volta para casa. Ayla acompanhou os dois com o olhar até que desapareceram pela varanda.

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Caminho até a casa dos Valente

Caminharam suavemente pela estrada de terra, iluminada apenas pelo feixe dos postes e pelo céu salpicado de estrelas.

— O que seus pais fazem, Enzo? — perguntou Rafael, num tom casual, mas com um olhar que examinava cada resposta.

— Atualmente são meus agentes, empresários... — respondeu Enzo, de maneira contida. — Cuidam de tudo na minha carreira.

Falou de forma superficial sobre como descobriram seu talento, omitindo as tensões familiares — Clara, principalmente, sempre o pressionara muito mais do que apoiara no início.

Rafael apenas assentiu, mas guardou a informação na mente, como se estivesse montando um quebra-cabeça invisível.

Ao chegarem à casa dos Valente, Enzo agradeceu:

— Muito obrigado, senhor Rafael, por me trazer. Vou chamar meus pais como combinamos.

— Sem problema. — respondeu Rafael, ainda avaliando o rapaz.

— Mãe, pai, cheguei. O senhor Rafael está aqui.

— Peça para ele entrar. — respondeu Daniel da sala. — Sua mãe está no telefone, mas eu converso com ele. Ela o conhecerá outro dia.

— Com quem ela fala a essa hora? — perguntou Enzo, curioso.

— Algo relacionado ao seu show em fevereiro. Vai demorar.

Enzo apresentou Rafael a Daniel. O clima era cordial, mas Rafael logo percebeu que naquela casa, tudo — até as conversas casuais — tinha um fundo de negócios.

Despediu-se de Rafael na porta com um aperto de mão firme.

Quando Clara finalmente apareceu, ajeitando os cabelos, perguntou:

— Já foi? Quem era?

— O novo vizinho. Ele parece ser um médico muito correto. — respondeu Daniel, sem entrar em detalhes. — Poderia ser útil aqui nas montanhas.

Clara lançou um olhar breve para Enzo, avaliando-o com a frieza típica de quem está sempre calculando riscos e benefícios — não sentimentos.

Ela não queria romances nem distrações nessa fase crucial. Não queria a história se repetindo. Se Enzo decidira seguir aquela trilha artística, não haveria volta — e qualquer desvio agora poderia custar caro.

— Espero que você mantenha o foco, Enzo. Estamos perto da estreia e não quero distrações. — disse ela, firme.

O estômago de Enzo apertou, mas permaneceu calado.

Daniel tentou interceder:

— Clara, ele é jovem. É natural conhecer pessoas...

— Se for só amizade, não me intrometo. — Clara cortou. — Mas fevereiro está chegando. Aproveite estas duas semanas livres. Depois, só compromissos profissionais.

Enzo respirou fundo, contendo a frustração que latejava em sua garganta.

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Mais tarde...

No quarto iluminado apenas pela luz azulada do celular, Enzo hesitou antes de mandar a primeira mensagem:

(Enzo) Seu pai chegou bem?

A resposta não demorou:

(Ayla) Sim, acabou de chegar.

Ele sorriu, sentindo o coração desacelerar um pouco.

Com coragem renovada, digitou:

(Enzo) Vamos à cachoeira amanhã?

O tempo que levou para a resposta chegar pareceu eterno.

Quando finalmente vibrou novamente, Enzo abriu imediatamente:

(Ayla) Acho que não... amanhã estaremos arrumando tudo para o Natal. Mas... se quiser ajudar, depois podemos jogar Banco Imobiliário. (risos)

Enzo soltou uma risada verdadeira — algo raro ultimamente.

Sem pensar muito, digitou:

(Enzo) Perfeito! Tenho duas semanas livres. Quero passar todos os dias com você.

Assim que apertou "enviar", o peso das palavras o atingiu.

Será que havia sido rápido demais?

Antes que pudesse se arrepender, a resposta veio como um sopro quente no coração:

(Ayla) Eu também adoraria passar essas semanas com você. Até amanhã. Durma bem.

Enzo fechou os olhos, sorrindo para o teto do quarto.

(Pensamento de Enzo)

"Talvez, pela primeira vez na vida, eu esteja vivendo algo que não foi imposto... algo que é só meu."

Lá fora, a brisa fria da serra murmurava entre as árvores, como se também guardasse o segredo que nascia entre eles.

O destino sempre encontra um jeito de unir quem deve estar junto.

E com eles... não seria diferente.

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"Quando os sinais são silenciosos, é o coração quem precisa aprender a ouvir." By: Yumi

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